Abdelmassih pode responder por comércio de embriões
Um segundo inquérito policial que investiga o ex-médico Roger Abdelmassih por outros 26 estupros pode acusá-lo de crimes contra a lei de biossegurança, como a comercialização indevida de embriões humanos. Para isso, a Polícia Civil precisa encontrar o engenheiro Paulo Henrique Ferraz Bastos, ex-sócio de um casal de russos que fazia pesquisas na clínica de Abdelmassih que também é suspeito de enganar as pacientes fertilizando-as com embriões de outros casais.
"Elas [as vítimas] achavam que ele comercializava os óvulos. Algumas mulheres também vieram relatar que as crianças nasceram defeituosas", afirmou a delegada Celi Paulino Carlota, da 1.ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM).
Ainda de acordo com a delegada, as vítimas disseram que o ex-médico fazia diversas coletas de óvulos, em vez de apenas uma. Carlota também afirmou que desses outros 26 casos, em pelo menos quatro deles houve má formação dos fetos.
Em um deles, a criança morreu no segundo mês de gestação e a vítima só foi abortar durante o quarto mês sem que soubesse que o feto já estava morto.
O ex-médico Roger Abdelmassih chegou por volta das 15h30 ao Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, onde passa por exames de corpo delito na tarde desta quarta-feira (20). Depois, ele deve seguir para o Presídio de Tremembé. Abdelmassih, de 70 anos, foi preso na terça (19) em Assunção, capital do Paraguai. Ele estava foragido desde janeiro de 2011 e foi condenado a 278 anos de prisão pelo estupro de 37 pacientes.
Ele desembarcou em São Paulo sob gritos de "maníaco" e "safado". Uma mulher chegou a tentar agredi-lo, mas foi contida por policiais.
Cinco vítimas do ex-médico acompanharam a chegada de Abdelmassih e o usaram palavras como "maníaco", "manipulador", "safado" e "criminoso" contra ele. Depois choraram e disseram que não dormiram nem comeram só para estar no aeroporto e ver a cara dele depois de preso.
"Agora começa o processo de cura. Mas vamos arás de quem estava acobertando ele", disse Helena Leardini, uma das cinco vítimas que foi até o aeroporto.
Prisão
Na terça, escoltado por policiais armados com fuzis e vestindo um boné, o ex-médico foi levado para o aeroporto de Assunção, onde foi colocado em um avião da Força Aérea paraguaia, que levou o foragido até Ciudad del Este, na fronteira com o Brasil. Dali, o ex-médico foi conduzido pelos agentes federais até Foz do Iguaçu, no Paraná, onde passou a noite.
Um dos maiores especialistas em fertilização in vitro do Brasil, o ex-médico foi preso quando buscava os dois filhos pequenos na escola. Estava acompanhado pela mulher e mãe da crianças, Larissa Maria Sacco, de 37 anos.
Três carros com policiais da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), do Paraguai, cercaram o foragido. A polícia do país vizinho era apoiada por homens da Polícia Federal (PF) brasileira.
Líbano
Roger Abdelmassih planejava fugir para a Itália ou para o Líbano, possivelmente utilizando o nome de Ricardo. A informação é da Polícia Federal.
Segundo o delegado da Polícia Federal Marcos Paulo Pimentel, Abdelmassih pretendia ficar pouco tempo na capital paraguaia e depois sair do continente. O ex-médico só não fez isso, pois teve dificuldades em aprontar a documentação devida. "Não há indícios de documentos falsos, apenas de que se apresentava com o nome de Ricardo na escola dos filhos", completou.
Abdelmassih passou a última noite numa cela, ao lado de um contrabandista, na PF de Foz do Iguaçu.
Segundo o delegado, as polícias de Brasil e Paraguai entraram em um acordo para prender o ex-médico por irregularidades na migração. Abdelmassih estava no Paraguai sem permissão de entrada ou visto.
Ex-médico devia aluguel de casa em Assunção
O ex-médico Roger Abdelmassih estava devendo o aluguel da casa em que vivia escondido havia três anos e meio em Assunção, no Paraguai. Ele pagava US$ 5 mil por mês pela casa no número 1.976 da Rua Guido Spano, na Villa Morra, um bairro de classe alta na capital paraguaia.
Administrador da imobiliária Saturno, Miguel Portillo, disse à reportagem que alugou a casa há quase quatro anos para um homem que se identificou como Ricardo Galeano. Era essa a identidade falsa que Abdelmassih usaria no Paraguai. Inicialmente, o aluguel era de US$ 3,8 mil, mas com o passar dos anos, foi reajustado para os atuais US$ 5 mil por mês.
A casa pertence, segundo Portillo, a um espanhol. Ele não soube especificar quantos aluguéis Abdelmassih estava devendo. Ainda de acordo com ele, a mulher do ex-médico, Larissa Maria Sacco, identificava-se como Lara Sacco. "Ela nunca assinava os papéis; era sempre o Ricardo [Abdelmassih]."
O casal vivia em Assunção e se dava bem com os vizinhos. A empregada de uma vizinha disse ao jornal O Estado de S. Paulo que o casal costumava passear com as crianças na rua e frequentava à noite o restaurante Uvaterra, na esquina da Rua Guido Spano. Abdelmassih e Larissa mantinham ainda uma babá, que cuidava dos meninos.
Virgílio Carmona, morador de uma casa em frente à alugada pelo ex-médico, confirmou que o foragido morava ali havia mais de 3 anos. Abdelmassih usava um carro da marca Kia para se locomover pela cidade. "Eu não os conhecia bem", disse Carmona. O casal contribuía com 650 mil guaranis (cerca de R$ 500) por mês para pagar o salário do vigia da rua.
A Larissa deixou a casa na noite de terça-feira (19). Antes, prometeu a Protillo que voltaria à Assunção em dez ou quinze dias para quitar a dívida. Pela manhã, funcionários da imobiliária faziam uma faxina na casa. "Não sabia que ele era uma pessoa condenada no Brasil. Vou pedir as chaves do imóvel de volta", afirmou Portillo.
O caso
O caso foi denunciado pela primeira vez ao Ministério Público em abril de 2008, por uma ex-funcionária do médico, e revelado pela Folha de S.Paulo em janeiro de 2009. Depois, diversas pacientes com idades entre 30 e 40 anos bem-sucedidas profissionalmente disseram ter sido molestadas quando estavam na clínica de Abdelmassih.
As mulheres dizem ter sido surpreendidas por investidas do especialista quando estavam sozinhas - sem o marido e sem enfermeira presente (os casos teriam ocorrido durante a entrevista médica ou nos quartos particulares de recuperação). Três afirmam ter sido molestadas após sedação.
Formalmente, Abdelmassih foi acusado de estupro contra 39 ex-pacientes, mas como algumas relataram mais de um crime, há 56 acusações contra ele. Desde que foi acusado pela primeira vez, Abdelmassih negou por diversas vezes ter praticado crimes sexuais contra ex-pacientes. O médico afirma que foi atacado por um "movimento de ressentimentos vingativos".
Abdelmassih também já chegou a afirmar que as mulheres que o acusam podem ter sofrido alucinações provocadas pelo anestésico propofol.
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