Médicos, enfermeiros e servidores do Hospital Evangélico de Curitiba promoveram, no início da tarde deste domingo (24), um abraço simbólico no prédio da instituição, localizada no bairro Bigorrilho. Os profissionais manifestaram apoio ao hospital, diante das denúncias contra a médica Virgínia Soares de Souza, presa na última semana, acusada de abreviar a vida de pacientes da Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A direção do Evangélico, no entanto, não se manifestou sobre as novas prisões e denúncias envolvendo profissionais da entidade.
No sábado (23), a Polícia Civil divulgou que Virgínia não é intensivista, especialidade médica necessária para dirigir uma UTI. Segundo as investigações, na prática, era Virginia quem dirigia a unidade, mas outro médico do Evangélico assinava os documentos por ela. Presentes no abraço simbólico, diretores do Hospital Evangélico preferiram não comentar esta nova denúncia, mas garantiram que vão se manifestar ao longo desta semana.
O secretário Municipal de Saúde, Adriano Massuda, disse que uma sindicância que é realizada pela pasta havia confirmado que Virgínia não possui especialização de médico intensivista. "Realmente, isso acontecia. Mas, isso deve ser apurado mais detalhadamente pelo Conselho Regional de Medicina (CRM) e pela polícia", disse.
Por outro lado, o secretário de Estado da Saúde, Michele Caputo Neto, afirmou não ter conhecimento sobre a falta de especialização de Virgínia para o posto que ela, de fato, desempenhava. "Não tenho esta informação. Mas agora o importante é separar o joio do trigo. Essas denúncias não podem se sobrepor à história do Evangélico", resumiu.
Em nota, o Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) informou que aguarda a liberação dos documentos da Polícia Civil para instruir uma sindicância aberta para apurar o caso. "Esta Casa já instou o departamento de Polícia e aguarda a entrega dos autos com a finalidade de instruir sindicância, já aberta, visto tratar-se de um caso que tramita em segredo de justiça", diz o texto.
Também no sábado, três médicos que integraram a equipe de Virgínia foram presos, suspeitos de envolvimento nas mortes de pacientes. Uma enfermeira teve a prisão preventiva decretada e deve se apresentar às autoridades na segunda-feira (25).
A manifestação
Cerca de 500 pessoas ligadas ao Hospital Evangélico participaram, por volta do meio-dia deste domingo, do ato de apoio à instituição. Eles promoveram um abraço simbólico ao prédio e rezaram o Pai Nosso. Em seguida, houve um minuto de silêncio, motivado pelas denúncias referentes às mortes de pacientes do hospital.
A manifestação foi conduzida pelo capelão do Evangélico, Epaminondas Carmargo da Silva, que ressaltou que a instituição trabalha em respeito à sociedade e para salvar vidas. "A instituição merece o nosso respeito", disse. Ele também classificou as denúncias envolvendo o hospital como "a fase mais difícil da história" do Evangélico.
Após o ato, médicos, enfermeiros e funcionários se posicionaram de frente para o prédio e fizeram uma salva de palmas à instituição. A manifestação terminou com os participantes se abraçando. Emocionados, alguns choravam.
"Apesar da gravidade das denúncias, a sociedade pode confiar na seriedade e no bom atendimento do Hospital Evangélico", disse o secretário Adriano Massuda. Ele ressaltou a importância do hospital para o sistema de saúde pública não só de Curitiba, mas para o Paraná e destacou a qualidade da instituição no atendimento a vítimas de traumas e de queimaduras.
Outros apoios
No sábado, outras entidades emitiram notas em apoio ao Hospital Evangélico. Entre eles, o Ministério Público do Paraná (MP-PR), o Conselho Federal de Medicina e o Conselho Regional de Medicina, além das secretarias Municipal e Estadual de Saúde. . "As investigações que têm sido noticiadas pelos meios de comunicação, por certo, não afetam a qualidade técnica dos serviços prestados no Hospital Evangélico", disse o MP-PR.
Pelo Twitter, o prefeito Gustavo Fruet (PDT) também se manifestou, informando que apoia as investigações, mas ressaltando que "o fato negativo não pode contaminar o hospital". O comandante da Polícia Civil, o delegado-geral Marcus Vinícius Michelotto, comentou as investigações pelo Twitter. Ele afirmou que "confia na classe médica paranaense" e explicou que o objetivo das apurações não é fechar o Hospital Evangélico, "nem generalizar um fato que consideramos ser isolado".
Outras prisõesNa noite de sexta-feira (22), a Justiça determinou a prisão temporária por 30 dias de três médicos e de uma enfermeira. Todos integraram a equipe da médica da médica Virgínia e são investigados por envolvimento nas mortes de pacientes. O Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde (Nucrisa), da Polícia Civil do Paraná, não divulgou detalhes da investigação, que corre sob sigilo de Justiça.
Três dos quatro mandados haviam foram cumpridos neste sábado. Foram detidos os médicos Maria Israela Cortez Boccato, Edison Anselmo da Silva Júnior e Anderson de Freitas. A enfermeira que também teve a prisão decretada não está em Curitiba e deve se apresentar na segunda-feira (25).
A prisão de temporária por um período de 30 dias da médica Virgínia também foi convertida em preventiva. Com isso, a acusada deve permanecer detida por tempo indeterminado, até nova decisão judicial. O advogado dela, Elias Mattar Assad, disse que, no início da próxima semana, vai pedir a revogação da prisão.
Escutas telefônicas
A defesa da médica Virgínia Soares de Souza, apresentou neste sábado ao Nucrisa uma autorização do juiz Pedro Sanson Corat para que os advogados tenham acesso às gravações telefônicas que embasam a investigação da Polícia Civil. Porém, segundo o advogado Samir Assad, que compõe a defesa, as escutas não foram liberadas, por falta de expediente. A informação é que a delegacia só conseguiria repassar o material na próxima segunda-feira (25).
"A delegada está descumprindo uma ordem judicial. As gravações são importantes, porque eles [a polícia] estão pegando trechos de conversas, cujo contexto não sabemos qual é, e estão usando como pretensas provas", disse Assad.
Polícia investiga seis óbitos na UTI
Após conseguir acesso ao inquérito sigiloso que investiga a médica Virgínia Soares de Souza, a defesa dela afirmou nesta sexta-feira (22) que a Polícia Civil apura as circunstâncias de seis óbitos e que havia um policial infiltrado como enfermeiro na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) geral do Hospital Evangélico.
Além disso, o advogado Elias Mattar Assad, que defende Virgínia, disse que a investigação está embasada apenas em relatos de familiares de supostas vítimas já que ainda não viu relatório algum feito pelo agente infiltrado no inquérito. A médica nega, segundo o advogado, a acusação de decidir sobre a morte de pacientes.
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