Portadora do vírus HIV desde que nasceu, Vanessa (nome fictício), de 18 anos, sempre tomou todos os cuidados para um dia poder realizar o sonho de ter um filho sem aids. Quando descobriu a gravidez, a moradora do Jardim São Luís, zona sul de São Paulo, passou a fazer todas as consultas de pré-natal e seguiu à risca o tratamento com antirretrovirais. Vanessa não imaginava que seria alvo de preconceito por parte da médica responsável pelo parto.

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A jovem deu entrada na unidade de saúde no dia 30 de junho, com 36 semanas de gestação, já com a bolsa rompida. “Os primeiros médicos que me atenderam foram atenciosos. Depois da troca de plantão, foi essa médica que ficou responsável e aí começou a tortura”, conta a mãe. “Ela foi fazer o exame de toque e eu me mexi porque estava doendo. Então falou que era para eu ficar quieta, porque na hora de fazer eu não senti dor.”

Vanessa teve dificuldades para fazer força e estimular a saída do bebê. “A médica começou a ficar estressada, dizendo que, se eu não queria a ajuda dela, ia me deixar sozinha. Disse que, de qualquer jeito, o bebê ia nascer, vivo ou em pedaços. Além de ser soropositiva, ainda era muito egoísta por colocar um bebê no mundo sabendo que ele podia se infectar.”

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De acordo com o relato da gestante, a médica ainda teria proibido sua equipe de se aproximar, alegando que não queria “nenhum colega contaminado”. “Fazia pressão psicológica, dizendo que o bebê ia morrer e a culpa seria minha porque eu não conseguia fazer força.”

Com a dificuldade no parto, a jovem passou por uma episiotomia (corte próximo da vagina) para facilitar a saída do bebê. “Mesmo com anestesia, eu senti ela tirando o bebê com força, parecia que estava com raiva, tanto é que ele teve a clavícula quebrada”, conta Silvia, de 32 anos, tia de Vanessa.

Mais falhas

Após o nascimento do bebê, Vanessa e o recém-nascido foram acomodados em uma maca no corredor. Segundo a jovem, pelo menos outras 15 mulheres e os filhos estavam na mesma situação. Ao receber alta, Vanessa foi vítima de outros dois erros: o hospital prescreveu para o bebê 10 miligramas do antirretroviral AZT, quando a quantidade indicada é de 1 mg/kg. A criança nasceu com 2,7 quilos. Além disso, Vanessa recebeu, por escrito, a orientação de amamentar o filho, o que é proibido para mães soropositivas, por causa do risco de transmissão pelo leite.

Para Helaine Milanez, da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado (Sogesp) e professora da Unicamp, a conduta da médica fere princípios éticos. “O comportamento dela foi absolutamente inadequado para qualquer paciente, independentemente de ter HIV ou não.” A especialista também confirma os erros na prescrição do AZT e no aleitamento. Como Vanessa percebeu os erros, o bebê não foi amamentado e está livre do HIV.

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