Angra dos Reis (RJ) e Belo Horizonte (MG) - Em meio aos escombros na Praia do Bananal, na Ilha Grande, em Angra dos Reis (RJ), bombeiros continuaram ontem as buscas de corpos e também recolheram pertences das vítimas, dois dias depois do deslizamento de terra que soterrou sete casas e parte de uma pousada. Alguns dos 29 corpos encontrados até a noite de ontem já foram sepultados.
Um álbum de fotografias com capa do urso Pooh tinha fotos guardadas por uma das sobreviventes, Lívia de Brito Pereira, 28 anos. Ela aparece ao lado de parentes, muitos deles mortos na tragédia. Ferida com uma perfuração no pulmão, Lívia está bem, segundo a prima Elizabeth, e seria transferida de Angra para um hospital do Rio.
Misturados com terra e lama, havia no local roupas de bebê sujas, livros didáticos retorcidos, uma torradeira, meio fogão e muitas outras lembranças das vidas das pessoas que morreram na madrugada do dia 1.º. Para não deixar esquecer que a cena na enseada é trágica, urubus sobrevoavam hoje a região.
Para auxiliar nas buscas e tentar localizar vítimas, três mergulhadores ocuparam ontem uma faixa de 150 metros da orla soterrada pelo deslizamento. O número de corpos resgatados na Ilha Grande subiu para 29 o de Gabriela de Brito Pereira, de 13 anos, moradora da região, foi encontrado pela manhã sob uma imensa pedra. Dos 29 corpos, três estavam no mar, boiando, e dois deles foram resgatados por uma embarcação da Polícia Federal. "Com os três mergulhadores, vamos esgotar uma possibilidade que é remota, mas existe. Uma vítima foi projetada na água e sobreviveu. Pode haver alguém preso no fundo", disse o diretor de Operações do Corpo de Bombeiros, coronel Carlos Bonfim.
Enterros
De um grupo de 17 turistas de Arujá (SP), apenas 4 sobreviveram e 2 seguem desaparecidos. Os corpos de 11 vítimas foram trasladados para a cidade, e três deles foram enterrados ontem. A estilista Maria Lux Coely Amorim, 57 anos, lembrou que reconheceu o corpo da neta, Rafaela, pelo vestido que fez para a garota usar no ano-novo.
Já o corpo de Yumi Imanishi Faraci, 18 anos, filha dos donos da pousada, foi cremado no fim da tarde de ontem em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. Yumi passou o réveillon com um grupo de colegas do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). As cinzas da jovem serão jogadas na baía de Angra dos Reis. Dois de seus colegas morreram no deslizamento e também foram sepultados em Minas Gerais.
Morro
Algumas pessoas que tiveram suas casas condenadas no Morro da Carioca também em Angra dos Reis onde até a noite de ontem 17 corpos haviam sido encontrados após um deslizamento de terra, estão se recusando a sair com medo de terem seus bens levados por saqueadores. Muitas residências que já estão vazias, com seus moradores em abrigos ou em casa de parentes, foram roubadas. Ontem, debaixo de um sol forte e temperatura que chegava aos 40 graus, jovens, mulheres e idosos uniam esforços para retirar aparelhos de televisão, geladeiras, micro-ondas e até armários de suas casas. A Defesa Civil aponta risco em 98 casas ainda ocupadas.
"Tivemos que desocupar porque abriu uma cratera. A próxima chuva vai levar a minha casa, a da minha mãe e a do meu cunhado. O problema é que a gente sai e vêm uns bandidos aqui para saquear. Levaram computador, televisão e objetos pessoais do nosso vizinho. Precisa reforçar o policiamento aqui", queixou-se o pastor da Assembleia de Deus Carlos Alberto Amaral de Oliveira, 42 anos.
Durante a tarde, a comunidade sofreu ainda com a confirmação das mortes de Anna Beatriz Marques de Souza Santos, 6 anos, e Ariel Narciso, 2 anos, cujos corpos foram encontrados com a ajuda de cães farejadores. Outros seis parentes de Ariel já foram enterrados e há ainda mais duas pessoas da mesma família desaparecidas sob os escombros no Morro da Carioca.