O ex-reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Zaki Akel Sobrinho foi intimado a prestar depoimento na Polícia Federal na tarde desta quarta-feira (15). Akel Sobrinho falou com a Gazeta do Povo sobre os desvios ocorridos no setor de pesquisa da instituição e detalhou os procedimentos internos da universidade. Ele disse lamentar que o nome da instituição foi associado “a páginas policiais”, a partir da deflagração da Operação Research, mas garantiu estar “tranquilo” com a investigação.
Segundo Akel Sobrinho, uma auditoria do Tribunal de Contas da União identificou as bolsas pagas irregularmente. A universidade foi comunicada em novembro de 2016 e medidas teriam sido tomadas para interromper os pagamentos e suspender os envolvidos enquanto a situação era apurada. Naquela mesma época, o então reitor disse que procurou a PF e foi orientado a formalizar os desdobramentos do caso.
Ele afirma que fez uma gestão transparente e se disse “surpreso” com o desvio de R$ 7,3 milhões que deveriam ser aplicados em pesquisa. “Como cidadão e como gestor da universidade, estou indignado ao saber que funcionários abusaram da confiança”, afirma.
Para o ex-reitor, as duas servidoras acusadas de comandar o esquema – Conceição Abadia de Abreu Mendonça e Tânia Marcia Catapan – conheciam profundamente a operação do sistema e encontram brechas para burlar os mecanismos de controle. Contudo, ele reconhece que o desvio expôs uma fragilidade. “Agora que a situação está exposta, todas as universidades estão reavaliando seus processos”, relata.
Ele também destacou que a pró-reitoria de pesquisa tinha orçamento próprio e que não era o ordenador de despesa. Segundo o despacho judicial, o ex-reitor teria “responsabilidade na fiscalização da concessão de bolsas”. Ele também enfatizou o tamanho da universidade, com uma estrutura gigantesca e orçamento mais de R$ 1 bilhão. “Crimes são cometidos em vários lugares. Pessoas se infiltram em instituições para saqueá-las”, afirma. “Qualquer desvio de recurso público é odioso”, destaca.
Sobre o fato de a funcionária Conceição ter sido escolhida para um cargo de confiança, responsável pela administração do dinheiro da pró-reitoria de pesquisa, mesmo depois de ter sido acusado em 2008 de fraudar licitações, o ex-reitor salienta que ela havia sido inocentada durante a investigação e, portanto, não tinha motivos para ser alvo de desconfiança. Akel Sobrinho disse ainda que comunicou a gestão seguinte sobre os desdobramentos da investigação e que foram criados mecanismos para evitar que situações semelhantes se repitam. Além disso, admite que o dinheiro fez falta para outras áreas da instituição e que espera que seja possível restituir os valores desviados.
Outro lado
O advogado de dez supostos bolsistas e da funcionária Tânia Márcia Catapan, Marlon Bizoni Furtado, afirmou que seus clientes foram “laranjas” na história. Segundo ele, essas pessoas assinaram procurações que acabaram sendo usadas para abrir contas e que a maioria sequer ficava com o cartão bancário dessas contas.
“Todas elas foram laranjas dessa situação. São pessoas humildes que receberam uma oportunidade para assinar procurações. Essas [procurações] efetivaram a abertura de algumas contas. Mas muitos deles nem sequer têm cartão da agência. Eles acabaram recebendo valores irrisórios para manter essa conta ativa, em alguns casos R$ 300”, disse Furtado.
O advogado conta que esses bolsistas citaram Conceição Abadia de Abreu Mendonça, chefe da Unidade de Orçamento e Finanças da PRPPG no período em que o esquema se desenvolveu, como o contato delas na universidade. “Mas eles acreditam que ela também foi usada”, argumentou. Sobre a ex-secretária administrativa do gabinete da pró-reitoria de pesquisa e pós-graduação da UFPR, o advogado afirmou que o envolvimento dela é um equívoco. “Alguns documentos se deterioraram durante a ocupação estudantil e foram jogados fora. Ela não tem nada a ver com isso.”
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