Todo conceito envolvendo cidades tende a ser um pouco reducionista, já que tentam juntar em uma só visão vários objetivos ou iniciativas isoladas. Com o tempo é comum que esses conceitos mudem ou mesmo gerem outros conceitos. Isso quer dizer que quando ouvimos expressões como cidades inteligentes ou resilientes elas não são apenas um truque de marketing, mas fruto de uma reflexão e de uma plano de ação de gente que estuda, há tempos, o espaço urbano. “Esses conceitos servem para renovar o desejo de mudanças numa cidade. Mais importante que a ideia em si, é a agregação de esforços que eles podem gerar: num momento, todos defendem a cidade sustentável; em outro, todos querem a cidade socialmente justa”, avalia o arquiteto e urbanista Clóvis Ultramari, professor da UFPR e do programa de mestrado e doutorado de Gestão Urbana da PUCPR.
Por vezes, o uso desses conceitos pode parecer algo mercadológico ou feito para alçar algumas cidade a uma posição de destaque. Mas, segundo Ultramari, “a alternância nas ideias defendidas por esses conceitos não significa necessariamente uma frivolidade intelectual, mas sim um entendimento da cidade num determinado momento.”
Dito isto, explica o também professor de Gestão Urbana da PUCPR Rodrigo José Firmino, a denominação de termos para tentar explicar realidades tão complexas como as cidades tem dois aspectos muito claros: por um lado, ajuda a difundir ideias e entendimentos sobre momentos diferentes no desenvolvimento das cidades e passa uma compreensão geral (mas bem superficial) para o público geral, com algumas aplicações práticas; por outro lado, apaga os detalhes, ignora as idiossincrasias, esquece os diferentes contextos, nega aspectos específicos que podem ter papel significativo em cada história e, portanto, pode implicar em erros e injustiças.
Conheça, abaixo, alguns dos conceitos sobre cidades em voga no momento:
Cidades sustentáveis
Esse talvez seja o mais antigo e conhecido dos conceitos citados aqui. Basicamente, uma cidade sustentável é aquela que opta por uma forma de desenvolvimento que atenda as necessidades do presente sem comprometer a habilidade das futuras gerações de satisfazer suas necessidades. Tem como objetivo a melhora nas condições de vida individuais ao mesmo tempo em que colabora para a preservação do meio ambiente a curto, médio e longo prazos. Há um tripé bem definido para esse conceito: desenvolvimento economicamente eficiente, socialmente justo e ambientalmente sustentável.
Cidades inteligentes
O termo, em português ou inglês (smart cities) não tem apenas um significado consagrado. Envolve, de forma resumida, o uso da Tecnologia da Informação tanto dentro das administrações públicas quanto na interface com o cidadão e/ou empresas. O conceito também está ligado a coletar, armazenar e dar transparência aos dados públicos, de forma a tornar mais eficiente a administração pública. Mais recentemente, a tomada de decisões com base em dados (data-driven), por meio de pequenas intervenções, muitas vezes motivadas pelo empoderamento dos cidadãos (urbanismo tático) também passou a ser relacionada ao conceito de cidade inteligente.
Cidades conectadas
Muitas vezes são encaradas como sinônimo de cidades inteligentes. Para alguns entendidos, porém, esse conceito vai um pouco além, diz respeito a cidades inteligentes que usam não só a Tecnologia da Informação, mas a chamada Internet das Coisas para conectar governos locais aos cidadãos (e também cidadãos com cidadãos) e superar desafios, melhorar a infraestrutura e oferecer novos serviços. Uma cidade conectada é aquela em que o poder público não só é capaz de responder com agilidade o cidadão mas também de incorporar a demanda como um elemento de conhecimento, de adaptação necessária para a evolução do ambiente urbano.
Cidades resilientes
São cidades que estão preparadas para absorver e se recuperar de qualquer tipo de choque ou estresse, enquanto mantêm suas funções e estruturas essenciais e sua identidade, assim como se mostram capazes de se adaptar e enfrentar outras mudanças que virão. Construir essa capacidade de resiliência exige, antes de tudo, que os riscos sejam identificados e avaliados, de maneira a reduzir a vulnerabilidade e a exposição da cidade em relação a eles, aumentando a resistência, a capacidade de adaptação e ação mediante emergência. Muitas das cidades brasileiras ainda não conseguiram cumprir esse primeiro passo. De modo geral, ora esse conceito aparece mais ligado a desastres naturais (como no caso do Brasil), ora a episódios de violência, conflitos e ataques terroristas.
As metas para as cidades resilientes foram traçadas em março do ano passado, durante 3.ª Conferência Mundial da ONU para Redução do Risco de Desastres, realizada em Sendai, no Japão. Além de reduzir os riscos, espera-se que até 2030 as cidades estejam preparadas para se reconstruir com maior rapidez quando acometidas por tais fenômenos. No Paraná, 14 municípios obtiveram reconhecimento da ONU como cidades resilientes, ou seja, com boa capacidade de resposta para desastres. São eles: Curitiba, Londrina, Maringá, Cianorte, Colorado, Marialva, Nova Esperança, Peabiru, Querência do Norte, Loanda, Farol, Goioêre, Capanema e Francisco Beltrão. Outros onze estão em processo: Jaguariaíva, Mamborê, Sarandi, Terra Boa, São Jorge D´Oeste, Salto do Lontra, Dois Vizinhos, Marmeleiro, Bom Jesus do Sul, Campo Mourão e Nova Londrina.
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