Outro lado
Advogado de Martins critica inquérito e diz não haver provas
O advogado Eurolino Sechinel dos Reis, que representa o coronel Jorge Martins, atacou duramente o inquérito policial que embasou a decisão da Justiça que determinou a prisão preventiva do acusado. Classificando a peça de "lixo", o defensor avaliou que não existe provas consistentes contra o ex-comandante dos Bombeiros. "[O inquérito] é um dos maiores absurdos que eu já vi em minha carreira e que denigre um homem que, durante 37 anos, lutou para salvar vidas", disse, em entrevista coletiva na noite de ontem.
De acordo com o advogado, os atentados cuja autoria é atribuída ao coronel ocorreram em datas em que o acusado não se encontrava em Curitiba. Sechinel dos Reis também contestou o fato de os nomes das testemunhas terem sido mantidos sob sigilo no inquérito. "O nome do coronel foi para o lixo, enquanto a identificação dos vagabundos nem constam [no inquérito]", afirmou.
Apesar de afirmar que leu o conteúdo do inquérito apenas superficialmente, Sechinel dos Reis afirmou que as provas são fracas e que, diante da "falta de probativo", a defesa vai impetrar, ainda nesta semana, um pedido de habeas corpus, com o objetivo de garantir que o coronel permaneça em liberdade.
Revolta pode ter levado a homicídios
Como um bombeiro treinado a vida inteira para salvar, socorrer e atender vítimas pode ser capaz de cometer uma série de crimes como os que foram atribuídos ao coronel reformado Jorge Luiz Thais Martins? Para especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, a tese mais provável para compreender o impulso de alguém que decide fazer justiça com as próprias mãos é um desvio de personalidade pós-traumática.
A Justiça determinou a prisão temporária do ex-comandante do Corpo de Bombeiros, o coronel reformado Jorge Luiz Thais Martins, 56 anos. Ele é acusado de ter matado a tiros pelo menos nove pessoas em Curitiba nos últimos cinco meses. Segundo a polícia, as vítimas eram todas usuárias de drogas ou estavam em pontos de consumo de entorpecentes. O advogado de defesa Eurolino Sechinel dos Reis diz que Martins deveria se entregar a qualquer momento, mas até o fechamento desta edição ainda não havia se apresentado à polícia e era considerado foragido.
Os crimes atribuídos ao coronel foram cometidos a partir de agosto de 2010, semanas depois que dois jovens acusados de terem matado o filho de Martins em um assalto em outubro de 2009 foram postos em liberdade. Todos os homicídios dos quais ele é acusado foram cometidos no bairro Boqueirão, durante a madrugada, na região onde o filho dele foi morto. Os alvos eram pequenos grupos de pessoas que estavam usando drogas no instante dos ataques.
Os relatos feitos à polícia apontam que um carro de cor escura um Honda Civic ou um Citroën era usado nas execuções. Ao longo dos cinco meses, foram pelo menos cinco atentados, que fizeram 14 vítimas nove delas morreram. Em apenas um dos ataques não houve sobreviventes. Ao que tudo indica, o autor dos crimes agiria sozinho.
O inquérito policial é embasado em depoimentos de quatro pessoas, entre testemunhas e vítimas que resistiram aos ferimentos. Todas teriam reconhecido o coronel Martins em fotografias. As investigações também estão respaldadas por provas periciais como exames balísticos , que comprovariam a autoria dos assassinatos em série.
O primeiro crime atribuído ao coronel teria ocorrido no dia 7 de agosto, quando três homens que estavam em terreno, conhecido por ser um ponto de consumo de drogas, foram atacados a tiros. Uma das vítimas morreu no local e outra, no hospital. Um homem de 30 anos foi baleado, mas escapou com vida.
Busca e apreensão
Na manhã de ontem, policiais cumpriram mandado de busca e apreensão na residência do coronel Martins. O objetivo era reunir provas que embasem ainda mais o inquérito policial e que comprovem o envolvimento do ex-comandante dos Bombeiros nos homicídios.
A Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) não se manifestou sobre as investigações e não divulgou informações sobre o resultado do cumprimento dos mandados. Por conta da determinação da Sesp, a Delegacia de Homicídios (DH), unidade policial responsável pelas investigações, também não pôde dar mais detalhes sobre as investigações. "Qualquer ação por parte do coronel Martins que esteja sendo investigada é considerada de caráter pessoal, de cidadão comum, sem relação nenhuma com a instituição que comandou", limitou-se a informar a secretaria em nota oficial.
Espanto
Entre os colegas de farda do coronel Martins, o clima é de incredulidade. Para o comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Luiz Henrique Pombo, que trabalhou com Martins, a notícia do envolvimento dele em nove assassinatos é motivo de surpresa para todos. "Não vejo o coronel portando uma arma e matando pessoas por aí", disse. Além de companheiros de trabalho, eles também mantinham um convívio pessoal. O coronel Pombo conta que os filhos de ambos brincaram juntos.
Durante oito anos, Pombo atuou ao lado do coronel Martins como sub-comandante, no litoral. Segundo ele, o ex-comandante sempre foi uma pessoa ponderada, calma e metódica. Lembra que, após a morte do filho, o então comandante ficou muito abalado, mas voltou ao trabalho.
Martins trabalhou no Corpo de Bombeiros por 37 anos. Comandou o Primeiro Grupamento dos Bombeiros de Curitiba e o Corpo de Bombeiros do litoral até encerrar a carreira em 2009. Em seu currículo constam o reequipamento da corporação e a criação do Bombeiro Comunitário.
Colaborou Diego Ribeiro.
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