Francisco manteve seu sorriso fácil na chegada e na saída do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, mas por duas horas em que celebrou a missa para 15 mil fiéis foi sério e fiel à liturgia. Não acenou, não sorriu, não esboçou qualquer gracejo e, na homilia, enviou um recado aos jovens católicos ao atacar a idolatria do poder e do dinheiro. Fora da Basílica, prometeu voltar em 2017 para comemorar os 300 anos de encontro da imagem da padroeira.
Na missa, o santo padre deixou claro que sua gestão na Igreja tem por objetivo dar à religião posição de destaque na sociedade atual. "Hoje, mais ou menos todas as pessoas, e também os nossos jovens, experimentam o fascínio de tantos ídolos que se colocam no lugar de Deus e parecem dar esperança: o dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer", criticou. Para vaticanistas, o discurso e o script seguido à risca mostram que o papa, além de popular e sedutor por seus gestos, não vai reformar pilares da Igreja ou abandonar dogmas e posições tradicionais.
Firme no protagonismo da Igreja na sociedade atual, o pontífice disse que "frequentemente uma sensação de solidão e de vazio entra no coração de muitos e conduz à busca de compensações, destes ídolos passageiros". Francisco conclamou os fiéis a serem "luzeiros da esperança" e focou sua mensagem nas novas gerações: "Os jovens não precisam apenas de coisas, precisam, sobretudo, que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a memória de um povo".
Análise
O norte-americano John Allen, um dos principais vaticanistas, afirma que há mudança formal de discurso. "Agora, temos um papa que fala constantemente dos pobres e apenas raramente de outros temas. A mudança é apenas na ênfase, não na substância", disse. A nova postura pôde ser observado na homilia, na qual Francisco pediu um novo comportamento da sociedade, principalmente dos jovens. "Encorajemos a generosidade que caracteriza os jovens, acompanhando-lhes no processo de se tornarem protagonistas da construção de um mundo melhor", afirmou o papa.
"A mensagem é teologicamente muito forte e coerente com os ensinamentos da Igreja", afirmou o vaticanista italiano Andrea Tornielli. O professor de Teologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) Fernando Altemeyer concordou. "Para ele, o ritual está lá e não há razão nem necessidade de mudança. Fora da missa, ele dá seu toque de personalidade, diz como ele é e como faz questão de estar perto do povo."