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Em duas assembleias, ontem, motoristas e cobradores aprovaram greve a partir de terça-feira (1º). | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Em duas assembleias, ontem, motoristas e cobradores aprovaram greve a partir de terça-feira (1º).| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

O sistema de transporte público de Curitiba e da Região Metropolitana termina o ano como começou: sob a ameaça de uma paralisação e com empresários reclamando de dificuldades financeiras. Na sexta-feira (27), motoristas e cobradores aprovaram um indicativo de greve que deve ser deflagrada na terça-feira (1.º) caso não haja um acordo entre a categoria e empresários até lá. O motivo é o aviso das empresas de que não há dinheiro para o pagamento do 13.° no próximo dia 30 e de que os salários de dezembro e janeiro vão atrasar, além da demissão de 2 mil trabalhadores que operam as linhas urbanas da capital.

As empresas estão querendo ganhar [aumento de tarifa] (...), estão usando os trabalhadores para isso.

Roberto Gregório da Silva Junior, presidente da Urbs.

Na segunda-feira (30), empresários e trabalhadores têm uma audiência no Ministério Público do Trabalho para tentar buscar uma solução para o impasse e impedir uma paralisação do sistema. De acordo com a assessoria do Sindimoc, nas linhas metropolitanas vão parar os ônibus das empresas que não pagarem o 13.º. Em Curitiba, vão parar todas as linhas dos consórcios que tiverem empresas inadimplentes com os trabalhadores.

O presidente da Urbs, Roberto Gregório da Silva Junior, esteve reunido no fim da tarde de sexta (27) com representantes do Setransp – sindicato das empresas de transporte – para tratar do assunto. Antes da conversa. Gregório afirmou à reportagem que vê a ação das empresas como uma forma de pressionar a prefeitura a aumentar a tarifa técnica, hoje fixada em R$ 3,21. Os empresários pediam o valor de R$ 3,40.

Faltando três meses para a nova tarifa, as empresas devem fazer de tudo para conseguir esses R$ 0,19 – diferença entre o que elas pediram e o que a prefeitura concedeu. Caso contrário, correm o risco de ver esse valor ser empurrado para a nova data-base de renovação da tarifa, que ocorre em fevereiro de 2016. No mesmo mês, motoristas e cobradores discutem o reajuste salarial, que tem ocorrido sempre acima da inflação nos últimos anos.

“As empresas estão querendo ganhar, no nosso entendimento, através de um instrumento de pressão. Esse instrumento é típico, estão usando esse esforço para ter aumento na tarifa técnica, estão usando os trabalhadores para isso”, afirmou Gregório, que também fez críticas à gestão das empresas. “O que precisamos é de empresas que se profissionalizem e estejam na vanguarda das ações e não simplesmente fiquem esperando reajuste de tarifa para aumentar os seus lucros.”

Procurada pela reportagem, a assessoria da Setransp preferiu não se pronunciar sobre o indicativo de greve. As negociações entre as partes devem continuar durante o fim de semana.

Colaborou Caroline Olinda

O histórico de 2015

O ano foi de incertezas para os usuários do transporte de Curitiba e os trabalhadores do setor:

Janeiro - No dia 9, a Praça Nossa Senhora de Salete, no Centro Cívico, foi transformada em estacionamento para ônibus do transporte coletivo de Curitiba e região metropolitana. A ação fez parte de uma paralisação convocada pelo Sindimoc e, durante quatro horas, deixou os usuários de ônibus a pé. Para tentar impedir a greve, a prefeitura de Curitiba depositou, em caráter emergencial, R$ 3,8 milhões no Fundo de Urbanização de Curitiba (FUC). O dinheiro foi utilizado para pagar parte da dívida acumulada com as empresas de ônibus. Em 26 de janeiro, o sistema parou por completo. Diante do atraso no pagamento do adiantamento salarial de 40%, previsto para o dia 20 de janeiro, o Sindimoc convocou greve geral. A paralisação durou quatro dias. No dia 30, a Comec anunciou o fim da integração financeira com o sistema urbano.

Março - O Sindimoc apresentou novo indicativo de greve por não haver acordo em relação ao reajuste salarial de 2015. Após acordo entre trabalhadores e empresários, o indicativo foi retirado.

Junho - Os trabalhadores voltaram a apresentar um indicativo de greve e atrasaram a saída dos ônibus na manhã de 16 de junho. Eles denunciaram uma suposta perseguição a dirigentes sindicais e o descumprimento de pontos da convenção coletiva de trabalho.

Setembro - Motoristas e cobradores de linhas de ônibus que passavam pelo terminal Santa Cândida cruzaram os braços no dia 21 em protesto contra o não recebimento do vale (antecipação salarial de 40%). No terminal do Boqueirão também houve bloqueio parcial. Com três dias de atraso, os vales foram pagos por todas as empresas e uma greve geral foi descartada. No mesmo mês, a Urbs definiu a tarifa técnica para 2015 em
R$ 3,21. O aumento de R$ 0,28 ficou abaixo do que era pedido pelo Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região (Setransp), que solicitava uma tarifa de R$ 3,40.

Outubro - Novamente, os motoristas e cobradores cruzaram os braços em protesto pelo atraso no pagamento do adiantamento salarial. O ato ocorreu durante a madrugada e mais um indicativo de greve foi aprovado. A ameaça foi descartada após os pagamentos.

Novembro - Pelo terceiro mês seguido, os trabalhadores aprovaram um indicativo de greve. Dessa vez, porém, a intenção foi prevenir um possível atraso no pagamento dos adiantamentos salariais. O vale foi pago, mas logo depois, no dia 25, o Sindimoc, recebeu dois ofícios das empresas informando que o 13º da categoria não seria pago no dia 30 e que os salários de dezembro e janeiro também teriam atrasos. Na sexta (27), a categoria aprovou, então, uma greve geral. Se não houver acordo, a paralisação começará na terça (1º de dezembro).

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