Em uma conversa num grupo de Whatsapp composto por cinco delegados, o titular da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), Alessandro Thiers, desqualificou os depoimentos da adolescente de 16 anos vítima de estupro no morro da Barão, no Rio.
Thiers era o responsável pela investigação do caso até ser afastado neste domingo (29), depois que a então advogada da vítima, Eloísa Samy, o acusou de “machismo” e de constranger a adolescente durante o depoimento.
Também pesou contra o delegado a demora para pedir a prisão dos suspeitos. O chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso, decidiu afastá-lo do caso e concentrou as investigações sob a liderança de Cristiana Bento, da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima.
A troca de mensagens foi revelada pelo jornal Extra e sua veracidade foi confirmada pela Folha de S.Paulo. Nela, Thiers compara o depoimento que colheu da adolescente, na sexta (27), com a entrevista que ela deu ao Fantástico, no domingo (29). “No Fantástico era outra pessoa. Sabe que temos fortes indícios de que não existiu estupro”, escreveu o delegado.
Ele também sugere que a cena narrada pela jovem na TV, no qual ela afirmou que havia “um menino embaixo de mim, um menino em cima e dois me segurando”, se referia a um episódio do passado, não ao acontecido no sábado (21). “O relato de abuso que ela fala no Fantástico, ela relata que foi há tempos atrás e inclusive que os autores não foram mortos pelo chefe do tráfico local (Da Russa) por pedido da adolescente. O único crime seria a divulgação do vídeo.”
A jovem, no entanto, negou no programa de TV que já tivesse sofrido violência sexual antes. Ela também acusou o delegado de tentar culpá-la. “Tinha três homens dentro de uma sala de vidro. Ele [o delegado] botou na mesa as fotos e o vídeo, expôs e falou, ‘conta aí’. Não perguntou se eu estava bem, se eu tinha proteção. Perguntou se eu tinha costume de fazer isso, se eu gostava de fazer isso. Parei [de responder] imediatamente”, disse a jovem.
Thiers também dá outro contexto a uma das frases ditas por um dos homens que participaram da gravação do vídeo do estupro, atribuindo-a a um funk. “O autor do vídeo diz que engravidou mais de 30 em alusão ao funk, para tirar onda de ‘comedor’.”
Por fim, o delegado diz que a então advogada da vítima, Eloísa Samy, pediu que ela parasse de responder às perguntas quando começou a ser questionada sobre suas relações com os traficantes da área. “Diversas pessoas, inclusive a própria adolescente, confirmaram que a mesma frequentava a comunidade da Barão, inclusive com contato direto e íntimo com traficantes da área.”
A divulgação das mensagens dirigidas ao grupo de delegados causou grande constrangimento entre os integrantes. Segundo a reportagem apurou, entre eles está o chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso, que negou a veracidade da conversa. “Conversei com ele [Thiers] e ele disse que não é real”, afirmou o delegado à reportagem. Procurado, o delegado da DRCI não comentou.
A reportagem também tentou contato com Eloísa Samy e com a Defensoria Pública, que assumiu a defesa da adolescente, mas não as encontrou.
Evidência
Nesta segunda-feira (30), a delegada Cristiana Bento, que assumiu no domingo (29) as investigações do caso do estupro da adolescente de 16 anos, afirmou não ter dúvida de que o crime aconteceu. “A minha convicção a é de que houve estupro. Está lá no vídeo, que mostra um rapaz manipulando a menina. O estupro está provado. O que eu quero agora é verificar a extensão desse estupro, quantas pessoas praticaram esse crime”, disse a delegada.
A investigação teve início após um vídeo da jovem, nua e desacordada, ser postado em redes sociais na terça (24). Na gravação, um grupo de homens, em meio a risadas, toca nas partes íntimas da garota e diz que ela foi violentada por “mais de 30”. Em 2009, a lei 12.015 foi alterada e passou a considerar, além da conjunção carnal, atos libidinosos como crime de estupro.
Governo Lula cobra fatura de aliança com Lira nesta última semana do Legislativo
PF busca mais indícios contra Braga Netto para implicar Bolsonaro em suposto golpe
Não é só nos EUA: drones sobrevoam base da Força Aérea americana e empresas estratégicas na Alemanha
Juiz de Brasília condena Filipe Martins por suposto “gesto racista” em sessão do Senado
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora