Matar para não morrer. Essa foi a defesa apresentada pelo estudante de Direito Vágner Eizing Ferreira Pio, 25 anos, preso na última terça-feira sob acusação de assassinar Luiz Antônio Paolicchi, seu ex-companheiro e figura conhecida da política de Maringá. O crime ocorreu no fim de outubro deste ano. Em entrevista exclusiva, Pio disse que era agredido por Paolicchi e recebia ameaças constantemente de Paolicchi. Por isso, teria resolvido matá-lo. Outras três pessoas estão presas por envolvimento no homicídio.
Quando você conheceu Luiz Antônio Paolicchi?
Há mais ou menos dois anos, mas morávamos juntos há dez meses apenas. Nos conhecemos em uma festa em Maringá. Ele me viu e pediu meu telefone para amigos próximos meus. Depois, me ligou e fomos conversando.
De quem foi a ideia da união estável?
A ideia foi dele [Paolicchi]. O advogado recomendou que ele fizesse esse documento, porque, por meio do contrato com regime de comunhão universal de bens, ele iria resguardar parte do patrimônio dele ou pelo menos atrasar alguns leilões [dos próprios bens, que, segundo Pio, estavam todos bloqueados pela Justiça]. Ele precisava de alguém [um companheiro] para fazer isso. Ele queria apenas guardar o patrimônio.
Como era o relacionamento de vocês?
Era bom no começo, nas primeiras semanas [da época em que moravam juntos]. Na verdade só aceitei ir morar com ele porque fui demitido do banco e fiquei sem rumo. Não tinha mais como bancar minhas despesas de faculdade e moradia. Não tinha como me manter aqui [Maringá]. Do contrário não teria aceito [o pedido de morar junto] de forma alguma.
Depois das primeiras semanas, a convivência se tornou difícil?
Daí por diante sim. Não me deixava sair nem ir para Paranavaí ver meus pais. Todas as [minhas] conversas eram monitoradas e só podia usar o telefone celular dele. Tudo por ciúmes.
Vocês discutiam muito?
Discussão, agressão física e moral. Tentei sair do apartamento no primeiro mês. Ele já tinha planejado a união estável e começou a me ameaçar se eu saísse. Dizia que iria me encontrar onde eu estivesse. Ele me deu tapas no rosto, socos. Nunca reagi porque sabia que ele tinha contatos com pessoas perigosas. Tinha muito medo. Fiquei sem amigos e preso no apartamento. Era uma prisão. Só podia ir para a faculdade e voltar com horário marcado. Mais nada.
Ele tinha interesse no dinheiro da ação trabalhista que você moveu contra o banco onde trabalhou?
Ele sempre dizia que eu receberia entre R$ 120 mil e R$ 200 mil [com a ação]. Ganhei a primeira instância e o banco recorreu. Está para sair a segunda instância. Mas o interesse dele no dinheiro era nítido, porque ele estava sendo pressionado por pessoas que estavam atrás dele.
A Polícia Civil diz que você é o mentor da morte do Paolicchi. Isso é verdade?
Sim. Eu não via outra saída. Ou era isso [assassinar Paolicchi] ou ele iria esperar sair a ação do banco e eu ia ser... [Pio interrompe a frase]. Peguei uma conversa dele ao telefone. Não falou meu nome, mas falou em apagar e que tinha de dar um tempo e esperar sair o dinheiro primeiro. Vi o interesse que ele tinha no dinheiro e comecei a ficar com medo porque ele já tinha me ameaçado de morte. Ele tinha interesse em me apagar porque o patrimônio dele estaria resguardado com o contrato de união estável e ainda ficaria com a indenização.
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