Cascavel - O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) vai anunciar nas próximas semanas um programa para estimular os pequenos produtores rurais a comprar tratores de baixa potência. O projeto, já batizado de "Trator Popular", envolve os governos federais e estaduais e as indústrias de máquinas agrícolas. A exemplo do que já ocorre com os carros de passeio, os tratores populares serão uma espécie de segmento de entrada da categoria, com potência na faixa dos 50 cavalos (cv), preço de até R$ 50 mil e poucos acessórios.
Ao visitar o Show Rural Coopavel, em Cascavel (Oeste do Estado), nesta quinta-feira pela manhã, o paranaense Valter Bianchini, secretário de Agricultura Familiar do MDA, informou que o governo já isentou esse tipo de máquina do pagamento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) --cuja alíquota superava 10%-- e elevou, de R$ 36 mil para R$ 54 mil, o teto de financiamento por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
O governo estuda a isenção do PIS/Cofins e negocia com os estados a redução ou até isenção do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). No próximo dia 21, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) apresentará um plano de simplificação e barateamento das máquinas. O programa ajudará as fábricas a recuperar as vendas, que despencaram no ano passado, por causa da crise da agricultura. A venda de tratores caiu 38,4% e a de colheitadeiras 76,2%, comparando-se com o ano anterior.
Com o governo paranaense, as negociações estão adiantadas. Segundo o vice-governador e secretário de Agricultura, Orlando Pessuti, o estado isentará de ICMS o trator popular e utilizará o programa Fundo de Aval como garantia dos empréstimos tomados pelo agricultor para comprá-lo. Ele previu que o preço do trator nessa faixa poderá cair para até R$ 35 mil. Há dois anos, o governo estadual criou um projeto semelhante, chamado Trator Solidário, que não chegou a ser implantado.
"A mecanização é um item fundamental para a agricultura familiar", disse Bianchini. O último Censo Agropecuário, realizado há uma década, apontou que 40% dos 800 mil tratores então em atividade estavam em propriedades abaixo de 50 hectares. No Paraná, esse padrão de área representa mais de 90% das propriedades rurais. Nos últimos dois anos, com o baque sofrido pelos grandes produtores de grãos, as quatro grandes indústrias de máquinas instaladas no Brasil passaram a dar mais atenção à agricultura familiar. Mas o valor das máquinas ainda supera o planejado para o trator popular. No Show Rural, a New Holland, cuja fábrica brasileira fica em Curitiba, está apresentando o modelo TT55, um trator de 54 cv, a um preço médio de R$ 60 mil. O produto é importado da fábrica do grupo na Índia.
A Massey Ferguson, líder no mercado brasileiro de tratores, com 33% de participação em 2005, lançou no evento o trator 250XE, apelidado de "Brasileirinho". Com 50 cv, o modelo custa entre R$ 48 mil e R$ 58 mil. "Ele pode ser usado em qualquer atividade na lavoura e até tocar uma ordenhadeira", afirma Fábio Piltcher, diretor de Marketing da marca, que tem duas fábricas no Rio Grande do Sul. Piltcher diz que ainda é cedo para afirmar se o plano do governo conseguirá, efetivamente, baixar os preços. "O fundamental é o acesso ao crédito e saber o prazo de pagamento e a taxa de juros."