Professores em greve marcharam pelo Centro de Curitiba ontem para pedir a aplicação imediata do plano de carreira| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Manifestação marcou o dia de paralisação

Bruna Komarchesqui e Kelli Kadanus

A mobilização dos professores e pedagogos de Curitiba ontem começou na parte da manhã, com uma reunião da Praça Eufrásio Corrêa, no Centro. Logo em seguida, diretores do Sismmac – sindicato que representa os servidores do magistério municipal – foram recebidos na Câmara de Vereadores para falar sobre as reivindicações da categoria. De acordo com a assessoria de imprensa do sindicato, a fala em plenário durou cerca de 30 minutos, e os vereadores afirmaram estarem abertos às exigências dos professores.

Depois de participarem de parte da sessão na Câmara Municipal, professores passaram pelas avenidas Marechal Floriano Peixoto e Marechal Deodoro, pela Praça Tiradentes e seguiram pela Avenida Cândido de Abreu. A caminhada terminou na Praça Nossa Senhora de Salete.

Às 14 horas, representantes da categoria foram recebidos na prefeitura pelo secretário de Governo, Ricardo Mac Donald Ghisi, pela secretária de Educação, Roberlayne Robalo, e pela secretária de Recursos Humanos, Meroujy Giacomassi Cavet. Além de pedir a redução do prazo de implantação do plano de carreira, o sindicato reivindicou mudanças nos critérios de crescimento do professor, assunto que não teria avançado nos grupos de trabalho. "As sugestões dos professores foram debatidas, mas, se quiserem, podemos retirar o plano da Câmara ou analisar conforme o processo for andando", sugeriu Mac Donald.

"Não há vontade de suspensão, pelo contrário, queremos agilizar a aprovação", respondeu o vice-presidente do Sismmac, Rafael Furtado, criando um clima de tensão, ao recordar a demora na implantação da hora-atividade do professor. "Está sendo implantada, somos pioneiros", afirmou Roberlayne. "A senhora está sendo leviana, secretária. Há muitas experiências no Brasil, não somos os primeiros", alfinetou, ao que ela se defendeu: "não sou leviana, tenho dados". Sem acordo na reunião, que durou cerca de 1 hora e meia, a categoria se reuniu em assembleia, no Centro Cívico, e decidiu pela continuidade da greve por tempo indeterminado.

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O primeiro dia da greve dos professores da rede municipal de ensino de Curitiba afetou, pelo menos, 70 mil alunos, segundo cálculo da Secretaria Municipal de Educação. Dos 113 mil estudantes da capital, apenas 42 mil (37%) frequentaram a escola ontem. A paralisação da categoria causou transtornos para mães como a cabeleireira Juliana Rodrigues de Paula dos Santos, 34 anos. Moradora do Sítio Cercado, ela deixou de abrir o salão que mantém no Campo Comprido para poder cuidar da filha Maria Nicolly, de 8 anos. "Veio um bilhete avisando que não teria aula, mas não tenho com quem deixar. Amanhã [hoje], estou pensando em levá-la comigo, para não ter mais prejuízo", conta.

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INFOGRÁFICO: Confira o que muda com o novo plano de carreira

Sem acordo entre prefeitura e Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba (Sismmac), os professores entram, hoje, no segundo dia de greve. Ao meio dia, a categoria se reúne com vereadores, na Câmara, para tentar achar uma solução para a implementação do novo plano de carreira dos professores em um período menor do que o de 24 meses, proposto pelo município. A reivindicação inicial do Sismmac era a aplicação integral do plano até o fim deste ano.

Sem condições

Durante reunião com o sindicato, na tarde de ontem, o secretário municipal de Governo, Ricardo Mac Donald Ghisi, afirmou que a prefeitura não tem condições "financeiras e físicas" de reduzir o prazo. "Prefiro ser sincero a passar um cenário que não é verdadeiro. São 12 mil professores, que demandam uma análise matrícula a matrícula. Não temos e não teremos condições de atender esse item da pauta". A partir da aprovação do plano de carreira, que tramita no Legislativo municipal desde julho, a prefeitura deve começar a aplicá-lo em até 90 dias, prazo necessário para a avaliação das perdas salariais caso a caso. A implantação total deve ocorrer em quatro etapas de ajustes porcentuais, divididas em dois anos.

O vice-presidente do Sismmac, Rafael Furtado, defende um aumento do orçamento da educação como forma de solucionar o impasse. "É uma questão de prioridade. Mesmo com o 7 a 1, gastaram uma fortuna com essa Copa. Dinheiro tem. O orçamento do município aumenta ano a ano, não existe tanto recurso amarrado que não possa ser transferido. Dobraram as verbas para obras, não vemos esse esforço na educação", critica.

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Segundo Mac Donald, o impacto com a implantação do plano de carreira dos professores – que proporcionará reajustes de 11,58% a 56,21% – deve chegar a R$ 90 milhões. "A prefeitura tem limitações, não há como superar. Se o sindicato quiser vir com uma assessoria contábil esmiuçar as contas e tentar achar recursos, fique à vontade. Se tiver, maravilha. Nós procuramos e não achamos", desafia.

Balanço da Secretaria Municipal de Educação mostra que 63% dos estudantes da rede pública da capital não tiveram aula ontem, com 5 mil professores (50%) fora de sala. O município não soube informar o número de escolas que não abriram as portas com a greve. Segundo o Sismmac, 70% delas ficaram sem atividade. Para esta terça, a orientação é que os pais levem as crianças normalmente às unidades escolares. "Vamos anotar o nome dos professores que faltarem e descontar nos vencimentos", afirmou o secretário Ricardo Mac Donald.

Comunicado

Na sexta-feira, pais e responsáveis por alunos de escolas municipais receberam um comunicado por escrito informando que uma greve começaria ontem, por tempo indeterminado. "O bilhete dizia que o prefeito prometeu que a educação seria prioridade, mas não saiu do papel", conta a dona de casa Jane Sena de Moraes, 51 anos. Estudante do 5º ano na Escola Municipal Maria Clara Brandão Tesseroli, a neta dela, Dorothy Beatriz Guerra, 11 anos, não teve aula ontem. "Ainda não fui me informar se volta amanhã [hoje]. Disseram que era por tempo indeterminado."

Colaborou Angieli Maros

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