Se tudo correr bem, Curitiba pode ter 50 carros elétricos em suas ruas, livres para serem compartilhados, até o fim de 2017. Duas empresas apresentaram estudos de viabilidade para o “car-sharing” (ou “compartilhamento de carros”), em resposta ao Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) aberto pela prefeitura. Nesta quinta-feira (1.º), o município anunciou que ambos foram aceitos e vão servir de base para a formulação do edital. A meta da vice-prefeita Mirian Gonçalves, responsável pelo projeto, é abrir a concorrência até dezembro deste ano. O anúncio dos escolhidos e assinatura do contrato seriam feitos no início do próximo ano, já na próxima gestão, seja ela qual for.
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As duas propostas apresentadas – da empresa Serttel e do engenheiro Sérgio Bastos – preveem um serviço nos moldes de concessão (e não de parceria público-privada). Para a vice-prefeita, esse é o modelo mais interessante, do ponto de vista econômico, para a prefeitura. Todo o custo de implantação do sistema, como de carros e de postos de recarga, bem como sua operação (manutenção das pessoas, criação de aplicativos, fiscalização) ficaria a cargo da iniciativa privada, sem custos para os cofres públicos.
Ao mesmo tempo, quem vencer o futuro edital ganha o direito de explorar o serviço em um tempo determinado. Um dos ganhos é com a tarifa paga pelo serviço, que deve ter um valor “em conta”, para ser atrativa para o usuário. Mirian acredita que a própria lógica do mercado deve garantir um preço razoável. Pois, caso contrário, ninguém vai usar o serviço e o investidor não vai ter retorno. “Quem faz uma proposta de investimento alto se não tiver quem use?”. Por outro lado, o edital deve prever outras formas de ganhos financeiros, como a exploração do sistema para fins publicitários.
A tarifa pode ser medido tanto em tempo quanto em quilômetros. Ainda não se sabe qual das medidas Curitiba vai adotar, mas as duas propostas selecionadas optaram pelo tempo. A Serttel apresentou um programa de tarifas que varia de R$ 0,80 o minuto (viagens de meia a uma hora) a R$ 0,40 (de três a quatro horas). Já o estudo do engenheiro Sergio Bastos prevê R$ 0,60 por minuto para usuário do plano mensal, caindo para R$ 0,40 no plano anual.
Menos carros
Cada carro do car-sharing pode tirar até 11 veículos individuais das ruas. Significa 13 toneladas a menos de gás carbônico no ar, segundo estudo do Centro de Pesquisa em Transportes (TSRC) da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos. Eles analisaram o Car2Go, maior operador de carros compartilhados dos Estados Unidos. Atualmente, a empresa utiliza carros movidos a gasolina, em função de custos. Fossem elétricos, a economia com emissão de gases poderia ser ainda maior.
A ideia é começar com 50 carros e cerca de 30 estações. Além de serem pontos de recarga para os veículos elétricos, as estações serão pontos de estacionamento. O usuário tira o carro em um ponto e devolve em outro. O espírito é de viagens curtas, de forma que os veículos permaneçam em movimento constante, ao mesmo tempo que o usuário sempre vai ter um carro disponível nos postos de abastecimento. Quem vai para o trabalho de carro, por exemplo, no lugar de deixar o veículo oito horas parado, ocupando uma vaga de estacionamento, pode deixá-lo na rua para ser utilizado pelo próximo usuário, e assim sucessivamente.
Um dos principais objetivos é desafogar a região central da cidade, que hoje sofre com o excesso de carros individuais. O famoso congestionamento das oito horas da manhã, em que se enfileiram carros nos semáforos, cada um com uma pessoa dentro. A ideia é que o carro compartilhado seja uma opção que motive o cidadão a deixar o seu veículo particular em casa.
O sistema de car-sharing foi pensado para se conectar com outras formas de transporte. O trajeto de casa até a estação, por exemplo, pode ser feito de bicicleta e, de lá, o sujeito pega o carro até o próximo ponto, próximo ao seu trabalho. Outra opção seria usar o veículo público para ir ao mercado e não precisar carregar as compras. “Você tem que ter uma cidade intermodal, permitir que a pessoa possa ter um carro, um ônibus, bicicleta. Ou mesmo um carro particular. Nossa intenção é que as pessoas tenham o carro, mas que ele não seja de uso diário”, afirma a vice-prefeita.
Ao redor do mundo
A experiência curitibana é inspirada em modelos de car-sharing internacionais. O mais famoso é o Autolib’, em Paris, criado em 2011 com 250 carros e 250 estações de recarga. A iniciativa surgiu na esteira do bem sucedido Velib’, de compartilhamento de bicicletas. Não há, no Brasil, modelo de compartilhamento de carros na escala do que se pretende em Curitiba. O que deve influenciar inclusive no edital. O mais provável é que vença um consórcio com alguma empresa internacional, com experiência no assunto, na avaliação do gabinete da vice-prefeita.
Em Paris, a diversão mora nos subúrbios
Ao redor do mundo, o compartilhamento de carros é um negócio em expansão. Estudo feito pela consultoria WRI Ross Center for Sustainables Cities levantou que o número de sistemas passou de seis, em 2012, para 41, até a metade de 2015. Os modelos variam. Um deles é o “peer-to-peer”, em que qualquer indivíduo pode disponibilizar seu carro para outro usuário que, geralmente por um aplicativo de smartphone, acessa o veículo e faz o pagamento. Outra opção é ter um sistema de carros e estações administrado por um único operador. Pode tanto ser uma empresa privada (uma locadora de carros, por exemplo), ou o setor público, como no caso de Curitiba.
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