Há uma semana em vigor, as regras estabelecidas pelo acordo de unificação ortográfica da língua portuguesa ainda são usadas timidamente por órgãos públicos. Nas escolas e universidades, a situação não é diferente. Como o ano letivo ainda não começou, grande parte das instituições de ensino não definiu quando aderirá às normas que começaram a valer, de forma facultativa, desde o dia 1º de janeiro. A única questão já acertada é que todos os alunos, que estão na fase de alfabetização, aprenderão a escrever dentro da nova ortografia. Os estudantes das séries mais adiantadas, que já sabem ler e escrever, receberão orientações ao longo do ano. Segundo os professores, é a melhor maneira de não confundir: aprende-se aos poucos as regras, até porque algumas delas ainda não foram confirmadas, o que deve ocorrer até março, com a publicação de um vocabulário pela Academia Brasileira de Letras. Ainda questiona-se, por exemplo, se a palavra sub-humano pode ser escrita sem o hífen e sem a letra "h": subumano.
De acordo com o decreto baixado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, até 2012 é possível escrever na antiga ou na nova grafia. Por isso as escolas públicas e particulares deverão aceitar ambas as formas em avaliações, testes e trabalhos, sem descontar pontos dos estudantes que ainda optarem por escrever do modo antigo. As secretarias municipal e estadual de Educação afirmaram que os professores já receberam orientações e cursos sobre a reforma, ainda no fim do ano passado. "Os docentes terão formação contínua a esse respeito. Com os alunos alfabetizados, as regras serão trabalhadas no dia a dia, sem atropelos", afirma a educadora Keila Lima, do Departamento de Educação Básica da Secretaria de Estado da Educação (Seed). Os livros didáticos distribuídos pelo Ministério da Educação (MEC) deverão estar totalmente adaptados apenas em 2010. O material que será usado pelos alunos neste ano já foi adquirido.
Nas universidades vale a mesma regra: provas e monografias poderão ter as duas grafias. Em relação ao vestibular, nem todas instituições definiram como deve ser o processo. Acredita-se que a prova será produzida com as novas regras, mas para as respostas discursivas e redações devem valer as duas formas. A Universidade Tuiuti do Paraná diz que vai aceitar ambas, desde que o aluno escolha uma das formas e escreva o texto do início ao fim com a mesma regra, ou seja, não dá para escrever uma vez ideia e depois "idéia" em um único texto.
A Gazeta do Povo adotou as novas regras desde o dia 1º de janeiro, assim como alguns órgãos públicos, como a prefeitura de Curitiba e o Ministério Público do estado. Mas ainda existem muitas entidades que não estão preocupadas com isso no momento, até porque há um prazo de quatro anos para a adaptação. O Museu de Língua Portuguesa ainda não adotou a nova gramática, assim como o Diário Oficial do Estado do Paraná, que continua publicando os textos com as antigas regras. A Imprensa Oficial, que publica livros, pretende organizar uma comissão em fevereiro para discutir o assunto. No Tribunal de Justiça e na Câmara de Vereadores, o português antigo é o que vale para as publicações. A agência de notícias do governo do estado trabalha com as novas regras.
Para o presidente da Comissão de Língua Portuguesa do Ministério da Educação e do Instituto Internacional de Língua Portuguesa, Godofredo de Oliveira Neto, as empresas e o governo deveriam adotar a nova ortografia desde o dia 1º. "A reforma já está valendo", afirma. Mas ele também recorda que não há punições previstas para quem desobedecer às regras no país.
* * * * *
Interatividade
Você ainda tem muitas dúvidas sobre as novas regras ortográficas?
Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br ou deixe seu comentário abaixo
As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.