"Proposta atende a necessidades dos policiais", diz Richa
O governador Beto Richa (PSDB) voltou a dizer, em coletiva realizada na tarde desta quinta-feira (2), que "o cobertor é curto", mas garantiu que a proposta feita pelo governo do estado atende "às necessidades dos policiais". "Quanto a valores, eu gostaria de atender a todas as aspirações de todo o funcionalismo. Mas não posso, pois estaria sendo irresponsável com as finanças do estado. O cobertor é curto", disse.
Richa reconheceu que, apesar das boas negociações, há setores da polícia descontentes com as ofertas do governo. "É claro que sempre há alguns exaltados, ligados a entidades mais radicais em seus posicionamentos, mas o que o governo puder fazer para atender aos policias, que prestam grande trabalho ao estado, faremos", concluiu.
O presidente do Sindicato das Classes Policiais Civis do Paraná (Sinclapol), o investigador André Gutierrez, concordou com o discurso do governador e, em entrevista à Gazeta do Povo, disse que as negociações estão "bem adiantadas". De acordo com o policial, no dia 14 de fevereiro deve ser apresentada uma tabela com os vencimentos e progressões da categoria. Ele lembra que o compromisso da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) é implantar os subsídios (forma de pagamento que incorpora gratificações aos salários dos policiais) em 60 dias. "Não tem porque haver confronto com o governo. Estourar mansão, prender pobre que vende DVD pirata não são as vias normais de negociar", disse.
O Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) braço do Ministério Público do Paraná (MP-PR) iniciou uma investigação sobre a operação realizada na semana passada por policiais civis em uma mansão localizada no bairro Parolin, em Curitiba, e que funcionava como cassino clandestino. O objetivo é esclarecer alguns detalhes relacionados às apreensões feitas e às pessoas encaminhadas ao 2º Distrito Policial (DP) após a ação. Na abordagem à casa de luxo, os agentes agiram "por contra própria", sem a coordenação de um delegado. O incidente tornou público um racha na Polícia Civil, cujos reflexos repercutem ainda nesta semana.
Na tarde de quarta-feira (3), o coordenador do Gaeco, o promotor Leonir Battisti, esteve no 2º DP, iniciando as apurações. Alguns elementos da operação ainda permanecem obscuros. Um homem apontado pelos policiais civis como "gerente" do cassino clandestino foi registrado na delegacia como "viciado em jogos de azar". Apesar disso, os R$ 3.350 que estavam nas 40 máquinas caça-níqueis apreendidas foram depositados em uma conta judicial em nome deste homem.
"Nós devemos verificar com mais cautela os detalhes das apreensões, averiguar em que termos isso foi feito. Precisamos verificar se as irregularidades que estão dizendo realmente aconteceram", disse Battisti.
O Gaeco também deve apurar outras incertezas em relação às apreensões. Policiais civis que participaram da abordagem à mansão afirmam que três celulares que teriam sido apreendidos foram devolvidos sem serem periciados. Os aparelhos poderiam conter provas que levassem ao responsável pelo cassino clandestino.
Além disso, os agentes afirmam que foi apresentada ao 2º DP uma relação com a qualificação (nome, telefones e endereços) dos mais de 30 jogadores que estavam na casa do momento da operação. No termo circunstanciado, a lista não consta entre os itens apreendidos e policiais da delegacia afirmam que a relação não foi entregue. Também teriam desaparecido uma série de fotos do suposto responsável pela mansão ao lado de políticos paranaenses.
"Todas essas situações vão ser verificadas, até que tudo seja esclarecido. O Gaeco vai complementar essa apuração iniciada pela Polícia Civil", garantiu o coordenador do Gaeco. Apesar disso, Battisti não deu detalhes dos próximos passos das investigações.
Corregedoria começa a ouvir policiais que participaram da operação
A Corregedoria Geral da Polícia Civil começou, nesta quinta-feira (2), a ouvir policiais civis que teriam participado da abordagem à mansão do Parolin. Foram convocados cinco agentes lotados no 5º Distrito Policial (DP), todos em estado probatório. Segundo policiais que "estouraram" o cassino clandestino, nem todos os convocados participaram da operação. "O comando está fazendo isso como forma de intimidar esses policiais, que são novatos. A convocação foi em cima da hora, em desacordo com o estatuto da Polícia Civil", disse um agente.
A Gazeta do Povo entrou em contato com a Corregedoria Geral da Polícia Civil, mas nenhum delegado concedeu entrevista, porque todos estariam em reuniões. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Polícia Civil informou que dois policiais prestaram depoimento nesta quinta-feira. Os outros três foram agendados para serem ouvidos na próxima semana. Em relação às apurações da Corregedoria, a assessoria da corporação se limitou a dizer que se trata de uma investigação administrativa, para apurar se os agentes cometeram alguma infração. A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) não quis comentar o caso.
Governador nega que vá haver punição a policiais
Em entrevista coletiva realizada nesta quinta-feira, na retomada dos trabalhos da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), o governador Beto Richa (PSDB) negou que os policiais civis que abordaram o cassino clandestino possam ser punidos. "Não existe isso. A polícia tem o rigor de sua disciplina, que deve ser observada, mas as negociações com os sindicatos e associações é de livre e democrática negociação", disse.
Apesar disso, no dia da operação na mansão do Parolin, três policiais civis haviam sido transferidos. Todos participaram de uma ação em que shoppings populares do Centro da capital foram inspecionados. Esta operação foi considerada o primeiro ato da operação. Agentes que participam da manifestação alegam que as transferências foram retaliações. "Os três policiais que assinaram os termos circunstanciados e que encaminharam o material apreendido à delegacia foram removidos. Se isso não é retaliação, o que é?", questionou um agente.
O caso
A mansão localizada no Parolin foi abordada na noite de 27 de janeiro, por policiais que agiram "por conta própria", sem comunicar a ação aos superiores. No local, foram encontradas 40 caça-níqueis e cerca de 40 pessoas jogando nos terminais ou bebendo em um bar. A ação fez parte de uma "operação-padrão" deflagrada por um grupo de agentes, como forma de pressionar por revisões do estatuto da Polícia Civil e como protesto a uma "crime de moralidade" que a instituição estaria passando.
O resultado da operação foi uma crise institucional: o delegado-chefe da Polícia Civil, Marcus Vinicíus Michelotto, classificou os agentes envolvidos na ação de "milicianos", pelo fato de os policiais terem agido com o rosto encoberto, durante a abordagem da mansão. Na terça-feira (31), o delegado Luiz Carlos de Oliveira, chefe da Divisão de Crimes Contra o Patrimônio, fez severas críticas aos agentes: ele usou expressões como "sem-vergonhas", "escaramouches" e "idiotas" para classificar os policiais que participaram da operação.
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