Motel, restaurante, lava-rápido, posto de combustível, prédio residencial, galeria comercial e até centros lojistas no centro da capital estão na lista de imóveis flagrados furtando água em 2015. Balanço da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) aponta que, no segundo ano da crise hídrica, 19,2 mil fraudes, como manipulação de hidrômetros e ligação clandestina, foram identificadas, média de 52 casos por dia. O número é 24% maior do que o registrado em 2014.

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Calcula-se que 3,7 bilhões de litros de água potável tenham sido desviados entre janeiro e dezembro do ano passado só na Grande São Paulo e na região de Bragança Paulista, onde ficam as represas do Sistema Cantareira. O volume é suficiente para abastecer uma cidade do porte de Diadema, com cerca de 400 mil habitantes, durante um mês inteiro. Segundo a Sabesp, o valor cobrado dos fraudadores foi de R$ 32,6 milhões, quase o dobro (87%) do débito apurado em 2014: R$ 17,4 milhões.

O superintendente de auditoria da Sabesp, Marcelo Fridori, afirma que a operação de fiscalização, chamada “caça-fraude”, foi intensificada em 2014, com o início da crise hídrica, para tentar reduzir o desperdício de água. “Claro que recuperar o valor financeiro é positivo, mas o objetivo principal da Sabesp com essa ação é combater o desperdício de água. O fraudador não está preocupado em economizar água porque não vai pagar pelo alto consumo”, afirma.

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As ações na rua têm o apoio da Polícia Civil e são executadas a partir de denúncias recebidas pelos telefones 181 e 195 ou de suspeitas levantadas por uma equipe de inteligência da Sabesp, que monitora o consumo dos clientes, principalmente os comerciais e industriais. “Se o consumo cai de forma abrupta ou difere muito da média no seu ramo de atividade, uma equipe vai a campo vistoriar o imóvel para verificar se há fraude”, explica Fridori.

Casos

Este foi o caso de um posto de combustível em Santo Amaro, zona sul paulistana. Ao fazer uma vistoria no local, em abril, a fiscalização constatou que havia um desvio no ramal da ligação de água. O dono do estabelecimento foi preso e indiciado por furto, cuja pena varia de 1 a 4 anos de reclusão. O consumo atípico também levou a fiscalização a flagrar o furto em um motel na Vila Mariana, zona sul, em fevereiro. O hidrômetro estava com o lacre rompido e o relógio que mede o consumo tinha sinais de manipulação. O proprietário também foi indiciado.

Segundo a Sabesp, foram mais de 200 mil vistorias feitas e 507 boletins de ocorrência registrados. Entre eles está o caso de um lava-rápido na Freguesia do Ó, zona norte da capital. Com base em uma denúncia, uma vistoria feita em 8 de abril flagrou que havia um arame no hidrômetro impedindo a medição do consumo. O proprietário, Daniel Dotta Mitri, foi detido e só saiu da prisão no dia seguinte, após pagar fiança de R$ 1,3 mil. “Eu assumi porque sou o proprietário, mas não fomos nós que fizemos isso”, disse Mitri, que ainda recebeu uma multa de R$ 12 mil, da qual está recorrendo. “Nossos portões ficavam abertos. Qualquer um tinha acesso ao hidrômetro.”

O balanço da Sabesp mostra que 16,5 mil irregularidades (86% do total) foram identificadas em imóveis residenciais, como um prédio em São Bernardo do Campo e um condomínio em Itaquaquecetuba, ambos com ligações clandestinas. Mas comércio e indústria, como duas galerias na Praça da República e uma feira comercial importante no Brás, ambas no centro da capital, respondem por mais da metade do volume de água desviado. Nesses dois setores, os flagrantes de furto cresceram 16% e 37%, respectivamente.

“E já temos uma lista de 60 agentes fraudadores, dos quais alguns já foram presos mais de uma vez. Estamos ajudando a inteligência da polícia a identificar essas quadrilhas especializadas”, afirma César Augusto da Silva Santos, gerente de auditoria da Sabesp.

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