Quando os moradores de Santa Lúcia, no Oeste do Paraná, recebem a informação de que o município possui o segundo maior porcentual de casais sem filhos entre todas as cidades paranaenses, a reação é de espanto. Mas bastam alguns minutos de conversa para que eles puxem pela memória os nomes de vários conhecidos que estão nessa situação. O que se percebe na cidade não é uma indisposição para ter filhos, mas um cuidado para planejar melhor a gestação, mesmo que para isso seja necessário aguardar alguns anos.
Com apenas 3,9 mil habitantes, o município teve contabilizados pelo IBGE 320 casais sem filhos. Ali, 24,6% dos casais não têm filhos, mas considerando somente os núcleos familiares (excluindo domicílios onde há um só morador), o porcentual é de 33,5%, o mais alto entre os 399 municípios do estado. Tanto o prefeito Renato Tonidanel quanto o secretário municipal de Saúde, Geomir Cechim, não conseguem encontrar uma razão para os números. "É um dado surpreendente", admite o prefeito.
Entre os vários casais que engrossam as estatísticas, é difícil encontrar algum que não tenha nos planos a geração de um filho. Raquel de Oliveira e Marcelo Alex da Silva são casados há dois anos, mas pretendem esperar pelo menos mais um antes de serem pais. "Nossa ideia é aproveitar bastante o casamento até lá. Queremos ter um pouco de liberdade, viajar e construir nossa casa antes de ter um filho", revela. No caso de Flávia e Dioni Rodrigues, casados há seis anos, o que tem pesado é a estabilidade financeira. "Queremos dar um conforto melhor à criança, para que ela não venha a sofrer", explica a comerciante, projetando a gravidez para o próximo ano.
O pesquisador do IBGE José Eustáquio Diniz Alves confirma que o fato de as pessoas estarem planejando melhor a gravidez contribui para alimentar as estatísticas de casais sem filhos. "Em alguns casos, elas acabam adiando demais e esbarram na questão biológica. Quando veem, passou o momento de se ter um filho."
Deixe sua opinião