Fazenda Rio Grande é uma pequena cidade de 150 quilômetros quadrados, 96 mil habitantes 30 mil a mais do que as estimativas do Censo 2000 e uma BR no meio. A rodovia se converteu na fonte de todas as dores de cabeça no município que divide com Pinhais o título de mais jovem da região metropolitana. Há uma semana, por exemplo, cerca de 1,5 mil moradores pararam por uma hora a estrada para reivindicar o que deveria ser uma cesta básica na mortífera 116: acostamentos, rotatórias, reforma em duas pontes e nova sinalização. Entre as palavras de ordem, o protesto contra 36 mortes provocadas na pista apenas nos últimos cinco meses.
É bom lembrar que fechar a BR é quase uma rotina naquelas bandas, de preferência com queima de pneus e boca no trombone. Quem sabe alguém se sensibiliza pela cidade atropelada não só pelo crescimento, mas pelos 36 mil carros e caminhões que passam ali todos os dias. "A estrada é a praça de Fazenda. É ali que todas as manifestações acontecem", diz Gastão Fabiano Gonchorvski, secretário municipal de Políticas de Desenvolvimento Econômico. A expectativa do poder público é que, em 2020, quando chegar a seus 356 mil moradores, Fazenda não precise mais parar o trânsito para ser notada.
Até lá, espera-se, em vez de uma trincheira haverá três pontes unindo os dois lados da cidade. "Com sorte, o espírito da Linha Verde chega até aqui e transforma a BR numa avenida", torce o líder comunitário Francisco Lote de Carvalho, 49 anos.
"Não gostamos da idéia de ser cidade dormitório de Curitiba. As pessoas escolheram a Fazenda porque gostam daqui", defende Francisco sobre a cidade formada majotariamente por migrantes do interior paranaense. Diariamente, 25% da população sai cedinho para trabalhar na capital. "Só não venham dizer que parece cidade do interior. Fazenda ferve nos fins de semana", reforça o secretário Gastão. Como o território é pequeno, ele e Francisco têm a mesma dúvida: onde vão caber mais de 300 mil habitantes? "Em prédios?", perguntam, em meio ao cenário plano onde vivem.
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