Polícia encaminha caso ao Ministério Público
A Delegacia de Homicídios (DH) entregou, na quinta-feira (13), ao Ministério Público do Paraná (MP-PR) o relatório final das mortes atribuídas ao coronel Martins. A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) se limitou a confirmar o fato em uma nota de cinco linhas. A entrevista coletiva que tinha chegado a ser mencionada no site da Polícia Civil não foi realizada. "O caso agora está nas mãos do MP e a investigação foi concluída (...) a Polícia Civil não vai mais se manifestar sobre o assunto", resume o comunicado.
Na segunda-feira, a Gazeta do Povo adiantou que a polícia havia concluído os inquéritos e indiciado Martins pelos nove homicídios. Os assassinatos foram cometidos entre 8 de agosto de 2010 e 14 de janeiro deste ano. As mortes ocorreram em cinco ataques distintos (quatro duplos homicídios e um homicídio simples) e obedeceram a uma mesma dinâmica: foram cometidos na madrugada, muito próximos um do outro, e as vítimas eram usuários de entorpecentes ou estavam em pontos de consumo.
Um laudo do Instituto de Criminalística (IC) apontou que em dois ataques foi usada a mesma arma. A polícia cruzou a prova técnica com depoimento de testemunhas, que reconheceram o coronel e o colocaram na cena do crime nos cinco casos.
Acusado de ser o autor de nove assassinatos em série, o coronel Jorge Luiz Thais Martins rompeu o silêncio, na quinta-feira (13), com um questionamento: "Por que eu?". Ao longo de entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, na casa dele, a expressão foi repetida seis vezes. Sem encontrar uma resposta à própria pergunta, o ex-comandante do Corpo de Bombeiros jurou inocência e afirmou nunca ter precisado efetuar um único disparo. "Eu fechei 37 anos de profissão e nunca usei arma na vida (...). Eu nunca precisei usar, não foi disparada nem em aula de instrução", garantiu.
Martins disse estar tentando restaurar o "caco" que a vida dele e da família se tornou, desde outubro de 2009, quando o filho dele Jorge Guilherme foi assassinado em uma tentativa de assalto. A sequência de homicídios atribuídos ao coronel começou semanas depois que os dois suspeitos de terem matado o filho de Martins foram postos em liberdade. O ex-comandante dos Bombeiros afirmou que nunca esteve no local onde os crimes ocorreram na chamada "Favela da Rocinha", no Boqueirão e alega que não tinha motivos para cometer os assassinatos. "Se eu quisesse matar alguém, ia procurar esses [os assassinos do filho], não aqueles pobres coitados", disse. "Eu nunca pensei em vingança, porque não resolve", complementou.
Investigações
Vestindo um agasalho do Bologna (time que o filho dele defendeu, jogando futsal na Itália), o coronel também questionou pontos no trabalho da polícia. Martins aponta que as suspeitas teriam começado a recair sobre ele, depois de o primeiro inquérito policial fazer menção a um policial militar, que teria tido um familiar assassinado. "Isso deve ter passado de boca em boca, até surgir meu nome. Não tem outra explicação", disse.
O coronel demonstrou mágoa por não ter sido intimado a prestar depoimento, logo no início das investigações. As suspeitas sobre Martins só se tornaram públicas no fim de janeiro, quando a Justiça já havia decretado a prisão temporária dele. "Fui exposto à mídia já como assassino. Por que não se colocou policiais de campana para ver se eu saia de madrugada? Por que não colocaram escutas no meu telefone?", questionou. Ele ficou preso por duas semanas, entre o fim de janeiro e o início de fevereiro.
Por causa da exposição, o ex-comandante também levantou suspeitas sobre os procedimentos de reconhecimento a que foi submetido. Na ocasião, nove testemunhas foram convocadas pela polícia e apontaram o coronel. Em contrapartida, ele diz que a polícia desprezou o depoimento das testemunhas apontadas pela defesa e provas que comprovariam que Martins não estaria em Curitiba na data dos crimes. "A palavra das minhas testemunhas não vale? É mais importante a palavra daquelas pessoas, que talvez estejam me acusando para salvaguardar a própria vida", lamentou.
Martins se mostrou orgulhoso por sua galeria de condecorações e certificados dos tempos de corporação. Ele parece olhar para o passado, principalmente quando fala de fotos afixadas nas paredes. As esperanças do futuro, para o coronel, no entanto, podem ser resumidas pela palavra "Justiça". "Agora, quando acusam pessoas inocentes, você não sabe a dor que é", desabafou. "Mas eu espero Justiça e confio na Justiça".
O caso
O coronel Jorge Luiz Thais Martins é acusado de ser o autor de nove homicídios, ocorridos entre 8 de agosto de 2010 a 14 de janeiro deste ano. Foram cinco ataques (quatro duplos homicídios e um homicídios simples) que, segundo a polícia, obedeceram a mesma dinâmica: foram cometidos na madrugada, muito próximos um do outro (na chamada "Favela da Rocinha"), e as vítimas eram usuários de entorpecentes ou estavam em pontos de consumo.
Os crimes ocorreram próximo do ponto onde o filho de Martins foi morto em uma tentativa de assalto, em outubro de 2009. Os ataques começaram semanas depois que dois suspeitos pelo assassinato do filho do coronel e que seriam usuários de drogas foram postos em liberdade.
Segundo as investigações, as suspeitas começaram a recair sobre Martins após um duplo homicídio registrado no dia 10 de novembro de 2010. Duas semanas depois do crime, um homem que foi baleado no ataque e que sobreviveu, apontou, segundo a polícia, o coronel em fotografias. A partir de então, os trabalhos foram aprofundados.
As investigações das mortes se arrastam há um ano e dois meses, mas as suspeitas sobre Martins só foram divulgadas em janeiro deste ano. Entre os subsídios que embasam a conclusão da polícia está o exame de balística realizado pelo Instituto de Criminalística (IC), que teria comprovado que partiram da mesma arma os tiros que mataram vítimas em dois atentados, ocorridos dias 1.º e 14 de janeiro deste ano. Juntos, os ataques resultaram na morte de três pessoas; outras três foram baleadas, mas sobreviveram.
Além desta prova técnica, a polícia ouviu testemunhas que indicaram Martins em procedimentos de reconhecimento pessoal, feitos pela DH. Moradores do bairro onde as mortes ocorreram colocaram o coronel na cena do crime dos cinco ataques. Ao longo das investigações, foram ouvidas mais de 30 pessoas, entre testemunhas e pessoas apontadas pelos advogados do ex-comandante dos Bombeiros.
O ex-comandante dos Bombeiros vai responder pelos crimes em liberdade. Ele chegou a ficar preso por duas semanas, entre o fim de janeiro e o início de fevereiro, mas foi posto em liberdade graças a um habeas corpus concedido pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR).
Vida e Cidadania | 14:52
Em entrevista exclusiva, concedida à Gazeta do Povo, o ex-comandante Corpo de Bombeiros, Jorge Luiz Thaís Martins, se defende das acusações e nega envolvimento com assassinatos ocorridos no bairro Boqueirão, em Curitiba.
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