Desmatamento perto de Palmas: fiscais sobrevoaram áreas e agora fazem trabalho de campo para identificar responsáveis por problemas encontrados| Foto: Herny Milléo/Gazeta do Povo

Fiscalização causa revolta e comoção em cidade

A presença de um aparato policial tão grande em cidades pequenas – com no máximo 50 mil habitantes – causou estranheza na população local e levou a reações instantâneas. Uma reunião de emergência foi convocada por autoridades locais para a tarde de ontem na Câmara Municipal de União da Vitória. Políticos e empresários protestaram contra a operação, que consideraram desmedida. "Estão tratando todo mundo como bandido", reclamou o prefeito Carlos Alberto Jung. "De repente chega uma força-tarefa de uma magnitude imensa, que não se usa nem para tráfico de drogas", contestou o deputado federal Luciano Pizzato (DEM).

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Saiba mais sobre a megaoperação contra crimes ambientais
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Ponta Grossa - Pelo menos 145 locais onde há suspeita de prática de crime ambiental estão sendo vistoriados por uma megaoperação policial na região Sul do Paraná. A operação Angustifolia – referência ao nome científico do pinheiro Araucária – se concentra em 14 cidades paranaenses e conta com um efetivo de 223 agentes de seis estados brasileiros. Há agentes da Polícia Federal, do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama), do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e da Força Verde da Polícia Militar. O foco do trabalho é verificar denúncias de desmatamento e outros delitos ambientais, mostrados numa série de reportagens publicada pela Gazeta do Povo em março.

A operação começou na madrugada de ontem. Houve uma prisão, a interdição de um picador de madeira nativa e foram lavrados sete autos por crimes ambientais. Ainda não foram divulgadas informações sobre os delitos encontrados e sobre as apreensões realizadas. O delegado-chefe de repressão aos crimes ambientais na Polícia Federal, Rubens Lopes da Silva, explica que esta operação não é como outras realizadas pela PF, em que são apenas cumpridos mandados de prisão. O objetivo do trabalho é verificar, em larga escala e num curto espaço de tempo, vários indícios e denúncias de irregularidades. Ele conta que, em metade dos 18 locais visitados no primeiro dia, foram comprovadas ações ilegais, como madeira sem origem, poluição e esgoto a céu aberto e estoque de toras incompatível com as autorizações de corte. "Mas alguns casos são tão complexos que vamos levar três dias só analisando o que encontramos para ter certeza do que se trata", complementa.

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A previsão é de que os trabalhos da força-tarefa, que podem ser expandidos para outras cidades da região, durem pelo menos duas semanas. Estão sendo usados 85 viaturas e um helicóptero nos trabalhos. A previsão inicial, informada pela coordenação da força-tarefa, de que o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, sobrevoaria a área hoje e daria entrevista sobre o assunto, não se confirmou. Ainda durante esta semana é esperada a presença do ministro na região.

É de conhecimento dos integrantes da operação, informa a assessoria de imprensa, que muitos criminosos, cientes da presença policial, irão se esquivar nos próximos dias. Ontem mesmo os fiscais já encontraram caminhões vazios abandonados no meio do mato. A força-tarefa vai acabar identificando basicamente situações em que os crimes já estão caracterizados e não podem mais ser escondidos. É o caso de áreas em que existia mata nativa e hoje só restam tocos de árvores.

O superintendente estadual do Ibama, José Álvaro Carneiro, explica que a operação Angustifolia foi desencadeada em função de vários sobrevoos de helicóptero em que foram percebidos casos de desmatamento. "Temos um conjunto de evidências, mas precisamos ir a campo porque não basta identificar, do alto, que um crime está sendo cometido. É preciso ir até o local, ver as provas, saber quem está envolvido, de quem é a área e estabelecer nexo entre casos próximos", diz.

Investigação

O deputado federal Luciano Pizzatto (DEM) pretende investigar todos os detalhes da operação Angustifolia no Paraná. Ele é o relator de uma Proposta de Fiscalização e Controle (PFC) – uma estrutura política constituída pela Câmara Federal – que, desde janeiro, avalia a ação de fiscais ambientais em várias partes do Brasil. "Estamos analisando se todos os preceitos legais são cumpridos e outros aspectos, como se as operações não são usadas como instrumento político", conta.

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Para o parlamentar, é preciso apurar se a educação ambiental precedeu o processo de repressão. "Não há como dizer que não há problemas ambientais no Sul do Paraná, mas só tem um jeito de resolver isso e é com a participação da sociedade", argumenta Pizzato, acrescentando que ainda existem florestas na região porque o manejo das áreas foi adequado.

Para o prefeito de União da Vitória, Carlos Alberto Jung, a operação precisaria ter sido anunciada com antecedência. "Vieram sem avisar e sem comunicar as autoridades", disse. Ele teme que a ação policial leve a cidade "à falência". Toda a região seria dependente do setor madeireiro. "Queremos preservar e que venham nos orientar. A forma de abordagem tem que ser mais branda e educativa", pede. Fabrício Antonio Moreira Neto, presidente do Sindicato da Madeira de União da Vitória, defende que não se deixe de levar em consideração o aspecto social. "Só sabemos lidar com madeira. Queremos que nos apresentem soluções", afirma.

O superintendente do Ibama destaca que não há motivo para reclamações. Que os crimes, por serem afrontas à lei, devem ser coibidos e que quem nada deve não tem motivos para temer. "Reclamar da fiscalização não tem o menor sentido", diz.