Os delegados da Polícia Federal que participaram das investigações da Operação Concutare explicaram que o esquema fraudulento de emissões de licenças ambientais tinha diversos operadores independentes, que não formavam uma única organização durante entrevista coletiva, nesta segunda-feira, em Porto Alegre. Empresários interessados nas autorizações acionavam despachantes conectados a funcionários de órgãos ambientais dispostos a emitir os documentos em troca de propinas em dinheiro ou presentes ou, quando tinham trânsito direto, faziam o mesmo sem recorrer aos intermediários. O delegado Thiago Machado destacou que uma licença chegou a ser expedida em apenas uma tarde. "É um recorde nacional", ironizou.
A Polícia Federal investigava as fraudes desde junho do ano passado e, nesta segunda-feira, cumpriu 18 mandados de prisão temporária e 29 de buscas e apreensão emitidos pela Justiça Federal em Porto Alegre, Caçapava do Sul, Caxias do Sul, São Luiz Gonzaga, Santa Cruz do Sul e Florianópolis. Alegando que a investigação está sob segredo de Justiça, a Polícia Federal não citou os nomes dos suspeitos e nem o papel que tinham no esquema. Os delegados admitiram, no entanto, que são empresários despachantes e agentes públicos.
Entre os presos estão os secretários do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul, Carlos Fernando Niedersberg (PC do B); de Porto Alegre, Luiz Fernando Zachia (PMDB); e o ex-secretário do Meio Ambiente do Estado durante o governo anterior, Berfran Rosado (PPS), que tiveram seus nomes confirmados por integrantes da própria administração pública ou pessoas próximas. O governador Tarso Genro (PT) e o prefeito José Fortunati (PDT) determinaram o afastamento de seus secretários e de qualquer servidor que esteja envolvido. Ambos afirmaram que a medida é preventiva e não significa um juízo de valor sobre a conduta dos envolvidos.
A maioria das licenças suspeitas de fraude encontradas pelos investigadores eram destinadas à extração mineral e a empreendimentos imobiliários da capital e do litoral gaúcho. A investigação prossegue com a análise do material apreendido por uma equipe de peritos. A Polícia Federal prevê que, no final do inquérito, no prazo de um mês, cerca de 50 pessoas serão indiciadas por crimes como corrupção ativa e passiva, falsidade ideológica, crimes ambientais e lavagem de dinheiro.