A pedagoga Marilda Behrens, 53 anos, se considera uma privilegiada. Foi aluna de Paulo Freire, Moacir Gadotti e Ana Maria Saul – entre outros educadores que colocaram o Brasil na vanguarda do ensino mundial. Além de ligada à turma de Freire – o que lhe garante cadeira cativa para falar sobre educação – destaca-se pelo estilo muito particular. O tempo não lhe tirou a aparência de boa moça curitibana, precisamente do bairro Ahú, onde nasceu e se criou, mas a fala é despachada, sem rodeios, o que faz de cinco minutos de conversa a ante-sala da revolução.

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Em entrevista à Gazeta do Povo, Marilda foi convidada a traçar um perfil do professor nestes idos de 2006. Fez a lição de casa, e de quebra deixou uma pauta de discussões que envolvem os verbos ensinar e aprender, mas também atropelar, o mais rápido possível, velhos modelos que ainda botam banca nas salas de aula. "Muitas práticas se repetem, é verdade, mas o que me move é ver o momento em que os professores que acompanho entenderem que sua prática é resultado daquilo que são. Nesse momento, eles se renovam, abandonam a idéia de fracasso. É muito bom." Confira.

• Educador ontem

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Até meados do século 20, a figura do educador estava focada na repetição dos conteúdos. A prática do professor era na base do "escute, leia, decore e repita", com preferência para aulas expositivas, firmando uma visão conservadora do conhecimento e pondo acento no fracasso do aluno. A abordagem histórico-crítica – que torna o educando um co-autor dos conteúdos –, vingada principalmente a partir da década de 80, deixou esse modelo com os dias contados.

• Educador hoje

A Revolução Industrial e a Sociedade Informática geraram a "Sociedade do Conhecimento", termo usado para definir o momento em que o professor ganhou instrumentos para passar da mera repetição à produção do saber. De sacerdote obediente passou à persona de formador de opinião. Nesse novo modelo, o mestre deixa de ser aquele que sabe tudo para se tornar o mediador e o aluno o investigador. "A Sociedade do Conhecimento valorizou o educador", diz Marilda Behrens. "Ele se tornou imprescindível para ajudar a organizar os conteúdos."

• O educando

Cabe ao professor convencer o educando de que ele é sujeito de sua própria história e colocar-se como parceiro nesse percurso. Tem de se considerar que na vida profissional o aluno vai ter de optar, tomar decisões, correr riscos, decidir o que é e o que não é relevante. A escola não pode privá-lo de depurar informações e precisa ajudá-lo a ter iniciativa. "O maior desafio do educador é desinstalar o aluno, tirá-lo da passividade", diz Behrens.

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• O mundo

Para Marilda Behrens, a educação crítica pregada por Paulo Freire tem de estar aliada ao "paradigma da complexidade", expressão usada para definir um mundo que cada vez menos cabe num livro didático. "Hoje, para entender a sociedade é preciso desenvolver múltiplas inteligências e entregar-se ao diálogo. E um diálogo amoroso, como dizia Freire", resume.