Para quem tem alergia alimentar, saber quais são os ingredientes presentes em determinado produto não é uma questão de acesso à informação, mas de segurança. Os alérgicos, porém, começam agora uma nova etapa: após um prazo de um ano para adequação, bebidas e alimentos industrializados terão de chegar às gôndolas contendo dados sobre a presença de alergênicos, como castanhas, crustáceos e leite, por determinação de uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A medida passou a valer no sábado (1).
Durante anos, famílias lutaram para evitar reações alérgicas, principalmente em crianças. A leitura dos rótulos e a tentativa de decifrar as pequenas letras e os termos técnicos foram por muito tempo um desafio para a administradora Helena Colonelli, de 38 anos.
O filho João Pedro, de 6 anos, é alérgico a leite desde que nasceu, mas ela só teve o diagnóstico quando iniciou o processo de desmame, quando ele tinha 7 meses. “Ele teve uma reação de pele e achei que ele iria morrer, porque estava todo deformado. No hospital, me ensinaram a identificar que era só uma reação. Fizemos exames de sangue, e ele era alérgico a leite.” Helena diz que, no início, as reações surgiam apenas na pele, mas passaram a ser respiratórias. E não só os alimentos traziam risco. “Ele já teve alergia a um produto de higiene pessoal que tinha leite na fórmula.”
A administradora conta que, mesmo antes do começo da vigência da resolução, tem notado mudanças quando vai ao supermercado. “Percebo uma mudança muito forte, uma melhora na informação. O que antes vinha em letras pequenas e termos técnicos está vindo de forma mais clara. Até em produtos óbvios, como uma caixa de leite que informa: ‘Alérgicos, contém leite’. As indústrias estão se adequando.”
A publicitária Daisy de Castro Alves, de 45 anos, também já encontrou dificuldades ao comprar produtos para o filho Pedro, de 4. Ela só descobriu em janeiro do ano passado que ele tem alergia a leite. O diagnóstico foi obtido depois que a criança teve quatro episódios de pneumonia. “A reação dele se acumula e se transforma em uma pneumonia. Tiramos o leite da vida dele e nunca mais o Pedro teve alergia.”
Daisy diz que, antes de a campanha para que os rótulos se tornassem mais claros ter início, fazer compras era uma longa missão. “Ficava muito mais tempo no supermercado. Minha nutricionista me ajudou muito, porque eu fotografava o rótulo e mandava para ela. Também ligava para o SAC das empresas. Informação é tudo na vida e, quando você tem segurança do que está comprando, fica feliz.”
Um dos movimentos mais atuantes para o estabelecimento da nova regra foi o Põe no Rótulo, que reúne familiares de alérgicos. Mãe de Rafael, de 4 anos, a advogada Cecilia Cury, de 36, uma das coordenadoras do projeto, diz que muitas famílias serão poupadas de agressivos processos alérgicos com a mudança.
“A gente já tem percebido mudança. Já me emocionei no mercado ao ver produtos que foram causadores de reação no meu filho. Se tivesse informação há três ou quatro anos, não teria passado por dramas sem necessidade.” Cecília alerta os pais para terem cuidado durante o período em que produtos fabricados antes e depois da resolução serão vendidos juntos.
Pela resolução, 17 tipos de alimentos devem ser citados nos rótulos caso estejam presentes nos produtos. Segundo a Anvisa, estima-se que, no País, de 6% a 8% das crianças com menos de 6 anos de idade tenham alguma tipo de alergia e que a alternativa contra reações é evitar certos alimentos.
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