Apesar dos percalços por que tem passado o sistema de transporte coletivo de Curitiba nos últimos anos, a cidade receberá uma menção honrosa no Prêmio Internacional de Transporte Sustentável 2017, promovido pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), entidade não-governamental atuante em mais de sete países, incluindo o Brasil. A grande ganhadora do prêmio e que vai sediar o próximo encontro anual do Conselho de Pesquisa em Transporte (TRB, na sigla inglês) é Santiago, no Chile. Além de Curitiba, Windhouek, capital da Namíbia, também receberá uma menção honrosa. Ao todo, o prêmio tinha seis finalistas, incluindo também Dubai (Emirados Árabes), Joanesburgo (África do Sul) e Bucheon (Coréia do Sul). A cerimônia da premiação ocorrerá em janeiro de 2017 em Washington, Estados Unidos.
A capital chilena levou o prêmio por algumas razões, mas principalmente por ter deixado para traz outras cidades da América Latina quando o assunto é ciclomobilidade e caminhabilidade. O Transantiago, o BRT da cidade, foi inaugurado em 2006 e de lá para cá outras medidas de incentivo ao transporte de massa e à mobilidade foram tomadas. Um dos exemplos citados é a Rua Aillvilú, onde está o mercado central de Santiago. Segundo o instituto, a via, antes degradada e congestionada, foi transformada em um “oásis” para pedestres. “A rua foi repavimentada, a iluminação foi melhorada, novas árvores foram plantadas e, o mais importante, carros foram proibidos ali”, diz o ITDP.
Uma atenção especial à ciclomobilidade nos últimos anos também está entre as razões do prêmio, com a implementação de um sistema de aluguel de bicicletas (BikeSantiago) e de um serviço táxi com o modal (BMov Trici). Santiago também está investindo em ações educativas voltadas para as crianças pequenas para a criação de uma cultura da bicicleta. Na prática, medidas como essas levaram a cidade, por exemplo, a aumentar os deslocamentos por bicicleta de 150 para 5 mil por dia.
Veja fotos sobre as ideias de Santiago para a mobilidade
Curitiba
De acordo com Clarisse Cunha Linke, diretora-executiva do ITDP Brasil, é preciso repensar as cidades tendo como eixo estruturante o transporte público. “As cidades precisam oferecer um espaço público de qualidade para o pedestre, estimulando o deslocamento a pé em conjunto com um sistema de transporte público eficiente e, nesse sentido, Curitiba se destacou entre as concorrentes por apresentar melhorias na acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida e por ser a primeira cidade no Brasil a contar com uma base de dados que oferece, em tempo real, informações sobre localização dos ônibus, serviços de hospitais, escolas e postos de policiamento.”
De forma geral, iniciativas como o programa porta a porta (que busca e leva em casa, num micro-ônibus, pessoas com deficiência que necessitam de atendimento nos serviços de saúde e socioassistenciais do município) e o cartão respeito (que dá mais tempo de travessia nos semáforos inteligentes da cidade para pessoas com mobilidade reduzida) estão entre as iniciativas de inclusão reconhecidas pelo prêmio.
Em termos de dados, explica o presidente da Urbs, Roberto Gregório da Silva Junior, Curitiba foi reconhecida por ter sido a primeira grande cidade brasileira a abrir os dados do transporte para empresas e pesquisadores, inclusive as informações de geolocalização da frota, e também por ter criado plataformas como o aplicativo da Urbs Itibus 3, que aponta as linhas de transporte coletivo que passam próximo de mais de 20 tipos de serviços públicos. “Dentro disso chegamos a assinar mais de 30 acordos de cooperação. Dentro disso, fomos a terceira cidade a assinar com o Moovit, o derivado do Waze para o transporte coletivo. Além [do fornecimento] desses dados, o que a gente evoluiu depois disso foram os acordos para disponibilizar as imagens da Urbs para os canais de televisão locais“, ressaltou ele.
Ciclomobilidade
O projeto-piloto de aluguel de bicicletas elétricas da empresa E-leeze Rental também é um dos bons exemplos de Curitiba citado pelo prêmio. Ele foi implementado em abril do ano passado. Embora esse projeto seja pequeno, o bike sharing é efetivamente uma das apostas de Curitiba para a mobilidade. Na última quinta-feira (23), a capital paranaense lançou um novo edital de compartilhamento de bicicletas. O objetivo é ter quase 500 bicicletas compartilhadas circulando na cidade até o fim deste ano. Os interessados têm pouco mais de um mês para apresentar as propostas, que serão abertas em 27 de julho.
Esta é a segunda tentativa da prefeitura de implantar um sistema de bicicletas compartilhadas, em Curitiba. O projeto anterior, elaborado ainda na gestão Luciano Ducci (PSB), foi engavetado oficialmente em julho de 2015, após dois anos em funcionamento. O sistema operava em três pontos, no Centro Cívico e nos parques São Lourenço e Jardim Botânico, a um custo de R$ 10 para duas horas de uso. A hora adicional saía por R$ 5 e a diária, por R$ 50. Pelo novo edital, o passe diário do aluguel de bikes será de no máximo R$ 5.
Além do preço, a diferença para o novo projeto está no perfil do usuário, que agora é o cidadão comum que poderá usar a bicicleta não só para o lazer, mas para o deslocamento diário.
Curitiba não é a primeira cidade brasileira é ser reconhecida pelo Prêmio Internacional de Transporte Sustentável 2017 do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP). Em 2015, São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro levaram, juntas, o 1.º lugar.
Sobre o prêmio
O Prêmio Internacional de Transporte Sustentável é promovido anualmente pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), entidade não-governamental atuante em mais de sete países, incluindo o Brasil. A seleção dos finalistas e ganhadores é feita sempre por um comitê de especialistas. Para a edição 2017, participaram do júri especialistas do próprio ITDP; do Banco Mundial; do Ross Center for Sustainable Cities do World Resources Institute (WRI) , também atuante no Brasil; do Clean Air Institute e da Clean Air Asia (ONG e rede de cidades, respectivamente, com foco no combate à poluição atmosférica); da Codatu (ONG voltada para soluções em mobilidade urbana); do Despacio (ONG internacional com foco em qualidade de vida); Giz, o programa alemão para o fomento do transporte sustentável no mundo; e o Iclei, rede de cidades que congrega várias cidades com foco na sustentabilidade.
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