O estudante de Direito Bernardo Dayrell, 24 anos, era considerado um "líder intelectual" dos neonazistas no Brasil. Ele morava em Belo Horizonte (MG) e, segundo pessoas ouvidas pela reportagem da Gazeta do Povo na semana passada, era um dos editores da revista virtual O Martelo, disponível para download em sites nazistas hospedados fora do país. Bernardo e Renata Waechter Ferreira, 21 anos, namoravam há cerca de três anos, segundo uma colega dela no curso de Arquitetura da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). De acordo com a estudante, eles planejavam se casar no fim deste ano.
O casal teria organizado o churrasco da noite de 20 de abril, em uma chácara em Quatro Barras, na região metropolitana de Curitiba, quando foram comemorados os 120 anos de nascimento do ditador alemão Adolf Hitler (1889-1945). Dayrell teria feito um discurso em que pedia a outros integrantes do movimento para pararem de agredir gays e travestis, que estariam prejudicando a imagem do grupo. O estudante teria sido morto por skinheads que defendem a violência.
De acordo com pessoas ligadas ao movimento neonazista, Renata tinha mais afinidade com a parte "mística" do movimento muitos neonazistas cultuam os deuses da mitologia nórdica, como Odin e Thor. "Ela gostava de saber a respeito dessas coisas, mas não era uma adoradora", afirma a estudante de Arquitetura Ligia Drula, 22 anos, colega de Renata. "Curiosidade a gente tem por um monte de coisa, mas não eu nunca vi nenhuma ligação com alguma coisa extremista." A morte do casal foi noticiada em pelo menos três sites e fóruns internacionais de neonazistas.
O perfil de de Bernardo Dayrell no site de relacionamentos orkut não traz nenhuma comunidade ou referência direta ao nazismo. Outro perfil, no entanto, apenas com o nome Dayrell, tem comunidades como "A indústria do Holocausto" e "Südbrasilien Division" ("divisão sul-brasileira"). Entre os amigos deste perfil estão várias pessoas assumidamente nazistas, que usam codinomes e colocam a palavra "luto", em referência à morte do casal.
A revista O Martelo, que teria a participação de Dayrell, tem textos racistas e piadas de cunho racialista, além de matérias que defendem a separação da Região Sul do país e reportagens sobre bandas que pertencem a um estilo chamado "RAC" (rock anticomunista).