Curtas
Protesto violento
Cerca de 500 manifestantes entraram em confronto com a polícia na noite de ontem, após a recepção ao papa Francisco. O conflito ocorreu próximo ao Palácio Guanabara. Ao menos quatro pessoas foram presas dois manifestantes e duas pessoas que estariam realizando assaltos (foto 1). Manifestantes teriam lançado objetos nos policiais que responderam com bombas de efeito moral. A PM perseguiu quem estava mascarado.
Bomba caseira
A Polícia Militar de São Paulo detonou ontem uma bomba de fabricação caseira encontrada em um dos banheiros do Santuário Nacional de Nossa Senhora de Aparecida, na cidade de Aparecida (SP), que será visitada pelo papa Francisco.
A bomba, um cano plástico envolvido com fita adesiva, foi encontrada por uma equipe da Força Aérea Brasileira. O pontífice visitará o santuário amanhã.
Fiscalização
Pelo menos 34 dos 423 ônibus (foto 2) que seguiam para Rio de Janeiro e Aparecida foram barrados por apresentarem irregularidades. Os veículos, que levam peregrinos para os eventos com o papa Francisco, estão sendo vistoriados por policiais e fiscais. Até ontem, foram registrados 75 autos de infração. A maioria dos ônibus vem da Argentina. Há também coletivos do Paraguai, Brasil e Chile.
Presidente
Antes de reunião a portas fechadas, Dilma pede "aliança de solidariedade"
Em discurso de saudação ao papa, a presidente Dilma Rousseff citou os protestos que têm tomado conta do país e pediu a participação do pontífice na disseminação de "boas experiências", incluindo as "obtidas no Brasil". Dilma também pediu o "apoio da Igreja para transformar iniciativas pontuais em iniciativas globais" e disse que a "estratégia de superação da crise não pode ser feita só com austeridade".
A presidente citou discursos recentes de Francisco em que destaca a importância da atenção aos mais pobres e pediu ao papa "uma aliança de solidariedade" em torno das ações de erradicação da fome e da miséria. Após a cerimônia oficial de boas-vindas, Dilma teve uma reunião privada com o pontífice, que durou cerca de 15 minutos. (AE)
No primeiro discurso no Brasil, diante da presidente Dilma Rousseff, de políticos e autoridades no Palácio Guanabara, o papa Francisco cobrou educação e meios materiais para que os jovens possam se desenvolver, e deixou claro que sua viagem ganhará um forte caráter político. Antes mesmo de desembarcar, ainda no avião que o levou ao Brasil, o papa fez um ataque direto às receitas dos governos para lidar com a crise internacional. Alertou para o risco de se criar uma geração perdida diante da incapacidade de os jovens encontrarem trabalho.
Ele cobrou os políticos. "A nossa geração se demonstrará à altura da promessa contida em cada jovem quando souber abrir-lhes espaço: tutelar as condições materiais e imateriais para o seu pleno desenvolvimento, oferecer a ele fundamentos sólidos, sobre os quais construir a vida, garantir-lhe segurança e educação, para que se torne aquilo que pode ser", disse o pontífice.
Francisco viajou ao Brasil para participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), mas aproveitará a semana que passará no país para dar indicações do que pretende como papa, fará alertas aos políticos e se reunirá com cardeais para debater a situação latino-americana.
O alerta sobre o impacto da crise mundial foi primeiro dado ainda no avião. Aos jornalistas, revelou a preocupação com a exclusão social, principalmente no caso dos jovens. "Essa primeira viagem é para encontrar os jovens. Não em isolamento, mas no contexto de suas sociedades", disse. "Quando nós isolamos os jovens, fazemos uma injustiça. Eles pertencem a uma família, a uma cultura, a um país e a uma fé. Não podemos isolá-los da sociedade. Por isso é que quero encontrar os jovens em seu tecido social."
Para o papa, o problema da exclusão também afeta os mais idosos. "É verdade que os jovens são o futuro do povo, porque têm energia. Mas eles não são os únicos que representam o futuro. Os idosos também, porque têm a sabedoria da vida."
"Momento oportuno"
Francisco admitiu que chega ao país em um "momento oportuno", por causa dos protestos, e dá o primeiro sinal concreto de sua simpatia pelos movimentos sociais que ganharam as ruas do país ontem, manifestantes tomaram ruas da região central do Rio. O argentino, porém, deixou claro que não chegou para desafiar e quer um "diálogo de amigos". Não por acaso, teceu longos elogios ao Brasil e sua população. "Nesta hora, os braços do papa se alargam para abraçar a nação inteira brasileira, na sua complexa riqueza humana, cultural e religiosa", declarou. "Desde a Amazônia até os pampas, dos sertões até o Pantanal, dos vilarejos até as metrópoles, ninguém se sinta excluído do afeto do papa."
Jovens católicos são a favor de pílula e união gay, diz pesquisa
Ao se reunir com a juventude católica, o papa Francisco poderá ver que os jovens fiéis têm opiniões cada vez mais diferentes das defendidas pela Igreja. É o que sugere uma pesquisa feita pelo Ibope e encomendada pelo grupo Católicas pelo Direito de Decidir, divulgada ontem. O levantamento, que ouviu a opinião de 4.004 brasileiros com mais de 16 anos (62% deles católicos), observou, principalmente entre os participantes até 29 anos, concordância com temas como uso da pílula do dia seguinte (82% dos jovens católicos apoiariam total ou parcialmente a Igreja se ela resolvesse permitir seu uso) e união entre pessoas do mesmo sexo (apoio, também total ou parcial, de 56% dos jovens).
A maioria de jovens católicos (62%) afirmou que discorda, totalmente ou em parte, também da prisão de uma mulher que tenha precisado recorrer ao aborto, independentemente da renda, escolaridade ou região do país de onde eles são. Sobre questões ligadas ao sacerdócio, 58% dos jovens católicos disseram apoiar totalmente o casamento de padres e 46% deles se mostraram totalmente a favor de que mulheres também possam celebrar missas.
Pedofilia
Os entrevistados pela pesquisa também se mostram intolerantes a crimes cometidos por religiosos. Mais de 80% dos católicos ouvidos defenderam uma punição mais rígida para religiosos envolvidos em pedofilia, assédio sexual ou corrupção.
Para Maria José Rosado, presidente do Católicas pelo Direito de Decidir, a pesquisa mostra que há um distanciamento entre o que são as pregações, as normas e os discursos da Igreja e a vida das pessoas. Ela diz não acreditar, porém, que o papa escute as demandas dos católicos expressadas na pesquisa. "Toda a simpatia e a simplicidade com que esse papa se apresenta poderiam gerar essa expectativa, mas há o problema de que a Igreja ainda não é dialogal. Ela não ouve os fiéis. A postura da Igreja é de quem vem para ensinar, para falar." (AE)