Depois do Uber, aplicativo de carona remunerada amplamente criticado pelos taxistas — e não regulamentado pela prefeitura —, outra polêmica deve envolver o transporte na cidade. Está prevista para setembro a chegada do aplicativo Fleety, desenvolvido por um empresa curitibana que vislumbrou uma nova possibilidade de car sharing. Com a nova ferramenta para celular, qualquer carioca poderá oferecer seu carro para locação.
O serviço, já presente em São Paulo e Curitiba, funciona da seguinte forma: ao chegar a um local, o motorista, em vez de deixar seu veículo estacionado, dá um clique e o oferece para locação. O interessado retira o automóvel e o devolve em um lugar combinado, pagando um preço pré-definido.
Idealizado pelo engenheiro eletrônico André Marim, de 29 anos, junto com dois colegas da Universidade de São Paulo (USP), o projeto se baseia no conceito de carsharing, expressão em inglês que significa compartilhamento de carros. Marim explica que o aplicativo é diferente do Uber, já que sua empresa faz apenas a intermediação do serviço.
“É uma novidade, e toda novidade causa certo burburinho. Mas a empresa está totalmente legal”, garante.
Desde 2014
A Secretaria municipal de Transportes não quis comentar o assunto, pois não foi contatada pela empresa.
A operação do Fleety começou em setembro do ano passado em Curitiba. Em fevereiro, chegou a São Paulo. Na expectativa de firmar o serviço no Rio, o empresário pretende expandi-lo para outras cidades brasileiras. “O nosso crescimento depende muito mais de uma questão de mercado que de instalação física. O que precisamos é de uma estrutura tecnológica, o que já temos”, diz.
Todos os carros, de acordo com ele, ficam segurados por uma apólice do Fleety: em caso de acidentes, roubos, incêndios, inundações ou panes, o usuário paga uma franquia.
Atualmente, segundo Marim, são aproximadamente 5,7 mil usuários e 550 veículos cadastrados em todo o país. Destes, 85% se concentram nas duas cidades onde o Fleety já está em operação. Os 15% restantes são de usuários de outros locais, inclusive do Rio. Segundo a empresa, 75% dos clientes são homens e a maioria tem idade entre 25 e 30 anos.
Taxas
O corretor de imóveis Clébio Goulart, de 54 anos, aluga seu Honda Fit desde fevereiro. Ele diz que, cobrando R$ 8 a hora, consegue uma renda mensal média de R$ 500.
“Como sei que o carro está segurado, não tenho receio de alugá-lo”, conta Goulart, adiantando que já pensa em comprar outro automóvel em breve.
Os valores cobrados por hora de locação variam de R$ 7 a R$ 50, dependendo do veículo e da condição de conservação dele. Já a diária custa de R$ 56 a R$ 400. O Fleety cobra 20% de comissão.
Apenas carros com menos de dez anos de uso e sem restrições junto ao Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) podem ser cadastrados. Além disso, os usuários do sistema devem apresentar o número da Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
O abastecimento é de responsabilidade do locatário, que deve usar um cartão enviado a todos os cadastrados. Por ele, o Fleety trabalha com um sistema de reembolso: se o tanque for entregue vazio ao dono do veículo, a empresa repõe o que foi gasto. Caso o carro seja devolvido com combustível a mais, o valor é debitado do mesmo cartão.
As multas também são de responsabilidade do condutor, e o monitoramento é feito pelo Fleety, que alega só ter registrado uma infração até hoje, por excesso de velocidade, em São Paulo.
Prestes a se tornar a terceira cidade a receber o serviço de compartilhamento, o Rio poderá ter uma frota de carros elétricos disponíveis no aplicativo. Ricardo Machado, CEO do DirijaJá e parceiro do Fleety na iniciativa, diz que a intenção é colocar 20 veículos para aluguel, fabricados pela chinesa BYD. Gradativamente, ele pretende chegar a 400.
Ideia é pôr frota de veículos elétricos chineses à disposição
Em outra frente, a prefeitura trabalha para implantar o projeto Carro Elétrico Carioca, que consiste num sistema público de carsharing, semelhante ao que é feito com as bicicletas. Até o dia 23 de agosto, o consórcio Radar PPP, formado por seis empresas, deve entregar um estudo de viabilidade encomendado pela Secretaria Especial de Concessões e Parceiras Público-Privadas (Secpar). Se a pesquisa concluir que o serviço é viável, a prefeitura discutirá se vai abrir uma licitação para conceder a exploração dos carros, como foi feito com as “laranjinhas” do Bike Rio.
O coordenador de Estruturação de Projetos da Secpar, Ricardo Silva, explica que o estudo de viabilidade precisa seguir algumas regras estipuladas no Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI), vencido pela Radar PPP. Entre os pré-requisitos estão a necessidade de que o preço seja acessível ao consumidor, que haja oferta de trajetos curtos e longos, que os carros sejam estacionados em vagas públicas com uma estação de recarga e que não precisem ser devolvidos no mesmo ponto onde foram retirados.
A PMI ainda prevê que a implantação seja inteiramente bancada pela iniciativa privada, que receberá o serviço sob forma de concessão, com período ainda não definido.
“Não vai ter subsídio da prefeitura no projeto, como acontece em outras cidades fora do Brasil. Não vamos investir nisso por dois motivos: os recursos estão voltados para investimentos na cidade, visando às Olimpíadas; e entendemos que não faz sentido usarmos no sistema dinheiro que é necessário para áreas mais urgentes”, justifica Silva.
Em Recife, um serviço semelhante ao planejado para o Rio funciona desde dezembro passado em caráter experimental. São quatro veículos, para dois lugares, que circulam dentro do parque tecnológico do Porto Digital. O sistema atende cem trabalhadores do local, que se deslocam, na maioria dos casos, dentro do próprio parque e deixam os veículos em qualquer uma das quatro estações. O serviço custa R$ 30 por mês, enquanto a corrida sai por R$ 20. Se for com carona, o valor cai pela metade. O preço é menor do que o cobrado em operação comercial.
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