Seis anos depois que o ex-governador Roberto Requião reiniciou o projeto de polícia comunitária no Paraná, o Projeto Povo (Policiamento Ostensivo Volante), um dos pilares dessa política pública, ainda não engrenou. Pelo menos, em Curitiba, além das falhas com os telefones celulares, a pouca divulgação entre a comunidade é um dos pontos negativos do sistema. Durante três dias desta semana, a população foi orientada a ligar para os telefones do Povo após os números de emergência 190 e 193 apresentaram problemas técnicos.
Para testar o sistema, que pode ser usado em momentos críticos como ocorreu, a reportagem da Gazeta do Povo ligou para todos os 79 telefones celulares do Projeto Povo de Curitiba, na tarde de ontem. Em 23 deles, nenhum policial atendeu, 18 telefones apresentaram sinal de ocupado (em mais de uma tentativa) e 37 números foram atendidos pelos policiais. Uma das ligações caiu direto na caixa postal.
Dos 37 policiais que atenderam o telefone, 36 declararam atender mais chamados do telefone de emergência 190 do que as ligações do celular do Povo. "90% dos atendimentos são via 190. O número é gratuito e o país inteiro conhece", ressalta um dos policiais que atendeu a reportagem.
O argumento do policial é quase imbatível. O próprio comandante interino do Primeiro Comando Regional, antigo Comando da Capital, tenente-coronel Ademar Cunha Sobrinho, admite. "A população tem mais lembrança do 190", afirma. O oficial lembra que o Povo não se restringe apenas ao atendimento das chamadas pelo celular. Segundo ele, visitas e a aproximação da comunidade são diretrizes também do projeto. "Mas o 190 está na cabeça de todo mundo. Estatisticamente estamos satisfeitos com o Povo", diz.
Para o presidente do Conselho Comunitário de Segurança do Bairro Alto, Marcos Murilo Holzman, os números de telefone celular devem ser mais divulgados. Em alguns momentos, segundo ele, os celulares ficam nas companhias. Um policial atende e repassa a demanda via rádio para uma viatura. "A questão é de comunicação mesmo", conta. Em uma das ligações para o celular do Povo no Centro Cívico, o telefone estava na companhia. O aparelho estava sendo carregado.
É o que ocorre com muitos dos celulares. Os aparelhos, de acordo com o próprio Sobrinho, não têm carregadores para usar nas viaturas. Os policiais, então, vão até suas bases para recarregá-los. "Esses carregadores já estão sendo providenciados", relata o tenente-coronel.
O presidente do Conseg do bairro Fazendinha, Edson Lopes, acredita que é necessário um apoio maciço da Secretaria da Segurança Pública (Sesp) para alavancar o projeto. "No começo era bom. Agora não funciona nada", comenta.
Opinião
Na avaliação do ex-comandante geral da Polícia Militar do Rio de Janeiro, coronel Ubiratan Angelo, que incentivou o modelo de polícia comunitária no estado, a necessidade de memorizar mais um número de telefone além do 190 dificulta o uso deste serviço pelas comunidades. Ele também ressalta que é importante reforçar as campanhas de divulgação do projeto, mantendo contato constante com a população. "Nas campanhas de marketing, a relação com o pronome possessivo é muito importante, como no caso de 'acione o seu policial'", afirma.
A articulação com os diversos líderes comunitários é mais uma iniciativa apontada pelo coronel que solidifica a relação de confiança entre comunidade e policiais. "As pessoas sentem-se mais íntimas da polícia recebendo a indicação de seu líder", diz.
Mesmo possibilitando agilidade na comunicação, Angelo afirma que o contato direto por meio dos telefones celulares do Projeto Povo pode trazer riscos ao trabalho dos policiais. Uma vez que o chamado para a ocorrência não passa pela central e os profissionais não comunicam os casos para o restante da corporação, fica difícil saber onde a viatura se localiza ou se há necessidade de reforços.
De acordo com o tenente-coronel Sobrinho, a divulgação dos números de telefone é boa. Ele conta que a informação já foi divulgada até em outdoors pelas comunidades. A reportagem perguntou para sete moradores de Curitiba sobre o Povo. Nenhum deles conhecia o projeto.
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