Dificuldades do sistema
Um socorrista do Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência (Siate) que pediu anonimato explica que os três principais hospitais que fazem parte da rede hospitalar da capital são o Hospital Cajuru, o Hospital Evangélico e o Hospital do Trabalhador. Segundo o profissional, a paralisação de atendimento do Evangélico prejudica o trabalho dos socorristas. "As vagas já são poucas. Com uma emergência a menos, o número de leitos fica ainda mais reduzido", confidencia.
Para Edison Teixeira, diretor-médico do Siate da capital, as 48 horas de paralisação do PS do Evangélico trazem algumas dificuldades, como deslocamentos maiores até outros hospitais, mas não configuram uma crise do sistema. De acordo com Teixeira, o tempo de deslocamento até outras instituições não se alterou significativamente com o fechamento da emergência da entidade.
Ele esclarece que o tempo de socorro é imprescindível para o salvamento, mas nem sempre o hospital mais próximo é o hospital que terá as melhores condições de dar continuidade ao tratamento de que o paciente necessita. "Seguimos o protocolo e sempre tentamos combinar três elementos principais na escolha do hospital: distância do local do acidente, perfil técnico da instituição de saúde e disponibilidade de leitos", afirma o diretor-médico do Siate.
Segundo Teixeira, o Siate realiza de 60 a 90 atendimentos por dia. Ele não soube dizer, porém, quantas pessoas desse total são encaminhadas diariamente para o Evangélico.
O Hospital Evangélico de Curitiba deixa de atender uma média de 137 pessoas por dia no Pronto-Socorro (PS) desde a suspensão provisória do atendimento de novos pacientes anunciada na última terça-feira (25). A estimativa é da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba, que calculou os atendimentos da emergência do hospital com base em dados do mês de outubro deste ano. A assessoria de imprensa da entidade não confirmou o número, mas também não soube precisar quantos novos atendimentos são feitos em média por dia no hospital.
Com a interrupção dos serviços, os demais hospitais de Curitiba e Região Metropolitana continuam a receber pacientes sem restrições, mas trabalham acima de sua capacidade operacional. O Hospital do Trabalhador registrou um aumento de 20% no número de atendimentos da emergência. No Hospital Cajuru, os atendimentos do Pronto-Socorro pularam de uma média de 150 para 196 por dia, somando um crescimento de 30% do dia para a noite. Já o Hospital Angelina Caron, em Campina Grande do Sul, viu seu movimento no PS aumentar 20%. Até as 18h30 desta quarta-feira (26), o Hospital e Maternidade Nossa Senhora do Rocio, em Campo Largo, não havia respondido às questões da reportagem.
A prefeitura de Curitiba informa que os pacientes com problemas de saúde de baixa complexidade que procuram o Evangélico são encaminhados para as Unidades de Ponto Atendimento (UPAs). O tempo médio de espera para atendimento nesta quarta girou em torno de três a quatro horas, quando o normal seria aguardar apenas uma hora para o devido serviço médico. O Evangélico ressalta, porém, que pacientes em estado gravíssimo estão sendo atendidos e somente casos de pequena e média complexidade são enviados para outros locais.
Ultimato de 24 horas
Apesar da interrupção dos serviços do hospital, a Secretaria Municipal de Saúde afirma que a maternidade da instituição e os serviços de queimados foram parcialmente reabertos. Mas ela não sabe pontuar quantos novos encaminhamentos de queimados e de maternidade foram feitos à entidade a partir desta quarta.
A prefeitura deu um ultimato de 24 horas para que a direção do Evangélico apresente um plano de ação para resolver os problemas de falta de suprimentos. Se a entidade não apresentar nenhum plano para normalizar a situação, ainda segundo a prefeitura, o hospital corre o risco ser penalizado com a redução dos repasses do Sistema Único de Saúde (SUS), já que não está prestando atendimento.
Caso a paralisação de atendimento do Evangélico persista por mais alguns dias, a prefeitura diz não ter um plano B na manga, pois cabe à rede dar conta da demanda. Procurada pela reportagem, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) frisou que, apesar de administrar o Hospital do Trabalhador, a responsabilidade pelo funcionamento da rede da cidade é unicamente da prefeitura de Curitiba.
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