O Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc) rejeitou a proposta de reajuste de 3,81% nos salários apresentada na tarde desta quinta-feira (16) em reunião com o Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba (Setransp). A negativa foi feita ainda na mesa de negociação na Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Paraná, o que significa que ela não será nem mesmo levada à categoria.
Além do aumento que corresponde a 70% da inflação acumulada nos últimos 12 meses, o sindicato das empresas propôs ainda o congelamento do anuênio e o corte do abono salarial dos funcionários. De acordo com o presidente do Sindimoc, Anderson Teixeira, a oferta foi rechaçada por não corresponder às necessidades e à realidade dos motoristas e cobradores. Uma nova discussão foi agendada para a próxima quarta-feira (22), às 14h.
A categoria pede um reajuste de 15%, além da equiparação dos vales-refeições com aquilo que é oferecido aos funcionários da Urbs. Atualmente, quem trabalha no sistema de transporte recebe cerca de R$ 500 para alimentação, enquanto os funcionários do órgão municipal têm direito a R$ 977 . “Com o reajuste que nos foi oferecido, esse aumento no vale é de apenas R$ 19”, afirma Teixeira.
O Setransp alega que o salário dos motoristas de ônibus de Curitiba já é o segundo maior do Brasil, com o valor da hora trabalhada em R$ 12,23. Por meio de nota, as empresas afirmam que, entre 2009 e 2017, o valor pago aos trabalhadores subiu 86%, enquanto a inflação no período foi de 65,71%.
O sindicato dos motoristas e cobradores pediu também a garantia da data-base por mais 30 dias, para que seja possível manter as negociações. “A definição dos salários deveria acontecer até o dia 28 [de fevereiro], mas é semana de carnaval. Então teríamos de chegar a uma conclusão até a semana que vem e estamos bem longe disso”, diz o presidente do Sindimoc. Com essa garantia, mesmo que a negociação avance para março, o reajuste seria retroativo também ao mês de fevereiro. A expectativa é de que o Setransp responda à solicitação já nesta sexta-feira.
A Urbs e a Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec) foram convidadas para participar da reunião, mas não compareceram à audiência. De acordo com a assessoria de imprensa de ambos os órgãos, essa é uma negociação entre patrões e empregados e, portanto, não havia necessidade da presença.
Impacto na tarifa
A reunião entre sindicatos de trabalhadores e empresas acontece em meio à polêmica envolvendo a tarifa do transporte público em Curitiba e se torna peça-chave para a definição da tarifa-técnica, aquela que é repassada pela Urbs às empresas. Assim, o resultado dessas negociações impacta diretamente o quanto os passageiros pagam ao embarcar nos ônibus da capital.
A Setransp afirma que 54% da tarifa paga pelos usuários corresponde ao pagamento dos salários dos 15 mil funcionários. Desse modo, um reajuste mais elevado teria reflexos diretos na tarifa-técnica e, por consequência, também na social.
Já para o Sindimoc, o pedido de aumento correspondente a quase três vezes o valor da inflação de 2016 (5,43%) se justifica pela defasagem que a categoria teve ao longo dos últimos anos. “Entre 2000 e 2010, chegamos a ter até mesmo deflação. Então é uma recomposição salarial. Pedimos aquilo que não ganhamos no passado”, explica Teixeira.
Outro ponto usado pelo presidente do Sindimoc para fundamentar o pedido dos motoristas e cobradores é o aumento na tarifa que já foi feito em Curitiba. No último dia 6 de fevereiro, a prefeitura elevou a passagem de R$ 3,70 para R$ 4,25 — um reajuste de quase 15%. “Se é R$ 4,25 pela passagem, nada mais lógico do que levar esses 15% para os trabalhadores. Se realmente subiu isso, justifica a nossa demanda”, assinala.
Paralisação
Embora considere que ainda é cedo para pensar em uma paralisação da categoria, Teixeira não descarta a possibilidade de motoristas e cobradores cruzarem os braços. “Tudo vai depender da garantia da data base. Se não tiver isso, provavelmente teremos que mudar nossas estratégias”, afirma o presidente. Segundo ele, esse prazo de 30 dias a mais oferece mais tempo de negociação e empurra a possibilidade de greve para o futuro.
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