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Ao chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso, o titular da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), Alessandro Thiers, negou que a conversa via app seja real. | Tomaz Silva/
Agência Brasil
Ao chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso, o titular da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), Alessandro Thiers, negou que a conversa via app seja real.| Foto: Tomaz Silva/ Agência Brasil

Em uma conversa num grupo de Whatsapp composto por cinco delegados, o titular da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), Alessandro Thiers, desqualificou os depoimentos da adolescente de 16 anos vítima de estupro no morro da Barão, no Rio.

Thiers era o responsável pela investigação do caso até ser afastado neste domingo (29), depois que a então advogada da vítima, Eloísa Samy, o acusou de “machismo” e de constranger a adolescente durante o depoimento.

Também pesou contra o delegado a demora para pedir a prisão dos suspeitos. O chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso, decidiu afastá-lo do caso e concentrou as investigações sob a liderança de Cristiana Bento, da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima.

A troca de mensagens foi revelada pelo jornal Extra e sua veracidade foi confirmada pela Folha de S.Paulo. Nela, Thiers compara o depoimento que colheu da adolescente, na sexta (27), com a entrevista que ela deu ao Fantástico, no domingo (29). “No Fantástico era outra pessoa. Sabe que temos fortes indícios de que não existiu estupro”, escreveu o delegado.

Ele também sugere que a cena narrada pela jovem na TV, no qual ela afirmou que havia “um menino embaixo de mim, um menino em cima e dois me segurando”, se referia a um episódio do passado, não ao acontecido no sábado (21). “O relato de abuso que ela fala no Fantástico, ela relata que foi há tempos atrás e inclusive que os autores não foram mortos pelo chefe do tráfico local (Da Russa) por pedido da adolescente. O único crime seria a divulgação do vídeo.”

A jovem, no entanto, negou no programa de TV que já tivesse sofrido violência sexual antes. Ela também acusou o delegado de tentar culpá-la. “Tinha três homens dentro de uma sala de vidro. Ele [o delegado] botou na mesa as fotos e o vídeo, expôs e falou, ‘conta aí’. Não perguntou se eu estava bem, se eu tinha proteção. Perguntou se eu tinha costume de fazer isso, se eu gostava de fazer isso. Parei [de responder] imediatamente”, disse a jovem.

Thiers também dá outro contexto a uma das frases ditas por um dos homens que participaram da gravação do vídeo do estupro, atribuindo-a a um funk. “O autor do vídeo diz que engravidou mais de 30 em alusão ao funk, para tirar onda de ‘comedor’.”

Por fim, o delegado diz que a então advogada da vítima, Eloísa Samy, pediu que ela parasse de responder às perguntas quando começou a ser questionada sobre suas relações com os traficantes da área. “Diversas pessoas, inclusive a própria adolescente, confirmaram que a mesma frequentava a comunidade da Barão, inclusive com contato direto e íntimo com traficantes da área.”

A divulgação das mensagens dirigidas ao grupo de delegados causou grande constrangimento entre os integrantes. Segundo a reportagem apurou, entre eles está o chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso, que negou a veracidade da conversa. “Conversei com ele [Thiers] e ele disse que não é real”, afirmou o delegado à reportagem. Procurado, o delegado da DRCI não comentou.

A reportagem também tentou contato com Eloísa Samy e com a Defensoria Pública, que assumiu a defesa da adolescente, mas não as encontrou.

Evidência

Nesta segunda-feira (30), a delegada Cristiana Bento, que assumiu no domingo (29) as investigações do caso do estupro da adolescente de 16 anos, afirmou não ter dúvida de que o crime aconteceu. “A minha convicção a é de que houve estupro. Está lá no vídeo, que mostra um rapaz manipulando a menina. O estupro está provado. O que eu quero agora é verificar a extensão desse estupro, quantas pessoas praticaram esse crime”, disse a delegada.

A investigação teve início após um vídeo da jovem, nua e desacordada, ser postado em redes sociais na terça (24). Na gravação, um grupo de homens, em meio a risadas, toca nas partes íntimas da garota e diz que ela foi violentada por “mais de 30”. Em 2009, a lei 12.015 foi alterada e passou a considerar, além da conjunção carnal, atos libidinosos como crime de estupro.

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