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Teleféricos vão transportar diariamente 30 mil pessoas no complexo de 12 favelas | Paulo Araújo/Agência O Dia
Teleféricos vão transportar diariamente 30 mil pessoas no complexo de 12 favelas| Foto: Paulo Araújo/Agência O Dia

Complexo terá posto da polícia pacificadora

Para evitar o risco de sofrer o mesmo revés de Medellín, o governo do Rio pretende instalar uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no Complexo do Alemão. "Primeiro virá escola, saúde, esporte e trabalho, para depois entrarmos com segurança. Sem a forte presença da polícia, os investimentos sociais ficam incompletos", diz o vice-governador e secretário de Obras, Luiz Fernando Pezão, um dos condutores das intervenções.

Hoje instaladas em seis favelas do Rio, as UPPs têm o objetivo de ocupar territórios dominados por traficantes e milícias com policiais comunitários. Ainda não existe um prazo para a chegada da UPP no Ale­mão. Mas a reportagem apurou que isso deve ocorrer em 2011. Por causa dos diálogos permanentes entre as partes, incluindo os traficantes, o assunto é tratado com cuidado.

Rio de Janeiro - Na Rua da Grota, principal acesso ao Complexo do Alemão, conjunto de 12 favelas no Rio onde vivem 170 mil moradores, em vez das barricadas erguidas por traficantes para impedir a entrada do Caveirão, blindado da polícia que cospe fogo para todos os lados, existem entulhos de casas que foram desocupadas para o alargamento da rua. No Largo do Coqueiro, em cima do morro, a Igreja Batista ainda tem paredes e vitrais marcados pelas balas da operação policial ocorrida em 2007, que deixou 19 mortos. Mas o ambiente mudou no cume da Montanha do Itararé.

Na quinta-feira, um canteiro de obras funcionava a todo vapor, com mais de 100 pessoas trabalhando em turnos seguidos para conseguir entregar até setembro as cinco estações planejadas do teleférico que levará 30 mil pessoas diariamente num percurso que sai do asfalto e passa pelas cinco montanhas que formam o Com­­plexo do Alemão.

Inspirado em programas desenvolvidos na cidade colombiana de Medellín, com orçamento de R$ 750 milhões, quase metade vinda do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o governo do Rio finaliza atualmente um pacote de investimentos sociais que pretende transformar a região. Além do teleférico, que custará R$ 172 milhões, serão construídas escolas, um centro cívico, parques, residências e ruas comerciais, entre outras obras que consumiram R$ 389 milhões.

Apesar dos investimentos sociais feitos em Medellín, os homicídios voltaram a crescer 177% nos últimos dois anos. O repique da violência ocorreu depois da extradição para os Estados Unidos do chefe da Oficina de Envigado, Diego Murillo, conhecido como Don Berna, cuja ausência provocou um racha e disputas pelo poder.

Trégua no morro

No Rio, para tornar viáveis os investimentos em uma das áreas mais conflituosas da cidade, uma complexa engenharia social vem sendo montada com a participação de entidades da sociedade civil, que fazem a intermediação de interesses do governo, comunidade e traficantes. Dessa forma, ajudam a manter em trégua a região do Complexo do Alemão.

A partir dessas conversas, os traficantes se comprometem a não atrapalhar as obras. Como não há confusão, os policiais não sobem o morro e as empreiteiras podem cumprir seus prazos sem grandes percalços. "Todos querem as obras aqui na comunidade, inclusive os traficantes, que têm familiares e amigos no Alemão. Por isso os trabalhos estão seguindo bem", explica o coordenador executivo do AfroReggae, José Júnior, pe­­ça-chave na mediação entre as partes.

Quando existem dificuldades com traficantes ou moradores, integrantes do AfroReggae e líderes comunitários são chamadas para interceder. "Quando isso acontece, a gente desenrola. Mas atualmente tudo está tranquilo porque não tem mais operação policial. Sem operação, não tem morte", diz o funcionário de apoio Jonas Fonseca, de 35 anos.

No dia 7 de fevereiro, no entanto, três operários da empresa Lafarge foram assassinados no Morro da Fazendinha quando seguiam para o trabalho. As obras não fazem parte dos investimentos do PAC e o crime não teve grandes repercussões no andamento dos trabalhos. A polícia apurava se o crime foi cometido por traficantes ou policiais.

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