No caso da cidade espanhola, a preservação das “tiendas emblemáticas” surgiu, em 2015, como uma proposta de reforma da Lei do Patrimônio Cultural Catalão no órgão legislativo municipal. Ainda em março do ano passado, 228 comércios históricos foram enquadrados na nova classificação. Destes, 32 acabaram de fato “blindados” contra qualquer tipo de alteração. A medida foi a forma encontrada pela Comissão de Cultura de Barcelona para proteger essas lojas históricas da mudança de uso e da descaracterização cultural.
Na prática, nem mesmo itens como móveis e vitrines poderão ser alterados, o que acaba por desencorajar a transformação de qualquer camisaria tradicional em uma franquia de fast-food. Em caso de falência irreversível, a mudança legal feita em Barcelona servirá pelo menos para proteger o acervo desses locais.
Em paralelo, uma nova normativa para a paisagem urbana de Barcelona impedirá que uma mesma empresa possa adquirir mais de um imóvel numa mesma rua de um bairro histórico. A medida é importante para evitar que os pequenos negócios sejam “engolidos” e substituídos por flagship stores. A normativa atingiria regiões como a Cidade Velha, as proximidades da Sagrada Família e o eixo central do bairro Eixample, a Vila de Gràcia, e as partes mais antigas do Poblenou, de Sant Andreu e do Poble Sec.
Essas mudanças surgiram como armas contra o lado ruim do turismo em Barcelona. A cidade espanhola, que tem 1,6 milhão de habitantes, recebeu 8,3 milhões de turistas em 2015 – número nada sustentável, segundo as autoridades locais. Por isso, e na contramão de Lisboa, a cidade também está entre aquelas que têm tentado controlar a forte atuação das plataformas de aluguel de curta temporada Airbnb e HomeAway. As duas companhias foram multadas recentemente em mais de 65 mil euros cada por listarem imóveis para locação que não receberam permissão expressa e antecipada da administração municipal para isso.