O combate a crimes ambientais no Paraná está desfalcado desde novembro de 2011, quando os policiais militares da Força Verde deixaram de realizar ações para o Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Divergências sobre os termos da parceria levaram ao encerramento do convênio e as negociações para a retomada se arrastam há três anos e meio. Com menos de 150 fiscais para atuar em todas as atividades de campo no território paranaense, o IAP perdeu um importante apoio quando deixou de contar com o reforço dos 520 policiais da Força Verde.
O fim do convênio esteve envolto em uma série de polêmicas. À época, o IAP afirmou que era muito comum encontrar problemas nos autos lavrados pelos policiais ambientais – por falta de conhecimento técnico e de provas – que acabavam resultando no arquivamento dos processos. Entre os pontos que estariam emperrando o acordo estaria a destinação de recursos. A Força Verde pleiteia que o IAP pague diárias para os policiais e também compre equipamentos, usando o fundo estadual que concentra o dinheiro das multas. O IAP estaria reticente, evitando gastar com o convênio.
Desde novembro de 2011, a Polícia Ambiental não lavra mais autos de infração. Quando os policiais encontram uma situação irregular, eles comunicam o IAP – que precisa enviar fiscais para apurar o caso. Com poucos servidores, nem todas as denúncias são verificadas. A Gazeta do Povo chegou a divulgar, em 2013, que o convênio estava prestes a ser novamente firmado. Passados dois anos, o documento que aumentaria o efetivo de fiscalização ambiental ainda não é realidade.
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A situação que se enrola há tanto tempo e fragiliza a fiscalização preocupa principalmente quem está engajado nas questões ambientais. O coordenador do Centro de Apoio às Promotorias de Meio Ambiente do Ministério Público, Saint-Clair Honorato Santos, lamenta a situação. “O IAP sempre diz que tem pouca fiscalização, mas não assina o convênio”, afirma. Ele destaca que há índices, como o levantamento feito pela Fundação SOS Mata Atlântica, que mostram o desmatamento acelerado no Paraná nos últimos anos.
Para José Álvaro Carneiro, que já foi superintendente do Ibama no Paraná, a retomada do convênio seria muito importante para os recursos naturais paranaenses. “A organização militar (mesmo com seus problemas) segue protocolos com disciplina. Em tempos de múltiplas possibilidades de investigação, a adoção de protocolos de comando e controle seguidos de sua evolução, seria um alento. Nosso IAP, decadente, insuficiente e afastado de sua missão ganharia com o convênio”, disse.
Clóvis Borges, diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), acredita que a fiscalização ambiental é deficitária e que a Força Verde representaria um importante reforço, com mais olhos prestando atenção em potenciais infratores. “Estamos frente a uma acomodação com o absurdo”, dispara. Para ele, não há vontade política para fiscalizar e a questão da falta do convênio devia gerar uma investigação para saber os supostos reais interesses que estariam por trás da perda de eficiência no controle de danos ambientais.