No Guarituba, há uma espécie de especulação imobiliária que é frequente mesmo na área de preservação ambiental, onde há restrição a habitações. Não tarda até que a família que ocupa um terreno seja interpelada por alguém que se diz o dono da área. Trata-se de um golpe. Quando o negócio é fechado, a prometida escritura não aparece e o "dono" some. Relatos de moradores dão conta de até dez golpes que foram aplicados pela mesma pessoa.
O dano é ainda maior porque as vítimas, além de ficar sem o esperado documento, terão de sair do terreno. Os migrantes chegam desinformados da situação da área e acreditam que a compra oferece alguma segurança seria algo "mais próximo" da legalidade. Os golpistas, por seu lado, usam de ameaças que reverberam na falta de instrução dos recém-chegados. "Eu achei que o certo era comprar e quebrei a cara", lamenta a dona de casa Cícera Aparecida dos Santos, de 45 anos.
Cícera chegou há três meses de Cascavel com o marido, cinco filhos e três netos, seguindo os passos de familiares. Quando estava carregando materiais para erguer seu barraco em um terreno vago, foi impedida por uma mulher que se disse dona do terreno. Ela propôs um negócio e Cícera topou 20 vezes de R$ 250, metade do salário do marido. Dias depois, fiscais da prefeitura a informaram que ela teria de sair do terreno. Aconselharam ainda que ela parasse de fazer os pagamentos. "Se eu não pagasse ela ia mandar me expulsar", acredita.
Nas áreas de restrição onde as ocupações já formam novas vilas, como no Jardim Gardênia, o golpe tem várias vítimas e vários "donos". Moradores dizem que toda a área foi "vendida" por um homem que se diz advogado. A dona de casa Dirlei Ruth Gomes, 26 anos, foi uma das que achou melhor pagá-lo. Ela comprou a casa de um morador há dois anos. "Na época apareceram dez se dizendo donos. Mas esse mostrou documento e disse que ia mandar derrubar", relembra. Temerosa, ela e o marido aceitaram parcelar R$ 4 mil em cima dos R$ 4 mil que já tinham pagado ao antigo morador.
As assistentes sociais da prefeitura orientam os novos moradores a procurar o Programa de Regularização Fundiária do município antes de comprar um terreno. Na maioria das vezes, no entanto, o dano já foi feito. "Coibir este tipo de golpe também é complicado porque os moradores têm medo de dizer o nome de quem fez isso", explica a coordenadora do programa, Raquel Sizanoski.
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