Policial em greve protesta em frente do Batalhão da PM no Rio: repressão do governo enfraqueceu manifestações| Foto: Antônio Cruz /Agência o Globo

Reação

Bahia ameaça grevistas com processos e corte de ponto

Das Agências

O governo da Bahia deu um ultimato aos policiais em greve ontem ao anunciar que quem se recusar a voltar ao trabalho será punido com corte de ponto e sofrerá processos. Um dos líderes da greve, Ivan Leite, disse que a tropa não vai ceder às ameaças. "O governo vai ter que cortar o ponto de muita gente."

A decisão foi anunciada pelo comandante-geral da PM no estado, Alfredo Castro. Ele disse que considera a greve "encerrada" e que, por isso, as ausências passarão a ser consideradas faltas. Para Castro, 85% da categoria já retornou ao trabalho.

Nas ruas, porém, o cenário é outro. A reportagem circulou por pontos de Salvador e viu poucos PMs e carros nas ruas. O policiamento se concentrava na orla, centro e pontos turísticos, como o Pelourinho e o farol da Barra. O Exército também fazia patrulhas nesses mesmos locais. Na periferia, o policiamento continuava precário. O clima ainda era de insegurança. As escolas particulares permaneciam fechadas e os bares estavam quase vazios.

Polícia Civil

Dirigentes dos sindicatos de policiais civis de todo o Brasil reunidos em Assembleia ontem, em Brasília, decidiram por uma paralisação nacional em data ainda a ser definida. A decisão pelo indicativo de greve precisa ser referendada pela categoria em cada estado.

"O desejo aqui foi pela paralisação, acredito que isso surgirá nos estados também", disse o presidente da Confederação Brasileira de trabalhadores Policiais Civis (Cobrapol), Jânio Bosco Gandra.

A confederação promete uma manifestação pacífica. "Vamos manter os 30% do contingente trabalhando", disse.

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Nota oficial deixa policiais insatisfeitos

A nota emitida pelo governo do Paraná na quinta-feira informando que a mensagem que regulamenta o subsídio dos policiais será enviada à Assembleia Legislativa até 15 de março foi mal recebida pelas entidades de classes das polícias Militar e Civil. Para as associações, a data é muito distante. Muitos policiais já falam em paralisação.

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Os exemplos dramáticos da greve de policiais militares na Bahia fizeram o governo do Rio de Janeiro agir rápido para administrar a crise provocada pela paralisação das forças de segurança fluminense, deflagrada no fim da noite de quinta-feira. O governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) antecipou uma série de medidas para tentar neutralizar o movimento grevista.

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O governo baixou um decreto que agiliza a punição aos líderes do movimento. Publicado em edição extraordinária do Diário Oficial, o Decreto n.º 43.462 diminui o prazo de julgamento das infrações na PM e no Corpo de Bombeiros para 15 dias. Ontem, 270 militares das duas corporações foram indiciados. Outros 16 foram presos. Oito líderes do movimento foram levados para o complexo penitenciário de Bangu 1.

Cabral tenta não repetir os erros do baiano Jaques Wagner (PT), muito criticado por demorar a tomar atitudes mais enfáticas. As iniciativas do governo e a reduzida adesão à greve fizeram com que o governador fluminense dispensasse, por enquanto, o auxílio dos 14 mil homens da Força Nacional e do Exército disponibilizados pela União. Os militares continuam de prontidão.

"A gente foi aprendendo com o caso da Bahia", explicou o secretário da Casa Civil e braço direito de Cabral, Regis Fichtner. "Houve uma pronta resposta do Estado para evitar transtornos à população. Além disso, já oferecemos reajustes e benefícios que estavam até acima das nossas possibilidades", ressaltou o secretário.

Cabral também antecipou a concessão de reajustes e benefícios antes da paralisação. A Assembleia Legislativa do Rio aprovou na quinta-feira um projeto de lei que estabelecia aumentos de 39% em duas parcelas – sendo 13 pontos porcentuais agora e os outros 26 pontos porcentuais em fevereiro do ano que vem.

A proposição também estabelece um banco de horas extras para policiais, bombeiros e agentes penitenciários, vale transporte no valor de R$ 100 mensais e manutenção no pagamento de gratificações em caso de afastamento provocado por incidente no exercício da função.

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As prisões também mostram a disposição do governo do Rio em não negociar com os grevistas. Na Bahia, os primeiros grevistas só foram detidos depois de uma semana de paralisação. Líder do movimento no Rio, o cabo bombeiro Benevenuto Da­­ciolo foi preso dois dias antes de a greve ser decretada.

Bombeiros

O Corpo de Bombeiros anunciou a prisão administrativa de 123 guarda-vidas por falta ao serviço e abriu processo disciplinar. Um inquérito no Conselho de Disci­­plina da corporação pode resultar na expulsão de 18 lideranças, entre elas o cabo Benevenuto.

Dos 11 líderes grevistas da corporação que tiveram as prisões decretadas pela Justiça da Audi­­toria Militar, nove foram detidos ontem, entre eles três oficiais da reserva. Um processo disciplinar foi aberto para julgar 14 PMs que poderão ser expulsos. A Justiça determinou sigilo no inquérito sobre os líderes do movimento na PM. Em Volta Redonda, 129 policiais foram indiciados por crime militar.

Planalto tem 20 mil homens de prontidão

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O governo federal tem cerca de 20 mil homens de prontidão para apoiar qualquer estado que recorra à União para garantir a lei e a ordem pública devido à onda de greves de policiais militares. A cargo dos ministérios da Defesa e da Justiça, os planos de contingência incluem efetivos das Forças Armadas, Polícia Federal e Força Nacional de Se­­gu­­­­­rança Pública, que tem uma re­­serva de 10 mil policiais de elite recrutados nos estados para pron­­­­to emprego.

"Se necessário, temos condições de mandar tropas não só ao Rio, mas para qualquer estado que necessite de reforço", informou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Cerca de 4 mil homens estão na Bahia, primeiro estado atingido pela onda de greves planejada por policiais de vários estados para forçar o Congresso a aprovar a PEC 300, a proposta de emenda constitucional que cria o piso nacional da categoria.

Cardozo disse que, por enquanto, não há necessidade de mandar reforços ao Rio, onde a situação a seu ver "é muito tranquila" e o governador Sérgio Cabral não viu necessidade de pedir ajuda por enquanto. Ele garantiu que todas as medidas foram adotadas para assegurar a tranquilidade de foliões e turistas durante o período carnavalesco. "Não tenho a menor dúvida de que o carnaval transcorrerá em absoluta normalidade na Bahia, no Rio e em todos os estados."

Choque

O Palácio do Planalto avalia que o tratamento de choque dado aos grevistas na Bahia, numa articulação federal com o governo Jaques Wagner (PT), serviu de alerta aos demais estados onde associações de cabos e praças militares armaram uma onda de paralisações e motins.

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Além de endurecer na negociação salarial, o governo pediu a prisão dos cabeças do movimento e fechou questão em não conceder anistia aos que cometeram excessos. "A posição do governo é clara: somos contrários a qualquer forma de anistia, não é possível que pessoas que tenham praticado crimes, situações de vandalismo, sejam simplesmente ignoradas", observou o ministro.

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Interatividade

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