Albino Santana, 76 anos, não é paranaense, mas é como se fosse. Há mais de 22 anos vivendo no Sítio Cercado, não tem quem não conheça o responsável pela produção de chás e infusões, que é sua marca registrada. Distante dali, Mike Rodrigo Vieira, 28 anos, mora no Barreirinha desde que nasceu. Skatista, trabalha com adeptos do esporte. Nina Góis, 54 anos, moradora no Jardim Sabará, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), mantém uma dupla jornada em prol do outro. São quilômetros de distância que os mantêm afastados, porém as três histórias têm algo em comum. Eles fazem parte de um grupo que atua efetivamente na melhoria de vida das comunidades onde moram.
Nessas três regiões, especificamente, os índices de violência têm mostrado que é preciso mais do que a atuação policial. É necessário intervir na base dos problemas, constata Nina Góis, que atua no Conselho de Segurança do bairro CIC e é presidente da associação de bairros Moradias Bela Vista do Passaúna. "Não precisa participar de uma associação de bairros. O importante é que a transmissão de valores comece em casa", avisa.
Diante da constatação de que 95% dos crimes são causados pelo envolvimento com a droga e que a grande maioria das vítimas é de jovens, Nina vai além. Para ela, a família é a principal arma contra essa situação. Quando uma mãe lhe diz que não sabia que o filho usava drogas, ela intervém. "A história de ser a última a saber não é verdade. Procuramos tirar essa venda dos olhos da família."
Coordenadora de programas que visam retirar o jovem da rua e incentivar seu crescimento pessoal e profissional, ela sente que nestes últimos dez anos o saldo tem sido positivo. Os jovens que assaltavam no ponto final do ônibus, por exemplo, deixaram de fazê-lo; e o índice de analfabetismo foi quase zerado na região. Sua atuação começa a partir das 18h40, quando chega do escritório onde atua como assessora política, mas não tem hora para acabar. "Minha família é minha comunidade. Nunca deixei que batessem na minha porta sem ajudar."
Respeito
Quem passar em frente ao número 2.164, na Avenida Anita Garibaldi, no Barreirinha, pode ter uma surpresa. Às terças-feiras, um grupo de skatistas se reúne em frente a uma igreja evangélica para participar do culto. Muito diferente do que se imagina de um encontro religioso, o evento permite que os jovens entre 15 e 25 anos , na grande maioria de classe média, levem seus skates, façam manobras em caixas de madeira dispostas em frente ao prédio e grafitem durante o culto sobre o que está sendo discutido.
O respeito às diferenças foi o caminho encontrado pelo professor de música e especialista em comunicação, cultura e arte, Mike Rodrigo Vieira para colocar em prática seu ideal: mostrar aos jovens que podiam manter suas personalidades sem o uso de drogas e bebidas alcoólicas. Nas reuniões que chegam a ter 60 jovens é possível ver lutadores de vale-tudo, integrantes de bandas musicais e skatistas; jovens com tatuagens e piercings que se integram no contexto.
Dos 300 assistidos, Vieira estima que 90% teriam envolvimento com drogas, porém muitos deles já largaram o vício. "Não precisa usar drogas para ser o que são", diz. Há duas semanas, um jovem foi procurá-lo. Depois da conversa, o rapaz pegou a maconha de dentro do bolso e jogou na privada. "Não tem alegria maior do que vê-los crescendo e se desenvolvendo para um futuro melhor." Vieira já atuou com grupos vulneráveis na Nova Zelândia e, segundo ele, "lá é pior do que aqui".
Contra a violência
Ex-vendedor de pipoca e ex-morador de um terreno invadido, Albino Santana sempre fez a diferença. Saiu de Recife, uma capital violenta, e veio morar no Sítio Cercado, bairro de Curitiba que já ocupou os primeiros lugares em homicídios, nos últimos três anos. Hoje, a situação é bem melhor. Sossegado, o aposentado de 74 anos virou uma figura conhecida no bairro. Faz remédios medicinais, atua no coral da região tocando cavaquinho e é um dos líderes comunitários. Desde o ano passado, integra o Instituto Desembargador Alceu Conceição Machado (Idam), uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), que é responsável por projetos como "Justiça se Aprende na Escola", "Programa de Mediação Escolar" e "Justiça Comunitária", esse último em fase de implantação. "Dou a cara para bater. Peço para arrumar a ponte, recapear a rua e dou conselhos às famílias que têm problemas", conta.