Depois da explosão de pelo menos oito bueiros no Rio neste ano, uma delas atingindo um casal de americanos, uma questão que passou a atormentar a população é se o subsolo da cidade, formado por quilômetros de emaranhados de cabos elétricos e tubulações de água e gás, seria um campo minado.
Um especialista em estudos de risco, entrevistado pelo portal G1, diz que a situação exige das concessionárias um mapa atualizado desse território, que passa por constantes intervenções subterrâneas, para que as ações sejam planejadas e evitem riscos para a população.
Diante das últimas ocorrências, o prefeito Eduardo Paes convocou os representantes das concessionárias para propor parceria e estabeleceu regras mais severas de controle das operações. Na última quarta-feira (14), mais um bueiro explodiu no Rio. Desta vez, em Ipanema.
"É preciso fazer um ajuste no plano de manutenção e avaliar se a frequência de inspeção deve ser reforçada em alguns pontos. Pelo número das ocorrências, parece que isso não tem sido feito", afirma o pesquisador Moacyr Duarte, coordenador do grupo de análise de risco tecnológico e ambiental do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ).
"Número de explosões não pode ser comum"
"Pela escala de risco é possível identificar e classificar as câmaras subterrâneas de acordo com o grau de risco e planejar melhor as inspeções. Pelos últimos incidentes, o que está sendo feito deve ser melhorado. Esse número de explosões em curto período não pode ser considerado uma coisa comum", acrescenta.
Para Moacyr Duarte, algumas explosões, que levantam as tampas dos bueiros, podem ser causadas da seguinte forma: pela contaminação das câmaras elétricas com gás ou vazamento de combustível automotivo, em geral de postos de gasolina; ou quando há curto das chaves elétricas de grande porte (transformadores) que operam com óleo isolante.
Pelo menos oito bueiros explodiram nas ruas do Rio nos últimos 6 meses. Um dos casos mais graves foi no dia 29 de junho, na esquina das ruas República do Peru e Avenida Nossa Senhora de Copacabana, na Zona Sul, que deixou um casal de americanos ferido e assustou quem passava pelo local.
A explosão arremessou a tampa de um bueiro da Light que pesa cerca de 300 kg até perto de um sinal de trânsito. A americana sofreu queimaduras em 80% do corpo, já o marido, em 35%.
Em resposta ao G1, a assessoria de imprensa da Light afirma que ainda aguarda a conclusão do laudo sobre a ocorrência que deixou os americanos feridos.
Em nota, a empresa informa sobre o programa de manutenção das instalações subterrâneas.
Nota da Light
"A Light possui um planejamento estratégico das ações necessárias para toda a rede de distribuição, visando identificar pontos mais sensíveis, devido a uma série de peculiaridades da área de concessão da empresa. São locais que necessitam de maior reforço na rede ou de manutenção em intervalos mais curtos.
Por exemplo, as câmaras que estão localizadas em áreas mais sensíveis são vistoriadas a cada 30 dias. Nas outras, a periodicidade varia de 60 a 90 dias. Nessas inspeções são verificadas a parte estrutural da câmara, a funcionalidade e o estado dos equipamentos elétricos, ventilação etc.
Nos últimos meses, o volume de recursos para investimentos, operação e manutenção foi ampliado. O monitoramento da rede elétrica, por meio do aumento da fiscalização no sentido de agilizar a identificação da necessidade de troca de equipamentos, ou de qualquer outra ocorrência, tais como inundações e furtos de cabos e boias.
No caso da rede subterrânea, que atende cerca de 500 mil consumidores, os investimentos passaram dos R$ 12 milhões aplicados em 2009 para R$ 32 milhões em 2010.
As despesas em manutenção também foram elevadas: o montante de R$ 6 milhões de 2009 passou para R$ 10 milhões neste ano."
Histórico das últimas explosões
1) Em 25 de janeiro a explosão em uma câmara da rede subterrânea da Light, na esquina das avenidas Princesa Isabel e Nossa Senhora de Copacabana, em Copacabana, causou ferimentos em duas pessoas.
2) Um bueiro explodiu no dia 26 de fevereiro na Rua Santa Clara, Copacabana. Cinco prédios envolvendo 113 apartamentos residenciais e 255 lojas ficaram sem luz, e a rua teve o tráfego interditado até as 9h30.
Em nota, a Light disse que não houve sobrecarga no sistema elétrico e que foi constatado furto de 80 metros de cabos o que teria acarretado um superaquecimento e a interrupção do fornecimento de energia para os prédios. Segundo moradores, desde a tarde da véspera da ocorrência estava saindo fumaça deste bueiro que explodiu.
3) No início da tarde de 8 de março dois bueiros explodiram na esquina das ruas do Ouvidor com Uruguaiana, no Centro do Rio. Duas mulheres ficaram feridas.
As empresas de gás e luz foram acionadas. A Light divulgou nota informando que na esquina das duas ruas a companhia constatou "que houve defeito em cabo de baixa tensão e, como foi detectada a presença de gás, a concessionária de gás foi acionada e também esteve no local".
4) No dia 9 de março ruas do Centro do Rio ficaram às escuras a partir das 18h19 após explosão em um bueiro na avenida Presidente Vargas. O fornecimento de energia na área apenas foi normalizado às 16h40 do dia 10. A Light informou que verificou defeito na rede subterrânea, que atingiu trechos de ruas do Centro.
5) No início da noite de 30 de março, ocorreu uma explosão em bueiro na Rua do Ouvidor, no Centro. Não houve feridos.
6) Em 29 de junho uma explosão em um bueiro na esquina da Rua República do Peru com a avenida Nossa Senhora de Copacabana, em Copacabana,deixou dois americanos feridos.
7) Em 6 de julho uma nova explosão em bueiro, desta vez na Rua Figueiredo Magalhães, também em Copacabana. Com a explosão, a tampa do bueiro abriu e a roda dianteira de um táxi. Ninguém ficou ferido. A tampa de outro bueiro da rua, a um metro de distância, voou cerca de meio metro.
8) Um bueiro explodiu na tarde de quarta-feira (14), na Rua Visconde de Pirajá, em Ipanema, na Zona Sul, e assustou pedestres e motoristas que passavam pelo local.