Três dias após o hospital da Universidade Estadual de Londrina (UEL) anunciar a suspensão de novos atendimentos na ala de queimados por falta de funcionários e dificuldades financeiras, o secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), João Carlos Gomes, informou que 255 servidores técnico-administrativos serão contratados para suprir parte da deficiência de mão de obra nesse hospital e também nas instituições de saúde mantidas pelas universidades estaduais de Maringá (UEM) e do Oeste do Paraná (Unioeste) .
O anúncio, contudo, não tranquiliza gestores do hospital e da universidade, que irão se reunir nesta quarta-feira com parlamentares da Comissão de Seguridade Social da Câmara de Vereadores de Londrina e com o secretário da Seti para discutir o problema. Com a interrupção nas internações do Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) de Londrina, o Hospital Evangélico, de Curitiba, passa a ser a única referência do Paraná nesse tipo de atendimento. Mas, a instituição da capital já afirmou que dificilmente conseguirá absorver sozinho toda a demanda, pois já opera acima da capacidade.
As novas contratações, de acordo com Gomes, devem ser feitas até semana que vem. O HU de Maringá deve receber 138 servidores. O hospital vinculado à Unioeste, de Cascavel, vai contar com outros 23 servidores, e o HU de Londrina pode receber mais 94 funcionários.
Os servidores já foram aprovados em concurso público e aguardavam apenas a nomeação, que segundo o secretário, será feita até a semana que vem. “O governador Beto Richa [PSDB] já autorizou as contratações. Em um quadro de dificuldade [econômica] vamos priorizar os hospitais”, afirmou o secretário.
Contratações não trazem segurança
Segundo a superintendência do HU da UEL, a instituição já tem um déficit de 344 servidores, levando em conta também outros serviços vinculados à instituição, como o Hospital de Clínicas e o Hemocentro. Todos os meses, o hospital perde cerca de oito servidores que se aposentam, morrem ou pedem demissão.
Por isso, o hospital acredita que não será possível garantir que as novas contratações prometidas evitem o fechamento do CTQ. A perda constante de mão de obra e a demora do governo na recomposição dos quadros pode ameaçar a continuidade do serviço. “Nós precisamos pensar na segurança do paciente. Eu não posso simplesmente abrir a unidade sem a garantia de que não vai faltar servidor para dar assistência [ao paciente] lá na frente, teremos de avaliar”, pontua a superintendente do HU da UEL Elizabeth Ursi.
“O SUS que deu certo”
Apesar de não receber mais pacientes, o CTQ estava operando com a máxima capacidade de atendimento nesta segunda-feira(18). Ao todo, 16 pacientes estavam internados, sendo seis deles em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
A reportagem da Gazeta do Povo teve acesso ao local foi recebida por uma servidora que definiu o centro especializado como “o SUS que deu certo”.
A qualidade do atendimento se confirma na fala dos pacientes. O agricultor João Paulo Sebastião de Almeida teve queimaduras de 3º grau nas duas pernas depois de um acidente de trânsito. Ele é de Guaraci-PR - a 77 quilômetros de Londrina – e está internado no CTQ desde o último domingo (17). “As enfermeiras nos tratam bem, tem psicólogo, tem professor, tem tudo. Aqui praticamente é prefeito”, atesta.
O mecânico de manutenção Marcelo Pereira da Silva sofreu um acidente de trabalho com ácido sulfúrico, queimou o peito, abdômen e o rosto. Ele também é atendido na enfermaria do CTQ. “Se fechar aqui vai ficar difícil porque só aqui podemos fazer o tratamento corretamente”, afirma.
Nesta segunda, a Central de Regulação de Leitos da Macro Regional Norte – responsável pela transferência de pacientes ao HU - não registrava filas por atendimento especializado no Centro de Tratamento de Queimados. “Essa demanda é muito sazonal. Em alguns períodos, temos vários grandes queimados, em outros menos”, explicou o Coordenador da Central de Regulação Leandro Morales.