O Vaticano se posiciona ao lado dos manifestantes, prepara um discurso de cobrança à classe política e alerta que, se ceder e aceitar algumas mudanças na agenda no papa Francisco por causa da segurança, não abrirá mão de um "banho de povo". O novo cenário ainda fez o papa reabrir seus discursos e reescrevê-los para elevar o tom de questionamento aos dirigentes. O discurso oficial em Roma é de apontar que a Igreja não é o alvo dos protestos. "Não é um confronto com o papa ou com a Igreja", declarou o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi. Em outras palavras, as ruas protestam contra os políticos, não contra o papa, que não disfarça a seus assessores mais próximos e outros cardeais sua simpatia com o que vê nas ruas.
Nesta quarta-feira, na Cidade do Vaticano, Lombardi explicou a dezenas de jornalistas de todo o mundo o percurso frenético que Francisco fará em sua primeira viagem internacional. A agenda original foi modificada pelo próprio papa. Mas não para se proteger, e sim para abolir dias de descanso e incluir inúmeras atividades com caráter social que não estavam previstas, entre elas a visita a uma favela, a um hospital e a detentos.
Questionado sobre as ameaças de manifestações identificadas pelo governo, Lombardi deixou claro que não há revisão dos planos. "Se houver mudanças, eles (as autoridades brasileiras) nos comunicarão. Mas, no momento atual, não esperamos que existam inconvenientes particulares ou consequências para a Jornada."
A reportagem apurou que, na negociação com as autoridades brasileiras, o Vaticano já mandou um recado claro: o papa não aceitará ser isolado ou que seus planos de contato com a população sejam reduzidos. O Vaticano não esconde que parte da proteção de Francisco virá até de sua mensagem. "Todos entendem que a mensagem do papa é de solidariedade, de convivência pacífica na sociedade e de desenvolvimento igualitário para todos", disse Lombardi. Durante toda a semana que antecede a viagem, Francisco tem se mantido afastado do público, justamente para preparar sua mensagem.
Os textos
Funcionários na secretaria de Estado confirmaram que ele terá um "recado de esperança" aos jovens, mas também fará cobranças aos políticos e orientação aos bispos sobre como devem abrir suas igrejas e se aproximar dos mais carentes. Para a classe dirigente, já há até local escolhido para dar o recado: o Teatro Municipal do Rio de Janeiro. "O papa quer falar ali aos responsáveis por decisões na sociedade", indicou o padre Lombardi. Nos bastidores, fontes no Vaticano confirmaram que o pontífice argentino acredita que chegou o momento de o governo "escutar o povo".
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