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Futuro das Cidades

Morar perto de áreas verdes é sinônimo de mais saúde

Uma pesquisa dos EUA mostrou que entre os moradores de bairros mais verdes a incidência de diabetes foi menor em 14% e a de hipertensão, em 13%. | Jonathan Campos/Arquivo/Gazeta do Povo
Uma pesquisa dos EUA mostrou que entre os moradores de bairros mais verdes a incidência de diabetes foi menor em 14% e a de hipertensão, em 13%. (Foto: Jonathan Campos/Arquivo/Gazeta do Povo)

Vive mais e com mais saúde quem mora perto de áreas verdes. Pesquisa financiada pelo Departamento de Saúde Pública dos Estados Unidos mostrou que a incidência de doenças crônicas diminui e que a expectativa de vida aumenta entre a população de bairros mais verdes em comparação a aqueles mais “cinzas”. Pioneira em geolocalizar o impacto na saúde pública, a pesquisa integra uma série de estudos dedicados a comprovar as vantagens de manter e ampliar áreas verdes no espaço urbano.

Parceria entre o Departamento de Parques e Recreação de Miami e os cursos de Medicina e Arquitetura da Universidade de Miami, nos Estados Unidos, a pesquisa levou em conta moradores do condado de Miami-County com mais de 65 anos. O grupo cruzou dados do Medicare (sistema de assistência médica implantado pelo presidente Barack Obama) com o NVDI, índice que mede o quão verde é um bairro com base em imagens de satélite.

Nos bairros mais verdes, a incidência de diabetes foi menor em 14% e a de hipertensão, em 13%. Os casos de hiperlipidemia (excesso de gorduras, como colesterol, no sangue) caíram 10%. O número total de pessoas que apresentaram algum tipo de condição crônica foi 4,9% menor, nestas regiões. Na prática, segundo os pesquisadores, são três anos a mais de vida.

O impacto foi maior para a população de menor renda. Morar perto ou longe da vegetação fez mais diferença para os 25% mais pobres (ganhos de até US$ 31,6 mil ao ano). São pessoas que vivem em comunidades onde há prevalência de mulheres, idosos e “minorias raciais” (negros e hispânicos). E que costumam ter mais doenças crônicas do que as classes média e alta, segundo dados do estudo.

Já entre os 25% mais ricos (acima de US$ 62,4 mil dólares ao ano) faz pouca diferença morar perto ou longe de áreas verdes. A incidência de diabetes, hipertensão e hiperlipidemia (alteração do colesterol e outras gorduras) permaneceu igual em todos os bairros. Uma hipótese é que os mais ricos já tenham acesso a benefícios decorrentes da presença de áreas verdes, como aumento da prática de atividades físicas. Além disso, a alta renda já mora em bairros mais arborizados do que a média.

A explicação casa com a realidade, acredita a engenheira agrônoma Tiana Moreira, especialista em gestão ambiental urbana. “Seja porque o tamanho do terreno é maior, a calçada é mais larga, então cabe uma árvore, quem tem maior aquisitivo acaba morando em locais mais verdes”.

Tiana integra um grupo da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Nacional de Análise Integrada do Risco Ambiental que compilou estudos sobre o impacto da vegetação urbana em diferentes aspectos da vida urbana, como saúde, economia e desenvolvimento infantil.

“É o que a gente chama de benefícios ecossistêmicos: [com mais vegetação] diminui a poluição do ar, a pessoa tem menos chances de ter problemas cardíacos, morar perto de parques aumenta a prática de atividade física, o que melhora a saúde”, explica. Além disso, a presença de árvores diminui a temperatura das cidades e o stress, por tornar o ambiente mais agradável de ser observado.

A vegetação impacta até a subjetividade, segundo a professora Teresinha Maria Gonçalves, que coordena um laboratório de psicologia ambiental na Unesc, em Santa Catarina. “A natureza estimula as dimensões simbólica e estética. Alimenta a alma, as pessoas ficam mais felizes, produzem hormônios [de felicidade], oxigena o cérebro. Tudo melhora, corpo e alma”

Um dos desafios apontados por pesquisadores é acabar com a separação entre natureza e cidade. “Há 20 anos, quando cheguei em Criciúma, o pessoal não queria árvore, dizia que sujava a calçada e entulhava calha”, lembra a professora Teresinha Gonçalves. O homem era visto como inimigo, algo estranho à natureza. Mas, aos poucos, cresce a ideia de que “meio ambiente urbano também é meio ambiente”, conta.

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