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Burg prefere pedalar para conhecer melhor os lugares, enquanto faz o trajeto de casa ao trabalho | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Burg prefere pedalar para conhecer melhor os lugares, enquanto faz o trajeto de casa ao trabalho| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

A capital descrita por quem não pode vê-la

O nome dela é Luzia da Luz Silveira, 43 anos. Ela nasceu em 8 de setembro, dia da padroeira de Curitiba, Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Apesar das referências à luz, ela já não pode ver a claridade desde os 7 anos. Vítima de um glaucoma, Luzia perdeu a visão ainda criança, o que a fez adaptar seu modo de ver. Através dos outros sentidos, ela consegue descrever a capital paranaense tão bem quanto se tivesse os olhos perfeitos.

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Como as pessoas percebem Curitiba?

Trezentos e dezenove anos, 434 quilômetros quadrados, 75 bairros com quase um 1,8 milhão de habitantes. A maior cidade do Sul do Brasil tem diversos monumentos históricos e modernos de onde é possível vê-la em variados ângulos. Cada pessoa tem um ponto de vista diferente, de acordo com a profissão, características pessoais ou com o lugar onde está. É o caso dos cinco personagens que aceitaram nos contar, no especial de Curitiba, sobre como eles enxergam e percebem a capital paranaense.

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  • Laurita admira a cidade debaixo dos próprios pés
  • O motorista Joff aprecia a arborização do Mossunguê e da região da rodoferroviária

Um motorista de ônibus poderia apenas reclamar do veículo lotado e da dificuldade em cumprir sempre o mesmo trajeto. Mas Márcio José Joff vê o trabalho – de repetir o caminho do ônibus várias vezes ao dia – como uma chance de conhecer Curitiba. Assim como ele, o ciclista Rosemburg Lopes Junior aproveita para admirar a cidade enquanto pedala de casa ao trabalho. Já a gerente comercial Laurita Utrabo tem o privilégio de ver a capital de um ângulo que poucos enxergam: do prédio mais alto.

Do ponto mais alto, uma visão de tirar o fôlego

Ter diariamente a capital do estado literalmente sob os pés é para poucos. A gerente comercial Laurita Utrabo, 47 anos, faz parte dessa minoria. Ela trabalha há seis anos no trigésimo andar do maior edifício da capital paranaense, o Curitiba Trade Center, localizado na Alameda Dr. Carlos de Carvalho, no Cen­­­tro da cidade, e tem uma das vistas mais abrangentes do município.

Com 147 metros de altura, o prédio tem 34 andares e foi entregue em 1997. Laurita se diz privilegiada por estar no local. Ela e seus companheiros de trabalho podem ver, em diversos pavimentos, diferentes locais de Curitiba. É possível, inclusive, avistar o primeiro arranha-céu, o edifício Garcez, com oito andares.

A empresa em que Laurita trabalha atua na área de investimentos financeiros. Em 2008, no auge da crise financeira dos Estados Unidos, a Bolsa de Valores de São Paulo teve momentos de instabilidade, o que tornou difícil o trabalho no escritório. As horas de dor de cabeça, entretanto, acabavam quando ela olhava para a janela. "Decidimos parar e ver um pôr-do-sol maravilhoso lá fora. Nessa hora pensamos: Deus existe", conta.

Os dias de chuva no alto do edifício também podem render histórias interessantes para quem não está acostumado com as alturas. "Como o prédio é muito alto, ele balança um pouco em dias com chuva e vento forte e podemos sentir isso até nos materiais de escritório em cima da mesa, que se mexem", diz ela, que também é arquiteta e explica essa situação para quem se assusta com o balanço do edifício.

Ostentando o posto de prédio mais alto da capital há 15 anos, o Curitiba Trade Center deve ficar com o segundo lugar no ranking. A duas quadras do local, entre as ruas Visconde do Rio Branco e Comendador Araújo, a cidade deve ganhar o Universe Life Square, que terá 152 metros de altura e 44 pavimentos. A previsão de entrega do empreendimento é para o segundo semestre de 2014.

Sobre duas rodas dá para sentir melhor a cidade

Pedalar de casa até o trabalho faz parte da rotina de alguns curitibanos que, dessa forma, podem curtir a cidade de uma maneira diferente do que no comando de um veículo motorizado. É o caso do coordenador de teleatendimento Rosemburg Lopes Junior, conhecido como Burg, 50 anos.

Desde 1993, Burg sai com a magrela do bairro Portão, onde mora, e passa por mais quatro bairros até chegar à Cidade Industrial de Curitiba (CIC Norte). No trajeto, de 20 quilômetros por dia (ida e volta), uma das vantagens de pedalar é mudar com facilidade o percurso para admirar a cidade de diferentes ângulos. Durante a semana, Burg percorre três caminhos diferentes. Para ele, uma das melhores vistas, no retorno para casa, fica próxima ao Hospital Pequeno Cotolengo. "Em dias de céu limpo, com o pôr-do-sol, podemos ver uma cidade dourada."

Problemas

Mas nem tudo é beleza nos trajetos que ele faz. Apesar de boa parte do trecho que Brug percorre ter ciclovias, algumas delas são mal conservadas e não têm sinalização adequada. "Durante o trajeto, encontro mais obstáculos do que facilidades", comenta. Ele acredita que a cidade tem espaço suficiente para atender tanto os ciclistas como os motoristas, mas muitos trechos são mal aproveitados.

Curitiba tem malha cicloviária de 120 quilômetros de extensão. Segundo o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), a intenção, a médio e longo prazo, é aumentar em 300 quilômetros a malha, além da revitalização dos trechos já existentes.

VIDA E CIDADANIA| 3:25

Pedalando com Rosemburg Lopes Júnior, o Burg, conhecemos de que maneira os ciclistas interagem com Curitiba e quais as dificuldades encontradas. Percorremos o trajeto que ele costuma fazer de casa ao trabalho e vice-versa

No comando do maior biarticulado

É por trás do para-brisa que o motorista de ônibus Márcio José Joff, 43 anos, conta como percebe a cidade de modo tão diferente. Ele faz uma das linhas mais longas do transporte coletivo, a Centenário – Campo Comprido. Em cada viagem, passa por 12 bairros e encontra cerca de 205 mil passageiros ao dia. Apesar de o cargo exigir concentração, para ele as idas e vindas são uma boa oportunidade para conhecer lugares distintos. "Como é uma linha grande, aqui eu encontro pessoas de todos os tipos, executivos, médicos, estudantes e os mais humildes", comenta, a bordo do maior ônibus do mundo, o biarticulado de 28 metros.

As palavras de Joff não são mera impressão. Os contrastes são evidentes: o motorista vê da janela do ônibus os edifícios luxuosos do Mossunguê, mas também as casas e prédios mais simples do Centenário. Essa é a linha, na visão de Joff, que passa pelos pontos mais bonitos da cidade: ele destaca a arborização do Bigorrilho e da região da rodoferroviária.

E quem pensa que turista quer conhecer só pontos de destaque, que não se engane. "A Curitiba é também a dos expressos. Muita gente me pergunta sobre como funciona o ônibus", diz. Joff só riscaria da cidade os dias de jogo que tumultuam o transporte em decorrência do confronto entre as torcidas.

VIDA E CIDADANIA| 2:00

O motorista Márcio José Joff levou a reportagem para dar uma volta no maior biarticulado do mundo e mostrou como ele percebe a capital enquanto dirige. Joff adora ver a arborização do Mossunguê e da região da rodoviária.

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