No mesmo dia em que Curitiba ganhou sua segunda Via Calma, na Avenida João Gualberto, nesta sexta-feira (17), a primeira impressão extraída dos estudos de ciclomobilidade realizados por meio da parceria entre Curitiba e Holanda e com a participação de alunos e professores de quatro universidades locais (UFPR, UTFPR, UP e PUCPR) confirmou o que já se imaginava: a capital paranaense ainda tem muito a aprender sobre ciclomobilidade.
O aluno de graduação holandês Paul Schilte, por exemplo, focou sua pesquisa na qualidade das ciclovias existentes na cidade e no acesso da população a elas. Apesar de elogiar a estrutura existente, durante sua apresentação, ele destacou obstáculos encontrados nessas vias. Arrancou gargalhadas da plateia ao se arriscar no português para ler um trecho específico da apresentação: “condições precárias”, disse sorrindo.
Já os resultados preliminares da pesquisa do brasileiro Bruno Motta, mestrando da Universidade de Twente – na Holanda –, mostraram que a falta de segurança e de infraestrutura cicloviária ainda são temas preocupação para as pessoas da cidade.
Outro ponto dos estudos conjuntos de ciclomobilidade é o cruzamento da malha cicloviária de Curitiba com aspectos topográficos. A cidade aqui, segundo os pesquisadores, é mais “acidentada” do que Twente. Esse elemento, segundo eles, deve ser levado em consideração no momento da criação de novas infraestruturas para a bicicleta na cidade.
De acordo com a professora do Departamento de Construção Civil da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) Tatiana Maria Cecy Gadda, Curitiba teve um avanço consistente, mas ainda precisa avançar. “O diagnóstico da pesquisa do Paul [Schilte] é que precisamos avançar. Não dá para fazer mais ou menos, deixando obstáculos no caminho. E acaba sendo é bacana um holandês apontando esses problemas. Demos grandes passos nos últimos anos, consistentes, mas não digo ousados”, avaliou a professora do UTFPR.
A apresentação das pesquisas foi realizada logo após o lançamento da segunda via calma da cidade, na Avenida João Gualberto, ligando o centro ao bairro Santa Cândida. O projeto segue a lógica da Avenida Sete de Setembro, que busca induzir uma mudança de comportamento na relação de motoristas e ciclistas, com a redução da velocidade máxima permitida para 30 Km/h. A atual administração entregou 91 Km de novas vias cicláveis na cidade e pretende entregar, pelo menos, mais 28 Km até o final deste ano.
De acordo com o coordenador de Mobilidade Urbana da Setran Jorge Brand, o Goura, a prefeitura já tem projetos concluídos para todos os eixos de BRT da cidade. Ainda não há, porém, prazos definidos para que novos projetos como esse sejam implantados.
Nas universidades
A cooperação entre o país europeu e Curitiba também já resultou em uma pesquisa com 7,5 mil estudantes, professores e técnicos da UP, Universidade Positivo, UTFPR, UFPR e PUCPR. Eles responderam questões sobre seus hábitos de mobilidade entre maio e a primeira semana deste mês. A ideia era abastecer o poder público de informações sobre o comportamento desse público na hora de deslocar na cidade.
De acordo com o estudo, menos de 10% dos entrevistados disseram ir para a faculdade em um meio não motorizado (bicicleta ou a pé). Mais de 37% vão de automóvel particular. Entre os coordenadores da pesquisa está a professora Thais Saboia Martins, do curso de Arquitetura e Urbanismo da UTFPR. Ela também é orientadora do holandês Paul Schilte em suas atividades acadêmicas no Brasil.
Para Tatiana Gadda, o cenário desenhado pela pesquisa universitária já era imaginado. “Fizemos uma pesquisa comparando nossos dados com os de alunos de Bogotá no início deste ano e já tínhamos a informação de que automotorização dos nossos alunos era muito maior do que a de lá. Eles até defendem maior espaço para a bicicleta, mas não levam esse discurso para a prática”.