Ciclos são comuns, dizem estudiosos
De acordo com o professor de Climatologia Francisco Mendonça, não existe um clima isolado. No dia-a-dia, cada um deles age em associação e complementaridade com os outros. Da mesma forma, fenômenos climáticos interagem entre si e provocam reações diferentes nos lugares por onde passam. "É normal que o El Niño, por exemplo, cause chuvas intensas no Sul do país e secas severas no Nordeste", afirma. "Já na passagem do La Niña, ocorre exatamente o contrário em cada uma dessas regiões."
Para Mendonça, vivemos, na verdade, o que os cientistas costumam chamar de "ciclicidade" ou "variabilidade climática". Esse conceito define como naturais as variações no nível de chuvas e na incidência de luz solar, a cada ano ou década. "Os padrões climáticos existem, mas não são permanentes", explica. "O clima está sujeito a variações e, inclusive, a extremos, como foi o caso de Santa Catarina."
Na mesma linha de raciocínio, o professor da USP Augusto Pereira Filho acredita que muitas pessoas falam sobre mudanças climáticas sem ter conhecimento sobre o assunto. Para embasar a afirmação, ele cita o exemplo do derretimento das geleiras polares. "Nos últimos 20 anos, a quantidade de gelo no hemisfério sul tem aumentado. Não é porque escorregou uma geleira que está acontecendo o derretimento geral", alerta.
Segundo o professor, os estudos feitos pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês) estabelecem projeções de, no mínimo, 100 anos. "Estamos diante de muitas incertezas. Toda a tecnologia que usamos não é nada se comparada à complexidade do sistema climático global", diz Pereira Filho. "A curto prazo, é muito temerário usar eventos isolados como o resultado de mudanças climáticas."
Em 2008, o Brasil sofreu com a intensidade de dois eventos climáticos distintos. Na região do Vale do Itajaí (SC), choveu em cinco dias o que era esperado para um período de quatro meses. Mais ao norte, os vales do Jequitinhonha e Mucuri (MG) permaneceram seis meses sem receber uma gota dágua sequer. Segundo os pesquisadores, é natural encontrar essa diversidade climática em um país de extensão territorial tão grande.
Estudiosos sobre o tema consideram precipitado atribuir ao aquecimento global ou ao efeito estufa a ocorrência de casos como esses. "Eventos dessa natureza acontecem há muitos séculos. Mas, é claro, são momentos esporádicos, que não vemos todo dia", afirma Francisco Mendonça, professor de Climatologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Um dos primeiros relatos de que se tem notícia sobre enchentes em Santa Catarina data de 1855. Em uma carta a um conselheiro do império, Hermann Blumenau fundador da cidade que leva seu nome descreve uma cheia em que o Rio Itajaí-Açu subiu 15 metros em um dia e meio. "Cheguei em julho no Desterro (atual Florianópolis) e em vez de uma viagem de seis dias, em tempos regulares, gastei um mês inteiro para chegar a esta colônia, sempre retido em caminho por chuvas e águas de monte. Este mau tempo continuou até meados de dezembro, havendo uma vez onze dias consecutivos, que não apareceu nem um só raio de sol", diz o texto. "Como explicar essa enchente de 1855, quando nem se falava em aquecimento global?", questiona o professor Francisco Mendonça.
Segundo ele, é comum chover de forma intensa em Santa Catarina nesta época do ano. O grande número de mortos na enchente de 2008 se justificaria, na verdade, por causa das ocupações irregulares de morros e encostas. "A perda de vidas foi resultado da ação do próprio homem e não tem relação com possíveis mudanças climáticas", avalia. Na opinião do professor, faltou planejamento na ocupação do território e, sobretudo, fiscalização por parte das autoridades. "Infelizmente, não foi uma surpresa o que aconteceu. Não adianta falar em castigo divino", afirma.
O professor Augusto Pereira Filho, do departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP), também considera inadequado relacionar esses casos recentes a mudanças climáticas. De acordo com ele, Santa Catarina é uma região que historicamente apresenta manifestações de eventos violentos. "Em circunstâncias favoráveis, como havia no Vale do Itajaí, aquele nível de chuva poderia cair em qualquer lugar do mundo", diz Pereira Filho.
Histórico de secas
Se no Sul do país a força das água causou destruição, a região norte de Minas Gerais sofreu com a falta de chuvas. Na pior seca dos últimos 30 anos, choveu 70% a menos do que o previsto entre os meses de maio e outubro. De acordo com a Defesa Civil do estado, pelo menos 120 municípios decretaram situação de emergência. Ao analisar as causas do evento, os pesquisadores descartaram mais uma vez a influência do aquecimento global.
Conforme explica o meteorologista Alexandre Gadelha, do escritório mineiro do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), são as poucas chuvas nesse período do ano que caracterizam o clima da região. "O norte de Minas é o primeiro lugar do estado onde pára de chover e o último em que volta a chover", afirma. "A região está muito próxima do sertão da Bahia, por isso o clima é quase semi-árido."
No ano de 1902, o escritor Euclides da Cunha já falava da falta de chuvas que assolava o território baiano, em Os Sertões. Os primeiros períodos de seca mencionados no livro remontam à década de 1710. "Despontam vivendas pobres; algumas desertas pela retirada dos vaqueiros que a seca espavoriu; em ruínas, outras, agravando todas no aspecto paupérrimo o traço melancólico das paisagens...", escreveu o autor.
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora
Deixe sua opinião