Arma branca
Amigo achou corpo no escritório
Fernanda Trisotto e Adriano Ribeiro
O escritor Wilson Bueno estava morto há mais de 12 horas quando seu corpo foi encontrado, por volta das 19h30 de ontem. Segundo o perito do Instituto de Criminalística do Paraná Edmar Cunico, Bueno foi assassinado com um golpe de arma branca no pescoço. Ele teria tentado reagir depois de ser esfaqueado. Não havia sinais de arrombamento na casa. O escritório de Bueno estava revirado e os peritos encontraram sacos plásticos vazios espalhados pelo chão, o que indica que o assassino pretendia roubar algo.
A diarista Jacinta Breck, que trabalhava havia sete anos na casa do escritor, chegou ao sobrado onde Bueno morava por volta das 9h30. Ela notou que o portão estava sem o cadeado e que a porta estava aberta. Segundo Jacinta, um computador que sempre ficava no escritório, no segundo andar, estava na sala.
Por recomendação de Bueno, Jacinta só teria acesso ao segundo piso da casa depois que ele acordasse e lhe desse bom dia. Por conta dessa exigência, a diarista trabalhou normalmente no primeiro piso da casa. O escritor costumava levantar entre 15 e 16 horas, porque gostava de trabalhar de madrugada. Por volta das 17 horas, a diarista estranhou a ausência do patrão e decidiu ligar para um amigo dele, que foi até a casa e encontrou o corpo de Bueno no escritório.
De acordo com o primo do escritor Emídio Bueno Marques, Wilson Bueno estava caído na escrivaninha do escritório e havia muito sangue no local. Marques afirma que o local estava bastante bagunçado e que a primeira impressão foi de uma tentativa de roubo. "A paixão da vida dele era escrever, ser jornalista e ser escritor. Ele era um ícone da literatura do Paraná", diz. Segundo o primo, Bueno estava editando seu 13º livro.
Abigail Schambeck, vizinha de Bueno, o conhecia há pelo menos 30 anos. Ele era morador do bairro e estava naquele sobrado havia dez. A vizinha afirma que não percebeu nenhuma movimentação estranha na casa do escritor durante o fim de semana. Ela conta que Bueno tinha muitos conhecidos e recebia muitas pessoas em casa.
O corpo foi retirado do local por volta das 23 horas e encaminhado ao Instituto Médico-Legal.
A polícia encontrou morto, no início da noite de ontem, o escritor paranaense Wilson Bueno, 61 anos, em sua casa no bairro Santa Cândida, em Curitiba. Há indícios de que ele foi morto durante um assalto (leia mais ao lado e na página 5). Autor de 13 livros e criador do jornal cultural Nicolau, Bueno foi mais uma vítima da violência em Curitiba no mês de maio. Segundo levantamento feito com base nos dados do Instituto Médico Legal de Curitiba (IML), o mês terminou com 114 mortes provocadas por arma de fogo, arma branca ou agressão uma queda de 29,6% em relação a abril e um crescimento de 48,6% em relação a maio de 2009, quando foram registradas 79 mortes violentas.
Em abril deste ano, os boletins divulgados diariamente pelo IML da capital indicaram que houve 162 mortes violentas. A queda poderia ter sido maior neste mês: até o último dia 20, as estatísticas baseadas nos números coletados no IML vinham mantendo um número relativamente baixo, com pouco mais de 70 casos. Com 44 ocorrências, os municípios da região metropolitana ajudaram a puxar o índice para cima, principalmente São José dos Pinhais, com 18 casos, e a inclusão de cidades como Adrianópolis e Tunas do Paraná no mapa do crime (veja abaixo). No segundo fim de semana do mês (contando os atendimentos feitos das 20 horas de sexta às 8 horas de segunda-feira), por exemplo, o IML recebeu oito corpos da região metropolitana e nenhum de Curitiba.
Nos cinco primeiros meses do ano, Curitiba e região metropolitana contabilizam 852 mortes, número 27% superior ao mesmo período do ano passado. A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) não se pronunciou sobre os dados e deverá divulgar em junho o Mapa do Crime do segundo trimestre deste ano. Nos três primeiros meses do ano, o número de homicídios em Curitiba cresceu 53,8% em relação ao mesmo período de 2009.
Fim do mês
Das 114 vítimas registradas neste mês, 46, ou 40% do total, eram jovens entre 18 e 30 anos, na maioria homens. Na avaliação do sociólogo Lindomar Bonetti, o processo social acaba desencadeando uma reprodução da violência como no caso de jovens que ouvem falar sobre agressões e passam a assumir esse tipo de comportamento. "O jovem se envolve em aventuras com muito mais facilidade", afirma Bonetti.
O sociólogo diz ainda que o número de mortes violentas tende a aumentar no fim do mês. "A falta do dinheiro, por exemplo, acaba suscitando nervosismo e as pessoas ficam à mercê de conflitos familiares onde o álcool e a droga estão sempre presentes", afirma. Bonetti lembra ainda que a população da região metropolitana está mais vulnerável por causa da existência de cinturões de pobreza.
Os últimos casos confirmam a teoria. Uma briga entre cunhados, no bairro Uberaba, no início da noite de sexta-feira, acabou em morte, sem que os motivos sejam conhecidos. Dirceu Veiga, 39 anos, foi surpreendido com a chegada de Vanderlei dos Santos, que atirou várias vezes sem acertá-lo. Não contente, Santos acabou atropelando e matando o cunhado com uma pedrada na cabeça.
Entre os exemplos de jovens vítimas da criminalidade estão os amigos Caio Enrique Amaral da Silva, 19 anos, e Roger Cleiton Pereira, 21anos, encontrados mortos dentro do carro, na madrugada de sábado, no bairro Boqueirão. Segundo o pai de um dos rapazes, o filho tinha envolvimento com drogas. Na mesma noite, Fernando Ferreira de Moraes, 22 anos, foi executado com três tiros de pistola por um homem encapuzado. O crime ocorreu no bairro Xaxim.
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