O trecho tem pouco mais de 800 metros de comprimento e pode ser percorrido em 4 minutos, mas representa um primeiro passo importante do grande plano de Paris para baixar as emissões de gases de efeito estufa e promover a saúde de seus residentes: a construção de 45 quilômetros de vias totalmente dedicadas à bicicleta até 2020. Essas vias têm o objetivo de incentivar o uso da bicicleta não só em pequenos deslocamentos centrais, mas também em trechos mais longos, entre bairros da capital francesa, já que cruzarão a cidade de norte a sul e de leste a oeste. Além disso, são um empurrão para quem ainda não experimentou a bicicleta como modal de deslocamento diário por medo de andar lado a lado com veículos automotores. O trecho em questão fica no Boulevard Bourbon, na margem do canal artificial Arsenal, entre a Praça da Bastilha e o Rio Sena.
Ainda no ano passado a cidade escolheu, por meio de uma votação pública, investir 150 milhões de euros (cerca de R$ 538,2 milhões) na melhoria e expansão de sua estrutura cicloviária, incluindo o Réseau express vélo (REVe) – um plano para uma malha expressa para bicicletas cuja sigla também significa “sonho” em francês.
As metas da ideia são ambiciosas. Em 2014, apenas 5% dos deslocamentos diários verificados em Paris, cerca de 225 mil, eram feitos de bicicleta. A intenção é fazer com que essa proporção suba cada vez mais, chegando pelo menos a 15% e ajudando a derrubar a média de 15,5 milhões de viagens de carro feitas todos os dias na capital francesa, número este verificado em 2012. Em termos de comparação, o site especializado em cidades CityLab cita que Copenhague e Amsterdã registram, em média, 55% e 43%, respectivamente, de deslocamentos diários feitos de bicicletas.
Primeiro trecho
Dos 225 mil deslocamentos diários de bicicleta feitos em Paris hoje, um terço é pelo Vélib, o sistema de compartilhamento de bicicletas da cidade, criado em 2007 (veja como funciona ele no vídeo). Dentro do REVe, a meta é que em 2020 o sistema esteja respondendo por pelo menos 35% dos 15% de deslocamentos diários que os parisienses deverão fazer de bicicleta todos os dias.
No total, o plano de Paris é aumentar o total de vias cicláveis dos 700 quilômetros atuais para 1,4 mil quilômetros até 2020. A inspiração veio de experiências de lugares como Dinamarca, Holanda e Bélgica, onde a cultura da bicicleta está mais avançada, e mesmo de países em que a aposta no modal também promete ser forte nos próximos anos, como o Futuro das Cidades já mostrou com as cicloestradas da Noruega.
Infraestrutura ou cultura: o que vem primeiro?
Em março deste ano, Milão anunciou que, para entrar no “Plano Bici” de investimento de 35 milhões de euros do governo italiano em ciclomobilidade, estaria disposta até a pagar os cidadãos para usar a bicicleta – uma espécie de incentivo financeiro para o uso do modal. O valor máximo ao mês chegaria a 50 euros por cidadão. Mas este dinheiro não seria melhor investido em ciclovias e ciclofaixas? Para especialistas em ciclomobilidade, não é assim tão simples determinar qual investimento deve vir primeiro – em infraestrutura ou em mudanças culturais.
Saiba mais
Veja em detalhes do plano cicloviário de Paris neste material preparado pela prefeitura da cidade.
No Japão, por exemplo, há poucas ciclovias, mas uma cultura de respeito no trânsito. Em Paris mesmo, o Vélib surgiu em 2007 como forma de incentivar o uso dos 271 quilômetros de ciclovias que tinham sido construídos desde 2001 pelo prefeito Bertrand Delanoë. À época, descobriu-se que a malha não era usada porque as pessoas tinham medo de ter a bicicleta roubada durante o trajeto. E se o equipamento fosse de todo mundo? Assim nasceu o Vélib, considerado protótipo para o o modelo de aluguel de bicicletas adotado no mundo todo, segundo informações do relatório “Bike-share Planning Guide”, do Institute for Transportation & Development Policy (ITDP), de Nova York.
Veja como funciona o sistema de compartilhamento Vélib e outras dicas de como usar as bicicletas em Paris neste vídeo em oficial em português:
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