As empresas de ônibus que operam em Curitiba e região metropolitana devem cumprir a ordem do Tribunal Regional do Trabalho do Paraná (TRT-PR) e manter, hoje, parte de sua frota nas ruas. Ontem, a Justiça determinou que, nos horários de pico (entre as 6 e 8 horas, e entre as 17 e 19 horas), pelo menos 50% dos veículos que cobrem cada linha (1.325 ônibus) estejam rodando. Nos demais horários, 30% dos coletivos (607 ônibus) devem circular.
A Urbanização Curitiba S/A (Urbs), responsável pela gestão do sistema de transporte, encaminhou às empresas de ônibus uma programação, informando o número de veículos de cada linha que deveriam ser mantidos em operação. Com a planilha em mãos, a expectativa do advogado das empresas, Carlos Roberto Ribas Santiago, era de que o Sindicato dos Motoristas e Cobradores (Sindimoc) liberasse os trabalhadores para retornarem ao trabalho.
No fim da tarde de ontem, os primeiros ônibus começaram a deixar as garagens. Segundo a última contagem, feita pela Urbs às 19h15, havia 119 veículos do transporte coletivo circulando. A principal dificuldade das empresas era que os motoristas e cobradores não conseguiam chegar às sedes para retornar ao trabalho.
"A princípio, [hoje] tudo será mais tranquilo", avaliou Flávio Ferreira Júnior, que controlava a operação da Auto Aviação Marechal. "Acho que é possível cumprir integralmente [a decisão judicial, hoje]", disse o sócio da empresa Cidade Sorriso, Maurício Gulin.
Na garagem da Marechal, os motoristas e cobradores que voltaram ao trabalho enfrentaram hostilizações por parte de colegas que mantinham piquetes no lado de fora da empresa. Os ônibus deixavam o local ao som de vaias e de gritos, como "baba ovo" e "puxa-saco do patrão". As empresas também repassaram ao TRT-PR denúncias de excessos cometidos pelos grevistas. Dois ônibus teriam sido depredados.
Lotações
A Urbs também manteve o esquema de veículos alternativos "lotações" para amenizar os efeitos da greve. Até o fim da tarde de ontem, mais de 260 veículos estavam cadastrados. Apesar de poderem cobrar, no máximo, R$ 6, houve denúncias de condutores que pediam R$ 9. Motoristas clandestinos também foram identificados.
Colaboraram Rafael Waltrick, Carlos Guimarães Filho, Angieli Maros, Antônio Senkovski e Fábio Cherubini.
Comércio abriu tarde e lojas ficaram vazias
Pedro Brodbeck
A paralisação do transporte público deixou grande parte do comércio de Curitiba às moscas ontem. Sem clientes e com poucos funcionários à disposição, o dia foi considerado perdido pelos empresários do setor. A região central foi a mais afetada da cidade. Sem a quantidade mínima de ônibus rodando, as lojas, que tradicionalmente abrem por volta das 9 horas, adiaram o início das atividades até que tivessem funcionários suficientes para operar.
Na Magazine Luíza da Rua Pedro Ivo, as atividades começaram somente às 10 horas, quando os cinco primeiros colaboradores chegaram normalmente, a loja abre uma hora antes com 15 pessoas. "Fizemos um esforço para atender algum cliente que apareça, mas a perspectiva é de movimento zero hoje", disse a gerente do estabelecimento, Lívia Maria da Silva.
Restaurantes e lanchonetes foram os mais afetados com a falta de mão de obra ao longo do dia. "É necessário um número mínimo de pessoas trabalhando para uma cozinha funcionar e a gente não pode demorar muito para começar o nosso dia", explicou a proprietária do restaurante Panela de Barro, Mariana Souto. Apenas uma das três unidades da rede abriu ontem, concentrando todos os funcionários que vieram trabalhar.
Na rede de fast foods Fifties, apenas um funcionário da cozinha tinha chegado faltando apenas uma hora para o horário do almoço. Normalmente são necessárias ao menos cinco pessoas para preparar os lanches. Somente perto do meio dia que praticamente todos os estabelecimentos do centro passaram a funcionar, mesmo com efetivo reduzido.
Alguns locais, no entanto, não conseguiram sequer reunir um número mínimo de pessoas para manter as atividades do dia. O sócio-proprietário do lava-car Auto Fast, Valdomiro Chagas, teve que pedir para que pelo menos dez proprietários buscassem seus carros por causa do cancelamento dos trabalhos. "É um prejuízo para nós. Recusamos os serviços do dia e ainda passamos uma péssima imagem para os clientes", lamentou.
Indústrias
Além do comércio do centro, algumas indústrias da Cidade Industrial de Curitiba também operaram em ritmo mais lento, principalmente as que não oferecem condução própria para os funcionários. Na Mondelez, por exemplo, algumas linhas foram paradas ao longo da manhã por falta de funcionários.
Greve