A greve dos professores da rede estadual de ensino já completou cinco dias letivos. Isso significa 2,5% dos 200 dias de aula obrigatórios por lei. Essa semana ausente das salas de aula já implica em reposição desses dias no futuro. O que não se sabe é se haverá mais dias a serem repostos. A greve por tempo indeterminado deve continuar após o carnaval. Na próxima quinta-feira, dia em que seriam retomadas as atividades depois do feriadão, a expectativa é de mais um dia sem aula.
Mobilizada, a categoria não dá sinais de que irá arrefecer a paralisação e planeja manter o acampamento no Centro Cívico durante o feriado. Por outro lado, o governo do estado não demonstra abertura para dialogar com os professores e funcionários.
A crise na rede de ensino se arrasta há pelo duas semanas. A gota d'água, que desencadeou a greve, foi o envio do "pacotaço" do governador Beto Richa (PSDB) à Assembleia Legislativa, mas a paralisação já estava prevista, segundo os professores.
O projeto de lei previa a extinção dos quinquênios, anuênio, mudanças no Programa Desenvolvimento Educacional (PDE), nos mecanismos de promoções e progressões e torna mais difícil a retirada de licenças (que passam a ser aprovadas diretamente pelo secretário de Educação). A medida também estabelecia cortes no vale-transporte e muda as regras para a previdência dos servidores.
Segundo a APP-sindicato, mesmo com a retirada do "pacotaço" de pauta, ainda motivam a continuação da greve o corte de 10 mil funcionários; superlotação nas salas de aula, em razão do fechamento de 2.400 turmas; o calote em parcelas do ano passado no fundo destinado à manutenção das escolas e compra de materiais; e o atraso no pagamento do terço de férias dos docentes e da rescisão dos 29 mil professores temporários que trabalharam na rede no ano passado. Além disso, eles pedem a reabertura dos projetos que funcionavam nas escolas no contraturno e a retomada da contratação de funcionários de escola, diretores, pedagogos e professores.
Panorama
De 2014 para 2015, houve redução no número de matrículas e no quadro de pessoal. A quantidade de estudantes matriculados caiu 4,7%: de 1,019 milhão no ano passado para 971,3 mil neste ano. Ao mesmo tempo, o governo estadual decidiu reduzir o número de turmas (de 38.200 para 35.918), aumentando a média de alunos por turma (de 26,68 para 27,04). Como um efeito cascata, isso afetou o número de profissionais.
O governo do estado afirma que nomeou 4.503 professores aprovados em concurso, mas o número de funcionários da rede caiu. Em 2014, eram 80.608 professores efetivos e temporários. Para este ano, são 65 mil e mais 10 mil à disposição da rede. Em relação aos funcionários, houve redução de 33.423 para 32.847, incluindo temporários e efetivos.
Apesar do quadro, os profissionais não concordam com as mudanças. Para eles, as escolas não têm condições de abrir com tantos funcionários a menos. Além disso, eles questionam a maneira como turmas e turnos foram encerrados e como escolas inteiras foram fechadas.
Negociação
O governo do Paraná e a APP abriram diálogo oficial pela primeira vez após a mobilização na Alep e a retirada do "pacotaço". Os dois lados confirmaram uma reunião para próxima quinta-feira, após o feriado de carnaval, às 14h30, no Palácio Iguaçu.
Retomada
Aulas da rede municipal de Curitiba voltam após carnaval
Os 140 mil alunos das 184 escolas municipais de Curitiba e dos 199 Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) voltarão às aulas na quinta-feira. Mas os professores já estão trabalhando desde a semana passada. Para preparar o ano letivo, que será encerrado em 18 de dezembro, os professores e funcionários tiveram esse período sem alunos para organizar a escola e atualizar os conteúdos.
Os professores e equipes pedagógicas trabalharam no planejamento do ano e de início das atividades de formação continuada para os 18,8 mil profissionais de educação. Essa capacitação foi dividida em duas partes: encontro para palestras com especialistas e expoentes em educação e o debate entre os profissionais nas unidades, aprofundando os estudos.
Aos deputados
Os 34 deputados que aprovaram a votação do 'pacotaço' do governo em uma comissão geral, o chamado 'tratoraço', vão receber cartas de professores com explicações e a pauta da categoria.