| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

O tempo arrefece – a dor do luto, a revolta geradora de militância, a ânsia por justiça. Essa é a conclusão do advogado Gilberto Gaeski, 56 anos, que em 2005, movido pelo desejo de ajudar pessoas que tivessem passado pela mesma experiência arrasadora que ele, oferecia assistência jurídica para vítimas do trânsito. Um ano antes, no primeiro dia de 2004, ele perdeu a filha Bruna, de 16 anos, atropelada quando retornava para casa depois das comemorações de réveillon.

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Foram oito anos de espera até que a motorista que atingiu Bruna fosse a júri popular. A condenação veio, mas entre recursos e prescrições, o mandado de prisão foi expedido apenas em novembro de 2015. A demora colocou tudo em perspectiva.

“Não há satisfação possível de um episódio como esse. A sanção veio 12 anos depois da morte da Bruna. A pessoa que cometeu o crime na época era uma menina inconsequente. Mas o tempo passou, ela se formou, casou, hoje tem três filhos. Essa pena era para aquela pessoa de 12 anos atrás. Hoje, não acho nem justo que ela cumpra a pena imputada. A sensação que fica é de que foi tudo meio em vão.”

Embora a experiência pessoal o confronte, Gilberto não quis fazer do trânsito uma bandeira. Sem vocação para o sofrimento, tratou de seguir adiante e, “por instinto de preservação”, procurou se manter distante da militância.

Em um momento em que o Paraná se prepara para acompanhar o júri popular do ex-deputado Luiz Fernando Ribas Carli Filho, acusado pela morte de dois jovens em um acidente de trânsito ocorrido em 2009, Gilberto se revela cético sobre os desdobramentos do caso.

“Dez anos atrás eu acreditava mais no Estado e na Justiça. Mas os crimes de trânsito continuam acontecendo e a correção, não – tanto por parte da Justiça e do Estado, que são deficientes e não te assistem, como por parte das pessoas que constituem o trânsito. O caráter pedagógico da pena não resiste à demora. O resultado é uma pena que não altera a realidade de quem foi vítima do crime e não impacta a realidade do trânsito. A justiça não redime.”

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A experiência de perder um filho – “Um pai que perde um filho é o quê? Não há o que defina” – calejou. Mas Gilberto acredita ter se tornado mais forte e mais reflexivo sobre si mesmo e a família. Desde a morte de Bruna, ele e a esposa, Márcia, comemoram o aniversário da filha, em 16 de outubro, com crianças carentes. Foi a forma encontrada para que a data não se transformasse em um dia de tristeza – é só a saudade que não cessa.